Opinião > Lobato: uma discussão infindável, porém necessária Voltar
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Não se deve mudar a obra. É tratar as gerações modernas como retardadas. Fosse assim e Homero e incontáveis clássicos deveriam ser reescritos, sem falar da BÃblia evidentemente.
Não tem que discutir nada. O que ele escreveu tem que respeitar e não mudar uma virgula. Querem mudar a historia do paÃs. Está muito chato isso.
Tudo tem sua época. Quando o li em criança ficava completamente fascinado. Mas lá em casa, como em muitos outros, tinha o quarto de empregada, e a personagem da tia Nastácia era muito real. Hoje talvez pareça ofensivo e racista demais.
Nesse caso, edições crÃticas cuidadosas são essenciais, com notas explicativas, notas de reprovação e até de advertência. Por que não? Todavia, dizer que o Monteiro Lobato se reduz a mero ideólogo do racismo por causa de passagens racistas na obra e em sua vida pessoal é interpretar de maneira rasa. Poder-se-ia mencionar, p. ex., sua devoção incondicional ao Machado de Assis para suspender o primado do racismo em seu pensamento.
Machado de Assis é uma espécie de modelo para Lobato, a saber, como o indivÃduo que supera o atraso por meio da educação e do requinte intelectual. A perspectiva de Lobato é eurocêntrica, sem dúvida, mas por causa de sua crença no processo civilizador. Se quisermos fazer uma crÃtica mais sofisticada, temos que começar daqui.
Em larga medida, Lobato pretende fornecer uma tipologia do brasileiro, com personagens como o Jeca, com os personagens do sÃtio etc. Naquele caldeirão de "atraso", pré-civilizacional, há relações sociais e relações de afeto ambÃguas, como a das crianças com os empregados semi-cativos etc. É preciso termos a inteligência de nos apropriarmos do conteúdo descritivo de uma obra, antes de nos apressarmos com seu policiamento.
Na primeira metade de "América", lembro que Lobato dá uma verdadeira espinafrada no provincianismo do Brasil caipira, inclusive com teses de determinismo geográfico. Lobato usa a figura do Jeca para denunciar um paÃs atrasado e socialmente injusto. Lobato diz que o Jeca (brasileiro) não é assim, mas está assim, e que sua condição pode ser revertida por um projeto educacional.
É... Vamos editar obras primas com um prefácio de como o Estado entende que que devem ser interpretadas. Afinal, a histeria original não colou e os wokes estão decepcionados. Criaremos um ministério do pensamento e do amor como próximo passo? Orwell só errou a data. Cultura e arte são bens universais, de livre aceitação e interpretação. Inaceitável qualquer tipo de regulação.
Não é bem isso. O problema é que algumas obras reforçam um estigma muito pesado. Costuma-se dar um tratamento muito idealizado à s histórias do sÃtio. É como se a Globo caÃsse na própria armadilha do SÃtio, encontrando estratégias de amenizar aquela situação absurda.
“(...)é preta só por fora, e não de nascença”. (Narizinho) Como separar a obra do autor? Como explicar à s crianças que o autor de obra tão imaginativa foi um racista que lamentou a ausência de células da KKK no Brasil; e não satisfeito ainda militou para que tais “associações” chegassem ao paÃs?
Essa frase expressa uma teoria, ou a fala de uma personagem que apresenta uma tipologia? É preciso fazer essa diferença. Se o SÃtio fosse uma celebração de democracia racial, ou um libelo da luta antirracista, ele seria um manifesto e não uma obra de literatura sobre uma determinada sociedade. Ao invés de julgar o autor, poderÃamos nos espantar como o que é dito e como o que é dito ilustra o modo de ser de nossa sociedade.
Vermos corroem tudo. Daà a pretensão de corroer a memória do grande Lobato e a razão está na observação de sua neta quanto a capacidade da obra em incentivar o raciocÃnio das crianças. A cultura capitalista, ao contrário, precisa desestimular o raciocÃnio. Aà está o ensino religioso como materialização desta realidade.
ótimo!
Tenho pena daqueles que não leram Lobato na infância. Tenho mais pena ainda daqueles que criticam o racismo em sua obra. Alguém já viu crÃticas dos americanos à obra de Mark Twain? Já que somos copiadores dos seus defeitos, por que não copiamos suas qualidades?
Concordo com a posição da autora, bisneta de Lobato. Parabéns pela decisão!
Texto sóbrio. Excelente ideia.
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