Ilustríssima > Acusado de racismo, Lobato transformou o Saci no primeiro herói negro para crianças no Brasil Voltar
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Não vamos queimar livro nenhum até porque isso é uma prática que se coaduna com o campo de visão do autor resenhado. O que é preciso mostrar é como este autor mantinha ,sim, estreito laço com os eugenistas brasileiros e do mundo afora.
Que tal queimar Shakespeare? Que tal queimar Heródoto? Que tal queimar Harriet Beecher Stowe, por que seu livro, que muito influenciou o sentimento anti escravidão, representava um negro pacato? Vamos queimar também Sócrates e Aristóteles, por que as ideias e costumes de seu tempo não são iguais às nossas. E vamos aguardar, por que no Futuro, os queimados seremos nós e execrada nossa visão de mundo;
Em seu texto, você comete nada menos que três erros gramaticais no uso do conjuntivo "porque". "Queimar Shakespeare" e "queimar Heródoto" são metonÃmias bastante assustadoras, quando lembramos que Giordano Bruno (1548-1600), queimado vivo pela Inquisição católica, era contemporâneo de Shakespeare (1564-1616). Agora, difÃcil mesmo seria queimar Sócrates que morreu em 399 a. C. e não deixou nenhum livro escrito.
Não basta!
Não pasta ombudsman tende haver autocrÃtica!
Não se pode analisar o passado com os olhos do presente.
Mais malabarismo teórico pra amenizar a pecha de racista de Lobato. Tanto esforço me parece autodefesa.
Tá certo. Vamos queimar os livros do Lobato. E vamos queimá-los em praça pública pra que todos vejam o que fazemos com os livros que não gostamos e/ou não entendemos. Vamos continuar julgando tudo e todos sob nossa ótica, afinal nós e nossa época são as únicas coisas que interessam. Ahhh, como é bom julgar os outros...
Realmente, aprofundamento e nuance, capacidade de apreciar ironia, são eixos fundamentais para qualquer discussão produtiva sobre racismo e sobre as estratégias para sua desconstrução orgânica.
Saci está muito mais pra anti-herói com todos os seus significantes negativos. Talvez um precursor do "pivete" ou "trombadinha". Já Anastácia é a personificação da escrava doméstica, que subsistirá nas cozinhas da classe média branca. O sucesso atribuÃdo aos personagens negros do escritor talvez se deva mesmo ao único público leitor da época, alfabetizado e branco. Assim os filhos da classe média podiam aprender quais eram os papéis mais adequados aos negros na sociedade, malandro e subalterno.
VinÃcius, espero que você não tenha lido o artigo por não gostar do tÃtulo e discordar do seu teor a priori. Agora se você leu, você simplesmente não entendeu absolutamente nada. Aconselho-o a procurar textos mais simples, mais compatÃveis com o seu nÃvel intelectual.
Bem, vamos queimar Lobato junto com a Biblia, Mein Kampft e outros milhões de livros, todos racistas. Depois, passemos para os autores de hoje, e que cor será a fumaça de suas labaredas? Se Lobato copiou ideias estrangeiras para ser racista, os antirracistas de hoje, copiam também ideias estrangeiras pelo mesmo motivo. Normal. E repito, que excomungar autores e suas obras e apagar o passado não apagará a cor de nenhuma pele e nem o racismo e o ódio, seja lá de que cor for.
Quando tentou publicar "O Presidente Negro" nos EUA, expressão máxima do "racismo" lobatiano, ouviu dos editores: "os negros são cidadãos americanos, parte integrante da vida nacional" e promover "seu extermÃnio por meio da sabedoria e habilidade da raça branca" seria endossar uma "divisão violenta". Vê-se que mesmo no inÃcio do século as posições eugenistas de Lobato causavam asco.
Apesar do contorcionismo verbal da autora seu Monteiro Lobato Antirracista tem pés de barro. O "racismo" em Lobato é historicamente caracterizado e melhor seria contextualizá-lo do que negá-lo. Os argumentos de que Lobato construi no Saci um herói negro é pouco crÃvel e publicar um autor negro não o torna um "antirracista". A discussão sobre o "racismo" do escritor nada tem superficial, pois o "racismo" de Lobato era superficial, explÃcito e incômodo.
