Opinião > Sobre 'Com Açúcar, com Afeto' Voltar
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Acabam cancelando Noel Rosa, Nelson Cavaquinho, Cartola e Vinicius de Moraes. O que falar de "Esse Cara", composta por Caetano Veloso para Maria Betânia em interpretação inenarrável! A estupidez é matéria prima que não sofre de escassez. De tão abundante não tem preço. O consumo é amplo e massificado. Stanislaw Ponte Preta faz falta. A bobageira generalizada dá uma nova pauta ao FEBEAPà - FESTIVAL DE BESTEIRAS QUE ASSOLAM O PAÃS.
Desse jeito vão sobrar poucos sambas antigos. Não se combate uma ditadura com outra ditadura.
Sou contra qualquer censura, e também a autocensura. No entanto, considerando o Estado de Exceção em que se encontra o pensamento, o psicológico e a cultura nacional, eu censuro o Chico, e determino e decreto que ele cante a canção "Com Açúcar e com Afeto". Eu escrevi ponto. Claro!... Quando ele bem entender.
Tenho ouvido a Nara ao violão com Chico em segundo plano todos os dias, desde o inÃcio desta autocensura. E me emociono todas as vezes, em razão do perdão, algo explÃcito e tão raro nos dias atuais. Obrigado Renato Terra, com sem açúcar, sem stevia, só não vou votar no estrupÃcio.
Acho que ele só quis encerrar o assunto. Colocar um ponto final. Não dar ibope. E ele está mais do que certo. Teve um tempo que artistas (homens e mulheres) que representavam papéis cruéis nas novelas ou filmes (Odeth Roitman, exemplo), não podiam ir aos supermercados que corriam o risco de serem linchadas(os) pelo público. A ignorância não mudou muito, só mudaram os métodos. Só levantando uma dúvida: Acho que Geni era um(a) travesti. Não sei se estou enganado.
Não me lembro a respeito especificamente da Geni, mas a história dela é baseada no conto Bola de Sebo, de Guy de Maupassant, que critica o mesmo tipo de hipocrisia.
Ótimos argumentos. Belo texto. Pena terem chamado alguém tão razo e desarticulado como Tamiris Coutunho para comtrapô-lo
Não conhecia e fui ver a música, já que não acreditei no nome que ela deu à sua " composição". E por incrÃvel que pareça, aquilo foi escrito e " cantado ".
Cabe lembrar que foi uma mulher - a saudosa Nara Leão - que pediu ao Chico que compusesse uma canção sobre a situação submissa das mulheres , que resultou nessa obra prima.
Chico é o dono da música? Então faz o que bem entender com ela, inclusive parar de cantar a mesma. Se faz isso porque se " envergonha " da letra e por convicção, é uma coisa. Agora, se for para ficar bem na foto por causa do patrulhamento, aà é bem diferente. Da minha parte, penso que este cancelamento não deveria jamais ocorrer. Quando foi escrita refletia seu tempo, apenas isso. Ninguém muda nada apagando obras já construÃdas. O tempo passou e as coisas mudaram, apenas isso.
Exato, ele canta o que quiser. A questão está na motivação. Se é por realmente acreditar que é machista, então vai ter que deixar de cantar quase tudo o que compôs. Por isso a minha crÃtica: ele não está sendo sincero, é para ficar bem com a patrulha sim.
Marisa, perfeito. Não dá pra apagar a história. Isso me lembra o protagonista do 1984 que trabalhava mudando as notÃcias do passado. Pq sem confrontar o lado negativo do passado não se evolui e ficamos sem referências. Podemos usar essas obras para refletir o contexto da época e o que ainda existe disso no mundo e no cotidiano, fazer um balanço e usar como aprendizado.
Aquele que faz o cancelamento do próprio trabalho é um dos mesmos que clamam da censura (inexistente). Há algo de errado com esses cérebros.
a canção tá gravada e pode ser ouvida sempre, até na voz do Chico (tem melhores). ele achou que não vai mais cantar. o baden powell parou de cantar afrossamba quando encrentou, direito dele, azar nosso...
Só que Baden Powell (assim como Baby Consuelo) fez isso por convicção exclusivamente pessoal, não pra ficar bem na foto com a patrulha identitária. Se fosse o caso de Chico Buarque, pra ser coerente e não hipócrita, ele teria que deixar de cantar quase todo o seu repertório, que é lotado de machismos em dezenas de músicas. Então, se a tomada de consciência é sincera, ele que deixe de cantar tudo o que se enquadrar nessa crÃtica. Não vai sobrar quase nada.
