Existe outro caso comum:a confusão entre mal e mau. Até nesse jornal ele aparece com frequência. Se cancelarmos as regras porque o povo não sabe usá-las, então que se acabe com a gramática e com as leis. Voltemos à barbárie!

Há duas práticas gramaticais na língua portuguesa que são usados apenas para "demonstrar intelectualidade": a crase e o infinitivo pessoal.

A crase é como um delta na matemática. Naquela, é desprezível para um gênio, ao contrário desta.

Não podemos nos deixar levar pela quantidade de pessoas que não sabem usar o acento de crase para aboli-lo. Primeiro, seria necessário saber o nível real de escolaridade de uma pessoa "escolarizada" que vê crase antes de palavras masculinas (coisa mais tosca, impossível). Ter diploma no Brasil é a coisa mais simples do mundo (já ouviram falar de "aprovação automática")? Às vezes a pessoa vai à escola só para merendar. Adorava o Millôr, mas essa foi bola fora!

Algumas pessoas usam substantivos femininos sem o artigo, como portugueses falando "em África" em vez de "na África". Ou baianos mencionando uma música "de Gal" em vez de "da Gal". Nesses casos parece haver uma ambiguidade no uso da crase em "vou à África" ou "dei um presente à Gal". Quem não costuma usar o artigo definido deveria usar a crase?

O desapego às regras é talvez o traço mais marcante do nosso caráter social. Por causa disso não hesitamos em recorrer a argumentos falaciosos como eliminar a crase porque muitos fazem mau uso dela. A revolta contra a crase é reflexo do desejo de que a opinião prevaleça sobre fatos. Como dizia Platão, a opinião é o meio entre o conhecimento e a ignorância.