Ilustríssima > Estupro na literatura pode reforçar intimidação da mulher, diz escritora Voltar
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Comentário semelhante ao da escritora, embora menos articulado, foi feito por uma estudante ao analisar a peça "Leonor de Mendonça", de Gonçalves Dias, texto pioneiro das reivindicações feministas no Brasil (a peça é de 1846). Leonor é morta pelo marido, o duque de Bragança, por ciúmes. É óbvio que o poeta escreveu a peça para protestar contra "a eterna sujeição das mulheres, o eterno domÃnio dos homens". E o diz explicitamente no Prólogo. A aluna confundiu reforço da opressão com seu contrário.
Deve-se distinguir entre o mal na vida real e o mal representado na literatura. Não se trata, em ficção, de "reforçar a intimidação da mulher" e sim de mostrar as coisas assim como ocorrem na vida, sem tentar resolver, na arte, o que de fato permanece irresolvido na vida de sempre. O artista deve mostrar, sem condescendência com o personagem ou com o leitor. Do contrário, terÃamos uma literatura insincera, quando não desonesta. O conforto dos finais felizes fica para os melodramas de tevê.
Não vejo condescendência do narrador. A cena é sentida, por homens e mulheres, como uma cena pesada, decaÃda, terrÃvel. E que haja a sugestão do desejo emergindo em meio ao horror...Bem, isso é literatura. Um de seus temas são as patologias do desejo. Tratar isso como 'condescendência' me parece moralismo estapafúrdio.
A literatura lida com os nossos fantasmas. Não é recomendável para mocinhas indefesas. Para esse público existia uma literatura especÃfica, vendida em banca de revista.
A propósito da Vis Grata, lembrei-me de uma piada clássica sobre diplomatas e damas. Se um diplomata diz sim, ele quer dizer talvez; se disser talvez, quer dizer não. Mas e se o diplomata disser não? Se disser não, ele não é um diplomata. Quando a dama diz não, quer dizer talvez; quando diz talvez, quer dizer sim. Mas e se dizer sim? Se disser sim, ela não é uma dama.
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