A não-contextualização histórica muitas vezes pode nos levar a um juÃzo de valor capenga. Se a régua de hoje é antiracista, por certo a favor dela (sem dúvida um avanço civilizatório) os escritos eugênicos serviram para consolidá-la, porque, também, refletiram um mundo a ser modificado. Vide, por exemplo, as posições históricas da Igreja Católica, frequentemente a pedir perdão por seus erros. O importante é que a humanidade se aperceba de que ainda há coisas a superar.
Excelente texto! Lobato foi um importante intelectual,grande escritor e fundamental para o desenvolvimento da Literatura Infantil brasileira. Era racista? Não! Escreveu textos contraditórios e racistas? Sim! Faço um paralelo com o Lula, que foi o melhor presidente do Brasil. Ele é ladrão? Não! Ele foi conivente e contraditório com a corrupção na Petrobras? Sim! Como vai ser reconhecido no Futuro? Como estadista ou corrupto? Os dois! Vai depender do viés polÃtico em que ele for analisado.
Sim! Era racista? Sim!
Gostei bastante do artigo. Sobre o ponto de vista defendido, eu acho que nem sim nem não é um bom ponto de vista. O que cabe entender é que o sim e não, dicotômico, sem meio termo, ajuda a vender jornal. Isso explica porque todo grande jornal, em outra esfera, inclui mais colunistas de esquerda e de direita, do que sujeitos genuinamente ponderados. O equilÃbrio é profundo, mas não vende.
Só para esclarecer: o nem sim nem não NÃO é um bom ponto de vista para vender jornais. Fora desta esfera, é sim.
O trecho citado e analisado é, sim, racista, porque a cor da pele negra é um signo de inferioridade. O fato de Monteiro Lobato e seus livros dialogarem com um conjunto de produções e representações igualmente racistas de "princesas negras" não faz esse trecho menos racista, só mostra que Lobato não era o único autor infantil da época com passagens racistas nas suas obras. Lobato foi um grande escritor, um intelectual potente; no entanto, há trechos racistas nas suas obras e correspondências.
Os escritos lobatianos fizeram parte da minha formação. Mostraram o horror da escravidão (Negrinha), a beleza de uma comunidade democrática (o Sitio do Pica-pau Amarelo), a sabedoria das mulheres (D.Benta e Tia Nastácia), a graça da história e da geografia, a mitologia grega (no Minotauro e Os 12 Trabalhos de Hércules). Enfim, o mais deprimente no atual revisionismo, é fazer parecer que Lobato era um panfletário de tudo de ruim que tem o ser humano, a partir da acusação de racismo.
Não acho racista grande escritor da epoca parabens a folha grande materia ( da epoca e de sempre)
Devo muito a Lobato, lido quando criança e adolescente, minha formação intelectual de esquerda, o amor ao livros, a paixao pelo Brasil. Racista, sem qualquer hipocrisia, somos todos pois não se herda impunimente séculos de escravidão.
Profa. Bignotto, seu texto é muito bem escrito. Obrigado! No entanto, ele não me convence que Lobato não era racista. É assim que o racismo nesta sociedade brasileira se torna natural e não podemos ver que ele é, sim, naturalizado pelos "enunciados" de Lobato que se tornam "enunciações"(ambas expressões usadas do ponto de vista Bakhtniano) nas cabeças das crianças de sua época. Sou branco! Preciso ouvir a opinião de um negro sobre tudo isso! Nunca fui discriminado pela cor de minha pele!
Marcos, respeito a posição da crÃtica literária, mas como meu trabalho como Linguista Aplicado é o uso social da linguagem, estou partindo de dados concretos: os enunciados de Monteiro Lobato no contexto de enunciação de seus livros: são racistas e o efeito é o preto depreciado em relação ao branco.
Lobato não era pouco racista, era racista e ponto! Existiam escritores na época não racistas também. Agora meio isso, meio aquilo continua a ser justificativa saudosista.
Texto muito superior ao da profa. Ana Brandão, que falou mais de si mesma do que da questão que envolve o escritor e sua obra.
