João Pereira Coutinho > As estrelas e a sarjeta Voltar
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Artigo perfeito como sempre. Estética sempre foi o meu tema e a frase mencionada foi por mim citada em vários artigos acadêmicos. Sem cultura, sem arte, sem beleza não se põe a mesa...
Reconstruir ou não é um falso dilema para os Franceses. A questão básica é que Notre-Dame era mais do que uma estrutura, por sinal não muito atraente. Era o espÃrito da catedral e o que ela significava politicamente e do ponto de vista histórico. Para muitos Franceses, reconstruir o prédio exatamente como ele era seria uma empreitada pouco imaginativa conforme afirmou o Primeiro Ministro E. Philippe. Conforme disse Jeffrey F. Hamburger de Harvard, não existe razão para ter nostalgia de barro.
Luis, acho que o princÃpio é o mesmo da liberdade religiosa. O Estado não pode considerar certas formas de religião mais evoluÃdas que outras (o que ocorria no passado, onde cultos afros eram perseguidos enquanto bispos eram "autoridades eclesiásticas"). Da mesma forma não há porque incentivar orquestras, exposições, ou qualquer tipo de arte por ser considerada superior. Os cidadãos decidem o que querem financiar.
No caso da catedral a maioria das doações vem da iniciativa privada. E não esqueçamos que dentre os tais contribuintes existem gays, negros, profissionais de humanas também. Essa visão rasteira do "homo economicus" é de fato retrógrada.
Concluindo, se nos próximos séculos algumas sedes de igrejas neopentecostais se firmarem como patrimônio arquitetônico de cidades, se o número de fiéis "contribuintes" declinar de tal forma que não seja possÃvel mantê-las, não vejo porque o poder público não poderia ajudar. Da mesma forma, se daqui a muitas gerações o axé e o sertanejo se tornarem clássicos culturais e sua preservação necessitar de espaços e executantes de modo que o autofinanciamento seja impossÃvel, seria o mesmo caso.
Puxa, um liberal!... Olha, certos monumentos religiosos têm ajuda de fundos públicos não por serem de uma religião "mais evoluÃda", mas pelo seu valor cultural e afetivo. A Notre Dame, que não cobra entrada, é um exemplo de patrimônio francês e universal a ser mantido tanto quantas muitas igrejas em Salvador e Ouro Preto. Quanto à ajuda a orquestras, elas são muito caras, não têm como se manter na base de cobrança de ingressos, o que não é o caso de shows de música sertaneja, não é mesmo?
Exatamente, Coutinho. Preciso e cirúrgico. Diz o ditado, perde-se o telhado, mas ganha-se um céu estrelado. Há os que preferem ficar a olhar a sarjeta onde se encontram e nunca olham para as estrelas.
Essa questão foi enfrentada por Jesus quando Judas comentou que o dinheiro relativo ao perfume que havia sido utilizado para perfumar os pés de Jesus devia se destinar aos pobres. Jesus respondeu que "pobres sempre tereis entre vós, a mim, nem sempre tereis" (Jo 12, 4-8), desnudando a estreiteza (e inadequação) da visão utilitarista na compreensão do ser humano. Nem só de pão (coisas úteis) vive o ser humano, mas também de valores espirituais (liberdade, paz, justiça, beleza, poesia).
A comparação é inadequada: o valor da presença do Senhor Jesus na face da Terra supera de longe, muito de longe mesmo, o valor artÃstico da catedral citada, a qual é, inclusive, uma ode à idolatria. il n'y a pas de notre dame: il n'y a qu'un seul Seigneur
Se a contribuição é voluntária como no caso da Notre Dame não vejo problema. Já é controverso o governo arrecadar impostos de gente que prefere ouvir SÃlvio Santos ou o pastor de sua igreja, e destinar o dinheiro para financiar arte ou humanidades.
O que você defende é o nivelamento por baixo... Num paÃs que se preze, a Cultura é fundamental, é o que dá sentido ao seu povo como nação. Há espaço para todo tipo de manifestação cultural, mas algumas necessitam de financiamento público, mesmo que muita gente não se importe e não aproveite: elas estão abertas a todos os interessados.
E quanto teria que ser desmatado de árvores nobres para a reconstrução?
Pois é... Sr. Hernandez. Não são eucaliptos.
São carvalhos nobres centenários.
Já ouviu falar de reflorestamento, do plantio de árvores para corte? Pois é....
ImpossÃvel não pensar na questão abordada no artigo quando a gente sai de um concerto na Sala São Paulo e caà na cracolândia ali do lado. O Coutinho nos dá uma resposta que consola um pouco.
Esse portuga é o melhor articulista da FSP (só o Ponde se equipara a ele). Excelente texto!
Excelente, Coutinho!
Muito bom. Só um tapinha não dói.
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