Ilustrada > Veto a 'Com Açúcar, com Afeto' rouba um pouco da nossa humanidade Voltar
Comente este texto
Leia Mais
1 2 Próximas
Expor nossas feridas é esfregá-las na cara! Lindo texto.
Não tenho o mesmo conhecimento da autora, mas me lembrei de que há muitos anos senti ou intuà algo parecido quanto a "Ai que saudades da Amélia". A meu ver, o autor tratava de um caso e de uma mulher especÃfica contraposta a outra. Uma amava tipo "na riqueza e na pobreza", a outra só queria "luxo e riqueza". Transformaram em "hino machista", antes talvez de pensar que pudesse ser uma crÃtica. O que, aliás, me lembrou de Bandeira: "Vamos viver de brisa, Anarina".
Lindo! é isso mesmo
Que lindo! É isso mesmo, a arte nos permite múltiplas visões, dentre as quais, inclusive, pensar a situação (do eventual machismo, etc.). Obrigada pelo texto.
Êêê, dona Regina, que texto sensÃvel e belo. Até momento, foi a melhor e mais delicada análise que ouvi dessa encrenca. Grato!
Sei disso, Carlos! Mas, repiso-me, talvez não me tenha feito entender, à época,(ser idosinha tem o lado positivo, de ter vivido o passado naquele presente), os homossexuais eram xingados por causa da música. Sei o que os meninos padeciam! Devo ter ido ver a peça, porque no perÃodo amava teatro. A Gota d Ãgua , com certeza, uma interpretação magistral de Bibi.
A senhora sabe, como professora de literatura, que a palavra "leitores" já engloba o conceito de leitoras, não é? Insistir nessa chatice (porque não passa de chatice) de "leitores e leitoras" só atrapalha a reflexão proposta no texto — e, também, sua beleza.
Cara professora, obrigada por este texto tão sensato e inteligente. Infelizmente, vemos que, cada vez mais, os militantes ao invés de se abrirem para o congraçamento do humano, fecham-se em seus grupos identitários que se tornam inimigos de outros grupos. Neste processo, se esquecem que " a representação pode lançar luz sobre as contradições do que é representado, levando à reflexão crÃtica, não necessariamente à adesão". Chico Buarque machista ? Nara Leão submissa? Dá preguiça explicar.
Sim, a época em que a música foi composta era outra. Mas, mesmo então, o compositor soube se transportar para a cabeça de uma mulher e representar a sua experiência, que era a de tantas mulheres. Concordo inteiramente com Regina que representar uma situação distante do ideal não significa aderir a ela. A arte mostra. Quem critica a letra nos lembra aqueles telespectadores que hostilizam a atriz que faz a vilã, confundindo-a com a personagem... E Buarque ingenuamente endossou a censura.
Parabens Reangina Dalcastagnè, Texto magnifico, expressou tudo o que gostaria de dizer, mas, sendo homem, temia ser criticado. O seu texto contextualizou muito bem: uma obra literária jamais pode ser vetada. Neste caso, tira um pouco da nossa humanida. Na época em que a música foi composta, a mulher era basicamente dona de casa. Minha mãe teve que enfrentar a insatisfação de meu pai e a crÃtica velada da vizinhança e dos parentes, quando decidiu trabalhar como revendedora de perfumes.
Para mim, sempre foi claro que a canção é uma gigantesca ironia. Daqui a pouco vamos "cancelar" também o "Dom Casmurro", cujo narrador, em primeira pessoa, também reflete os preconceitos machistas da época. É precisa evitar que, em nome de lutas legÃtimas, os ignorantes reinem em nossa cultura.
Gostei do artigo. É preciso discutir, especialmente, que cantar uma música considerada, hoje, machista ou mesmo misógina pode suscitar "reflexão crÃtica" e não significa necessariamente "adesão". De toda forma, nessa discussão toda sobre a decisão de Chico de não mais cantar essa letra, há gente que se diz liberal e crÃtica do que chamam de cancelamento querendo obrigar Chico a cantar. Nada mais autoritário.
Obrigada, Prof. Regina! Você é porta-voz dos filhos e das filhas de Machado que se co-movem na arte do Chico Buarque.
Excelente texto, escreveu o que eu penso.
Quando criança, là todo o Monteiro Lobato, 3 vezes sguidas. Nunca percebi racismo nem tampouco me tornei racista.
Que belo texto!
Que bom discutirmos Chico Buarque. Falarmos de luz, não de trevas. Que a nossa cultura, com todos os seus grandes expoentes, nos ajudem a sair das trevas. E viva nossos músicos, escritores, atores, autores, cineastas, pintores, escultores. E um grande viva à nossa cultura
A vida está um saco, insuportável, há patrulha para tudo até a uma música feita há 40 anos, revisão de Monteiro Lobato, etc .Outro dia um cara escreveu na Folha que o 007 é machista, haja paciência!
