O Sr. Flores Castro crê que, escrevendo para brasileiros, possa escamotear o que aconteceu na história recente da Bolívia. Desde que ignorou solenemente o golpe de estado político/policial no país vizinho, todo o restante de sua arenga se afasta da realidade.

o argumento final de que (reformulando) "quando a sociedade participa do Estado, a democracia fica ameaçada, pois o Estado tem que se impor à sociedade", só teria lógica numa teoria sobre democracia bem heterodoxa.... Pode citar frase do intelectual que quiser, a incoerência é gritante.

Eu não li tudo, mas a frase "Na Bolívia, os protestos urbanos maciços causados pela insistência do presidente Evo Morales em permanecer no poder terminaram com sua renúncia e posterior saída para o México" - chama a atenção pela desconexão com a realidade do golpe de estado ocorrido na Bolívia. Evo havia feito mais de 40% no primeiro turno da eleição. Te imagens dele sendo caçado (com 'ç' mesmo), e do seu opositor de extrema-direta tomando o palácio com arma numa mão e bíblia na outra.

Um golpe de estado policial militar na Bolívia era explosão popular? Tem dó

Esse poder de veto dos movimentos sociais aparece mais, é mais ruidosa. O mais comum é que setores da classe alta atuem dessa forma. A recente tentativa de mexer na legislação do IR foi mutilada e a seguir sepultada pela ação de profissionais liberais como médicos e advogados, além de grandes empresas. A prorrogação sem fim das desonerações (temporárias) da Dilma tem inclusive apoio dos meios de comunicação, que se beneficiam dela.

Quanta asneira, ou seja, para o articulista, os sindicatos deviam ser pelegos, isso é que seria a vitória da democracia.

Dito de outro modo, o governo boliviano foi capturado pelos sindicatos e organizações dos movimentos sociais. Ser situação e oposição ao mesmo tempo se constitui numa anomalia institucional que só o Executivo (Arce) pode resolver afastando os que têm lealdade duvidosa ou ambígua.

O que acontece na Bolívia é o mais próximo de uma democracia participativa. A sociedade civil organizada independe de seus representantes para exigir políticas públicas diretamente aos governantes. Mas muito incipiente ainda.