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Quanta baboseira! As pessoas que estão fazendo essa celeuma não leram o poema pra saber do que se trata, ou se leram, não entenderam nada. Tradução para essa gente não adianta. Tem que desenhar.
Que coisa absurda! Desde quando a etnia do tradutor poderia definir a qualidade da tradução? Estão caindo no exagero, uma pena.
Se as coisas continuarem nessa toada, será necessário contratar tradutores do oriente médio para traduzir o velho e o novo testamento.
Uma coisa é certa. Se todo autor tivesse esse cuidado com tradutores; buscando perfis adequados para o trabalho, não terÃamos essas muitas traduções que são 'traições'. Enfim, já que o poema é sobre afirmação identitária, mais do que normal a autora querer um perfil de tradutor que saiba do que está falando, viva na pele o que está traduzindo. E os que estão reclamando é porque estão perdendo um lugar que nunca foi disputado, certa reserva de um mercado muito restrito e privilegiado.
O problema desse exagero é que se um branco recusar que um negro que traduza uma obra sua usando o mesmo argumento vai ser chamado de racista... ja imaginou o absurdo de se negar a um negro conduzir uma sinfônica que toque uma música medieval pq ele "não teria a vivência" histórica dos fatos que influenciaram a criação daquela música!? Absurdo não achas?
Quanta estupidez!! Então daqui para frente se um negro tiver que ser operado, temos que conseguir um cirurgião negro também??? Desde quando a cor da pele define alguma coisa?? Isso é um racismo estupido!!
Não tem coerência na sua comparação. Uma operação é uma questão de saúde, não é um manifesto poético e polÃtico sobre a questão do negro numa sociedade clivada racialmente. Afinal, um autor negro tem direito de escolher um tradutor com lugar de fala semelhante. Estamos falando de um mercado em que reina privilégios de profissionais branco e estou achando lindo esse debate todo quebrando essa reserva de mercado de pessoas privilegiadas. No fim, sem pessoas como Gorman, estruturas não se abalam.
Agora que o identitarismo chegou à tradução, qual o próximo território a ser ocupado? Com certeza a crÃtica literária: crÃticos brancos serão proibidos de analisar obras de não brancos. Depois a própria leitura: brancos não lerão não brancos, e vice-versa. Estou repensando certas escolhas minhas, e talvez deixe de comer sushi, beber arak e ouvir reggae; banho turco não frequentarei e o livro de Gorman não lerei...
À parte as ironias, tal comportamento, que poderÃamos chamar quaresmismo, foi descrito por Lima Barreto em sua obra mais conhecida e menos compreendida: o major Quaresma achava que no Brasil não deveriam ser cultivadas plantas de outros paÃses, o único instrumento musical a ser tocado era o violão, e só se deveriam tocar e cantar modinhas...
se tivesse chegado a mais tempo, talvez tivéssemos menos traduções-traições. LOL
Isso é tolo e precisa ser parar agora, antes que criemos novos apartheids. Identitarismo é uma doença que realiza o pensamento neoliberal.
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