Ilustríssima > Não há motivo para celebrar os 130 anos da Lei Áurea, diz antropóloga Voltar
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Basta olhar ao redor. A coloração da pele predominante nas atividades mais sacrificadas e pior remuneradas. Na população maltrapilha que circula na cidade procurando comida em latas de lixo. Nos presÃdios, nas moradias mais precárias, negros e mulatos são maioria, proporção invertida quanto mais se sobe na escala social. É como disse o samba-enredo da Mangueira em 1988: Pergunte ao criador, que liberdade é essa, livre do açoite da senzala, preso na miséria da favela.
A persistência da escravidão é visÃvel nas ruas da cidade. Na coloração da pele predominante nas atividades mais sacrificadas, menos qualificadas e pior remuneradas. Ou na crescente população de famintos que circula pelo centro do Rio a vasculhar latas de lixo. Em presÃdios e demais situações de precariedade, afrodescendentes são maioria, proporção que se inverte nas camadas mais favorecidas. "Pergunte ao Criador, que liberdade é essa, livre do açoite da senzala, preso na miséria da favela"...
Enquanto persistir essa noção de que direitos devem ser concedidos, seja por carta régia no Paço Imperial, seja por beija-mão nos gabinetes de BrasÃlia, não haverá solução viável. Direitos devem ser conquistados. Sob a forma de ambição, na luta individual, sob a forma coletiva pela organização de grupos. Jamais houve benefÃcio aos milhares de imigrantes italianos e japoneses, sem letras e paupérrimos vindos para substituir a mão-de-obra escrava. Comiam angu ou arroz apenas. Prosperaram.
Ganhando muito ou pouco, os italianos eram livres e recebiam pelo seu trabalho. Podiam circular livremente pelo paÃs e escolher emprego. Iletrados, mas seus filhos foram incorporados à sociedade brasileira, com direito à escola. A comparação é irresponsável e leviana. Ataca a nós, descendentes daqueles que foram roubados com vileza pelas elites desse paÃs.
Só que esses imigrantes meu caro, não vieram com grilhões em volta de seu pescoço, arrancados de seus lares e famÃlias a força. Muito falta de boa fé sua querer comparar uma coisa com a outra, beira a ca_ na lhi ce.
Assim, a questão não é racial, mas cultural. E a cultura de organização polÃtica e econômica de grupos à margem do desenvolvimento, não deve ser provida por um benfazejo governante ou sultão iluminado, mas por suas próprias lideranças e coletividades.As associações negras de alforria, que atuaram no passado de forma intensa, desapareceram submersas nas boas intenções dos brancos, como boa é a intenção do artigo. Da qual o inferno, como diz o provérbio, se encontra cheio.
Em uma era de revisionismos, o uso de uma balança de dois pratos se impõe. Sob todos os aspectos a escravidão é uma barbárie, cujas marcas profundas não se remove simplesmente lavando a pele ou apagando a História. Por outro lado saiba-se da pressão polÃtica a que o Imperador e a Princesa Isabel estavam submetidos para não por fim à escravidão por sua base de apoio. Sabiam que junto com o fim da escravidão, cairia o Império. Ainda assim o fizeram. Isabel defendia a cessão de terras aos libertos.
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