Texto primoroso. Tudo que penso ... mesmo sendo um fã de Chico, acho uma bobagem esse seu autocancelamento para aderir a essa turba histérica e inconsquente.
Adorei seu texto, Regina. Disse td!
Vivi para ver algo tão ridÃculo quanto autocancelamento
Uma obra, na maioria das vezes, não tem nada a ver com o autor, se não sua autobiografia. O que 'Com Açúcar, com Afeto' tem a ver com o contexto atual, se não nos fazer refletir que no passado o machismo era opressor ?! (Heterônomo de uma ignorante, o conteúdo não é da NCSS)
Parabéns!!!! BelÃssima reflexão, nos ensina muito.
Lembrei da publicação do livro "Minha Luta" que serviu para inspirar a ideologia nazista, foi a maior polêmica.... Lhos
Eu lembrei do Leopardo, de Lampedusa, livro que inspirou o filme de Visconti e hoje lido como um clássico; sua publicação foi recusada por suposto conteúdo burguês.
Concordo plenamente com a autora e agradeço o belo texto, por ter nos proporcionado e nos remetido a essas reflexões. Uma obra de arte deve ser vista, admirada (ou criticada) levando em conta todos os aspectos que tão bem discorreu e também contextualizando-a à sua época.
"Afinal, nada sabemos desse homem além do que ela escolhe nos contar" . Esta frase trouxe a humanidade de volta ao debate. Tentar tomar decisões difÃceis com base nos sentimentos dos outros, costuma nos deixar mais confusos ainda.
...logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato e abro meus braços, pra voce..... Será que isso existe, nos dias de hoje?
Excelente reflexão em um debate necessário hoje.
Uau! Que texto bom! Reflexão necessária!OûOûOûOû
Finalmente, uma análise inteligente. Eu não defenderia apenas a obra literária, mas também a obra artÃstica. Se as patrulhas descobrirem a ópera, cancelarão, por exemplo, "A flauta mágica" de Mozart (indubitavelmente machista e racista) e "Otelo" de Verdi (cujo papel principal é amplamente interpretado por cantores brancos que fazem "black face").
A música é muito boa. O problema é que as pessoas estão querendo cancelar as vidas hoje em dia.
Graças à liberdade em que ainda vivemos, seguirei cantando e adorando essa música. Espero que nunca queimem a biografia de Casanova.
Parabéns pelo texto. Hoje essa música não atingiria ninguém, como não atingiu no passado remoto. Deixei de admirar o autor pela letra:Geni. Essa música causou muitos danos aos homossexuais de então. No bairro, os héteros(supostos!), chamavam os homossexuais: Geni...Vetar hoje? Nem necessita, o estrago foi feito!Hoje não!Vetar obras feitas no passado: não se pode analisar o passado com o olhar do presente.
A canção Geni e o zepelim tem de ser contextualizada no perÃodo em que foi composta, ditadura do governo Geisel. Foi composta para o musical Ópera do malandro, que tinha um homossexual chamado Geni. Além da peça ter sido inspirada na Ópera do mendigo, de John Gay, e na Ópera dos três vinténs, de Bertold Brecht, a letra é uma referência ao conto Bola de sebo, de Guy de Maupassant.
Músicas do passado que hoje seriam vetadas: o neguinho e a senhorita(gravação lindÃssima de Elza Soares!);loira burra(uma amiga me disse: tenho o maior ódio do Gabriel pensador por causa dessa música: passo na rua e os caras cantam...);samba do crioulo doido; cabeleira do Zezé. E outras por aÃ. Também sou contra censurar Monteiro Lobato e obras literárias. Parabéns pelo texto, dentro do contexto!Não gosto do Chico Buarque!
Que veto? Foi o Chico que disse que não cantaria mais sua música. O que por sinal pode ter disparado o interesse por ela no youtube...
(cont.) David Byrne não canta Psycho Killer, pela conotação violenta e o ambiente americano atual. Eu acho pertinente essas atitudes. Mostra a classe artÃstica ainda consciente e atuante. Ultimamente estamos vendo Neil Young retirando o seu catálogo da Sportfy, irá perder dinheiro, mas manteve a dignidade de não ir contra sua consciência, apoiar o negacionismo.
Sei, basta seguir a narrativa, né?
Concordo, mas não inteiramente. Essa discussão mistura as estações. Pouco importa se a obra estimula a reflexão ou reflete um realidade... esse tipo de coisa não pode justificar a censura. Pode justificar o autor excluÃ-la de seu repertório, renegá-la, e nem se faz necessária qualquer motivação para isso. Uma banda excluiu de seu repertório algumas marchinhas tradicionais? Ninguém tem nada a ver com isso. Vamos proibir a execução dessas marchinhas?