"A arte é, por excelência, senhora das subjetividades. O que se diz não é o que é dito, e os significados abertos caracterizam bons trabalhos" . Perfeito!! O poema de Com açúcar, com afeto é uma obra prima, que pode ser lido como denúncia de uma situação que atravessa os tempos. Esse tipo de atitude termina em censura!
No meu último livro de poesia, 'O pó e o tempo', na página destinada à epÃgrafe, escrevi que 'a arte é a condição humana em metáforas', porque acredito na sua 'sina' de representação de tudo que diz respeito à labuta da existência. A boa arte sempre há de escapar das censuras, porque a prisão do sujeito-artista é sempre uma impossibilidade. A boa arte é aquela que, décadas depois, consegue nos fazer entender os valores morais e éticos de um determinado tempo. Bom café, com ou sem açúcar!
Essa discussãozinha já deu! Ontem morreu mais um homem negro, trabalhador, pai de famÃlia pela mão armada de um militar branco. Não morreu por engano. Morreu por que um homem branco armado negou-lhe o direito de viver e partilhar o mesmo espaço.
Kafka deixou em testamento que destruÃssem toda sua obra após a sua morte. Felizmente, Brod não respeitou o desejo do amigo. A humanidade lucrou.
O babenow esqueceu de Tizuka Yamazaki antes de Carla Camurati.
Há registros de artistas plásticos de renome mundial que destruÃram ou renegaram parte de sua obra por não se verem mais representados por ela. A autonomia de um artista frente à própria arte não pode ser questionada. Este artigo, como outros aqui publicados sobre o tema, insiste no equÃvoco de classificar como veto ou autocensura uma escolha legÃtima que o autor tem em relação à própria obra.
O problema não é cantar ou deixar de cantar, o repertório é dele. A questão é a real motivação. É sincera, ou é só para ficar bem com a patrulha?
Parece que estamos assistindo ao surgimento de um curioso tipo de *autor itarismo reverso*, que, em vez de proibir, quer obrigar um artista a interpretar uma criação sua, mesmo que não queira...
Ô, mestre Chico! Você devia lançar uma versão mais atual dessa música, com o tÃtulo "Com Estévia, Com Sororidade". Vai dar super match com a militância cirandeira.
Caraca! Será que ele leu meu comentário e se inspirou? Adorei a 'indumentária'. Obrigado pela dica, ainda não tinha visto.
Ah, caro Leonardo, vá até a coluna de São Renato Terra de hoje. Gostará do que encontrar: fostes profético!!
Sinceramente espero que os leitores da Folha saibam apreciar um texto inteligente e honesto de um repórter de qualidade
Engraçado notar que o autor deste artigo critica veementemente a autocensura de Chico (a qual também acho absurda), mas assinou a ''carta aberta para calar bocas dissonantes''. Ou seja, censura externa é válida, autocensura não. Tempos estranhos.
No final das contas os "militantes do bem, preocupados com as minorias" só estão de olho no mercado, procurando uma brecha para ganhar uma grana.
Essa afirmação fala mais sobre você do que daqueles a quem se refere.
Chico escolheu parar de cantar porque quis (não houve censura) por compreender que há novas demandas com as quais ele quer estar em sintonia. A música continua disponÃvel nas plataformas de streaming para quem quiser ouvir, não vejo sentido nessas crÃticas. Chico canta o que quiser e cada um ouve o que desejar, ninguém está proibido, nem é obrigado, afinal.
Renata Moro, Chico já declarou que não houve pressão nem de feministas nem de ninguém, a decisão foi dele sobre essa música. Ele pode decidir não cantar outras, mas não pela sua lógica e nem pela coerência sem sentido que você aponta.
Então, pela lógica e para ser coerente, ele tem que deixar de cantar quase tudo o que compôs.
O que acontece com as pessoas? Tempo demais experimentando o mundo virtual, buscando nele galgar a construção de sua identidade e sentido, procurando dizer algo inédito, mesmo que estúpido, para se destacar na massa. Sustentem suas solitudes com açúcar e com afeto e não me toquem no Chico, o irreparável!
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