Hélio, tenho a mais profunda admiração por Dom Henrique, a Escola de Sagres e a invenção das caravelas portuguesas que devassaram o mundo há mais de 5 séculos. Paralelamente, apesar de estagnadas, tenho o mais profundo respeito pelas ciências humanas, em que avulta a filosofia.

Quando a ciência se espiritualizar mais um pouco, e a espiritualidade deixar de lado seus dogmas de fé para abraçar o desconhecido com humildade, então talvez aí tenhamos a resposta real sobre esse mistério - afinal em que momento a alma entra de fato no corpo ? Na concepção, na formação do sistema nervoso do feto, na formação final do cérebro, ou só no nascimento ? Será uma mesma regra para todos, ou varia em cada caso ? A verdade é que não sabemos. O autoconhecimento contínuo trará a resposta.

Mutatis mutandi, é com vistas à eternização dos lucros que se busca a qualidade total (perfeição), nas relações econômicas e sociais. Na razão secular, faz sentido justificar o aborto tendo em vista que o ser não irá se desenvolver a contento, podendo existir de forma vegetativa. Mas na razão individual, principalmente religiosa, pode ser visto como forma de se paciência, que lembra a disciplina racional, base a existência humana. Mesmo a razão secular, busca de progresso científico médico.

O diagnóstico de microcefalia em uma gestante acometida pelo Zika vírus geralmente é realizado no terceiro trimestre da gestação. O maior risco de desenvolvimento da microcefalia é quando a contaminação acontece no primeiro trimestre. Portanto o estimulo ao aborto só aumenta a ansiedade e o desespero das gestantes com Zika vírus que ficariam pelo menos 3 meses com a incerteza do acometimento ou não do feto. O esclarecimento e acompanhamento ainda são as melhores alternativas.

Na vida orgânica o vemos na seleção natural, que é a busca das espécies de complexidade para garantir e perpetuar sua existência. Na vida inorgânica temos a busca da qualidade total nas organizações sociais e econômicas, que visam uma maximização da produtividade, busca de eternização do modelo produtivo, em vista da lucratividade, que é o indicativo objetivo da perfeição do sistema.

Duas premissas primordiais do essencialismo é a eternidade e perfeição do Ser. A eternidade é algo bem psicológico, uma procura individual de prolongamento da existência. A perfeição é uma decorrência direta do princípio da eternidade, procura-se ser perfeição para se prolongar a existência. O Ser é o Fenômeno da manifestação Divina. Na vida orgânica o vemos na seleção natural, que é a busca das espécies de complexidade para garantir e perpetuar sua existência.

O essencialismo é um fenômeno psicológico, é verdade. É aquela linha tênue nietzchiniana em que o homem caminha, nada sabendo de sua existência, mas querendo existir. É fatal que morreremos, mas desde o feto temos que querer viver. Existe algum hormônio produzido desde então que alavanca todo organismo. Se seguirmos o puro instinto a tendência é de destruição total seja pessoal seja do meio em derredor, o feto procuraria seu auto-aborto.

Hélio do céu. Sua matéria de hoje salva-se pelo primeiro e pelo último parágrafo. O recheio - pavoroso -, só me lembra o desastre ambiental em Mariana; um lixo. Até quando teremos que nos valer da decrepitude do saber tradicional ? Essencialismo ? Filosofia ? Religiosidade ? Quando vamos nos livrar disso ? Foram válidos quando a ciência inexistia, como as desbravadoras caravelas, antes do avanço irrevogável da tecnologia.

Todo intelectual por dever de ofício vira abortista. Tudo tem que ser prático e racional, inclusive o eugenismo. Querem surfar na onda do modernismo, mesmo fazendo acreditar que o embrião não é gente. Esquecem o desastre alemão de 30-45!

“A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos” - Hannah Arendt