O que me espanta é estarmos discutindo critérios para censurar manifestações artÃsticas. Censurar é se arrogar o direito de saber o que é melhor para o outro melhor do que ele mesmo.
A obra é dele, se ele não quiser cantar ele não canta. Descontada a distância histórica, e o fato de não ser essa intenção, a letra da música é muito machista mesmo. Nesses temos em que os machos andam tão arredios e não aceitam nenhuma contrariedade, seja no trânsito, nos mercados e principalmente com relação à s mulheres que culminam nos atuais feminicÃdios. Nessa atitude Chico não está só, os Rolling Stones não vão cantar Brown Sugar, pela conotação racista. David Byrne dos Talking Heads
Camarada, foi criado soltando pipa no ventilador? Ou é só a necessidade de controle? Tome uma dose de realidade duas vezes por dia que passa.
Que importa a intenção ou a distância histórica? O que hoje é machista não era ontem? Antigamente não havia feminicÃdio porque a palavra não existia? Vamos calar toda e qualquer manifestação de machismo? Como a sociedade ontem era mais machista deveria ter sido exterminada? O problema não deveria ser discutir se o machismo é tóxico ou não, mas a censura.
Excelente análise ! Daqui um pouco, estaremos todos em nome do politicamente correto, querendo alterar obras de nossa cultura ... de nossa história sem que tenhamos em mente o contexto histórico ... Façamos sim nossas análises, mas daà mudar o já registrado é de lascar ! Tenhamos mais afeto e doçura neste contexto de polarizações !
O texto da canção é o texto ora apresentado, nos fazem de fato pensar numa realidade que, ainda que atual, pode ser modificada. Mas a obra delicada e sensÃvel de Chico Buarque, ela permanecerá pra sempre.
É por estas e outras que censuram Monteiro Lobato, por exemplo. Parem de dizer como o texto do autor deveria ter sido escrito.
Belo texto, que afasta o julgamento (tendência atual em tudo) para focar na profundidade da reflexão tão necessária, com todos os seus ângulos e possibilidades.
Excelente texto. Quem diria, reclamamos tanto da ditadura para chegar a esse nÃvel de censura. Realmente a humanidade anda em cÃrculos, mas temos realmente que voltar a idade média? Ou seria 1984? Quem diria que com nossa grata rebeldia acabarÃamos com intelectuais e artistas adestrados a base de likes?
Estamos retornando à Idade Média com esse insuportável politicamente correto!
Obrigado pelo texto. Como homem, procuro sempre ouvir o que as mulheres têm a dizer quando o assunto é machismo. Há sempre elementos em uma obra que poderiam parecer naturais para homens, porque foram "naturalizados" ao longo de anos. Por isso, nos espacam à percepção. Mas que a mulher que sofreu séculos de machismo vê e sente perfeitamente. É claro que nós, como parte significativa do problema, não podemos ficar alheios a essa discussão.
Cansa... Conviver com os bozos de extrema direita é pior, mas os chatos revisionistas que querem criminalizar sambas do Chico (inclusive o próprio), estátuas de Victor Brecheret e obras de Monteiro Lobato são insuportáveis. É um tipo de intolerância, de limitação, de falta de contextualização, de medo infantil.
A voz masculina de relacionamento dessa natureza poderia ser a retratada em Disritmia de Martinho da Vila ou São Gonça (conhecida por Pretinha) de Seu Jorge. Vão ser canceladas também? Ou apenas justamente a voz feminina é que será calada, num estranho jeito de ser feminista? Por todos os deuses, a pergunta é retórica! Não cancelamos nenhuma! Continuarei a ouvir as três.
Gentileza sua, Leonardo.
Muito pertinente a sua observação!
Excelente artigo. Concordo.
Censura e proibição é o vÃcio preferido dos moralistas autoritários sem moral, à esquerda e à direita.
Maravilha de texto! Estamos indo em direção à barbárie, do mal-estar na civilização à paranóia persecutório da barbárie, onde o mundo é uma máquina a produzir sentido único e alertas para um eu em ruÃnas agarrado à s certezas de uma suposta identidade. Do outro lado, isso reproduz o fascismo do Bolsonaro; do lado de cá, o fascismo identitário. Ambos comem da mesma ração, só é diferente o pasto.
Busca
De que você precisa?
Fale com o Agora
Tire suas dúvidas, mande sua reclamação e fale com a redação.
Ilustrada > Veto a 'Com Açúcar, com Afeto' rouba um pouco da nossa humanidade Voltar
Comente este texto