Excelente
Professora, parabéns pelo texto. Criou-se um Ãmpeto em construir textos adjetivados, com a profundidade de um pires, sem as analisar obras e contextos no caso de Lobato e outros. É muito mais fácil criar inimigos unidimensionais e tentar algum destaque por isso. O trabalho cientÃfico tem método e não toma conclusões gerais de alguém por uma carta, fala ou um tweet.
Só existe meritocracia com um mÃnimo de igualdade de condições. A gente precisa aceitar que o Brasil tem desigualdades profundas. As cotas são um importante instrumento, embora limitado, de corrigir distorções.
O artigo, mesmo muito bem escrito e informativo, cria confusão. Ainda que ele tenha algum êxito "salvar" a obra de Lobato da acusação de panfletário, ele não salva ela da sua inadequação - nossas cantigas quase todas se tornaram inadequadas também. Mas mais do que isso, as cartas de Monteiro Lobato são solenemente ignoradas. O fato de ele ser menos racista que os demais de sua época não o redime. Havia informação e quem se somou à eugenia àquela época estava muito errado e sem desculpas.
E por fim, caro Fernando, nossa geração vai ter que responder sim pelo que fez com a natureza... a visita crÃtica ao passado é essencial para se aprender com os erros. Bentham defendia a igualdade racial como base do pensamento liberal ainda no século 18... Lobato era um homem culto, com acesso à informação, devendo ser julgado nesses termos.
Caro Fernando, Em primeiro lugar, eu não defendo apagar a história ou reescrevê-la. Lobato é importante, sua obra é importante e não deve ser alterada. Mas o debate sobre o que ele representa, o que fez e se seus livros infantis são apropriados é completamente natural. Em segundo lugar, analisando o Lobato em seu tempo, ele se somou ao que havia de pior na época: os defensores da eugenia. Não há desculpas para isso. Falar de racismo dói em todos, mas fugir não resolve...
Devemos apagar a historia toda praticamente entao? E se em 50 anos, nossos descendentes olharem para trás, na maneira como tratamos o meio ambiente, os animais e até tópicos que nem percebemos e nos cancelarem? Deve-se julgar cada pessoa dentro de um contexto e época.. É inaceitável proferir qualquer uma desssas ideias hoje em dia.. Essa anacronia cansa..
Isso não modifica a importância de Lobato como autor, tampouco deve apagar as nuances de sua obra e comportamento. Mas da mesma forma, tais nuances não podem silenciar a análise de sua obra e sua conduta, tampouco recomendam seus livros infantis que envelheceram mal. Neste ponto a autora tem razão: é problema mais do tempo do que do Lobato, mas isso não muda o diagnóstico. As cartas dele para Renato Kehl, médico eugenista, são inescapáveis e irratratáveis.
Quem acusou Monteiro Lobato de racismo tem pouca cultura e quis surfar na onda do anti racismo. É uma pena que se use tema tão importante para a humildade para se promover.
Como são levianos os ignorantes!
Caro Bruno, obrigado por sua opinião.
Caro José, o Monteiro trocou inúmeras cartas com Renato Kehl defendendo o médico e suas bandeiras. Não há ponto que modifique o conteúdo das cartas porque jamais houve declaração do Monteiro por qualquer meio que contrariasse o conteúdo delas. Assim, a acusação contra o Monteiro conta com provas contundentes, as mesmas que tornam a tua declaração leviana. Por fim, há de se separar obra e autor, bem como valor da obra e adequação para os dias de hoje. Heidegger que o diga.
Caro Bruno, a acusação de pouca cultura é bem mais leve do que a de racismo contra um Ãcone da literatura infantil e do folclore brasileiro. Assim como há um ponto de exclamação, um ponto de interrogação e um ponto final houvesse um ponto de ironia essa discussão não estaria acontecendo.
Caro José, a autora não nega o racismo de Lobato. Ela tenta demonstrar que para sua época ele era pouco racista, que tal postura teria mudado ao longo de sua vida e que a sua obra permite outras interpretações. Antes de acusar os outros de pouca cultura, seria bom ler sobre as correspondências de Lobato para Renato Kehl, nas quais o primeiro defende a eugenia e a "poda" social, da qual o segundo era arauto, sendo proponente de esterilização forçada pelo Estado.
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