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Com relação a zica, há uma grande hipocrisia no ar: impede-se que a mulher aborte em função de uma decisão coletiva. Mas a responsabilidade, o ônus e o sofrimento de cuidar da criança será individual (da própria mãe). Isso sem considerar o sofrimento da própria criança. Se a decisão de permitir o nascimento é coletiva, os cuidados deveriam ser, também, de responsabilidade compartilhada por todos. Ou seja, quem e contra o aborto no caso da zica, deveria "adotar" uma criança nessa condição.
Não sei se concordo com o editorial. Estamos discutindo se o aborto deve ser questão de direito coletivo ou individual. Um plebiscito seria permitir, ou não, passar o direito da esfera coletiva para o individual. Não sei se isso ficaria claro. Outra coisa, não sei se é oportunismo, ou se pode colocar tudo no mesmo balaio: permissão para interromper a gravidez em função do zica, e aborto como direito amplo. São coisas diferentes. Em função da zica, creio que o Supremo pode decidir.
Quanto à descriminalização do aborto, creio que caberia ao Congresso. Não vejo porque de um plebiscito. Aliás, como tudo que é ligado à cultura, pode ser medida paulatina. Primeiro se negocia no Congresso modificação na lei permitindo sob certas condições, e aos poucos, conforme se avança nos costumes, vai se ampliando. Acho difÃcil que se passe essa ideia de maneira ampla. Isso, aliás, seria estratégico. Em tempo: sou favorável a descriminalização.
Se a Folha quer entrar nesse debate que o faça com estatÃsticas decentes, como demonstrou no Estado ontem Fernando Reinach. Nos EUA os casos de microcefalia representam 0,6% dos nascimentos/ano, portanto, no Brasil é impossÃvel termos somente 150 casos. Além disso, como demonstrou Reinach, a maioria vive muito bem. E porque um plebiscito somente sobre microcefalia, porque não colocamos também sindrome de down? Que tal antes cobrarmos o Estado por polÃticas publicas na saúde e saneamento básico?
De maneira humorada Ronald Reagan comentou sobre o aborto: "Eu notei que todo mundo que é a favor do aborto já nasceu." Tema polêmico sobre o qual não existe consenso. Nosso desconhecimento sobre como o cérebro funciona é abissal. Como concluir que uma pessoa que nasce com um cérebro menor não terá chances de se tornar um cidadão produtivo? Quando é sobre nos é aborto; quando é sobre as galinhas é sobre omelete.
Pois é, como saber se uma pessoa que nasce sem neurônios, por exemplo, não ira se tornar um gênio?
Alegam que os nossos 4.000 casos de zika são fruto do bolivarianismo. A festejada neo-liberal Colombia tem 22,5 mil...
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