Marcus Melo > 'Essa Rússia Americana' Voltar
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Infelizmente o que esta escrito na obra de Gilberto Freyre " Casa Grande & Senzala ", nunca nos deixou, variando com o tempo, uma ora mais, um ora menos. Não é a toa que somos um dos paÃses com as maiores distorções de renda, e não há uma polÃtica efetiva para diminuir esta situação . Nossos polÃticos são uma parte de nossa elite que não quer jamais perder seus privilégios .
Freyre antecipa Getúlio do Est. Novo porque fala do gozo do mando? Que relação de causa e efeito mais precária... Mas o pior fica por conta do populismo russo. A relação causal é: somos parecidos porque lá teve o populismo dos narodiniks e aqui o populismo do Getulio? Eis um caso clássico no qual a palavra é a mesma, mas o conceito, não. Os populistas russos são revolucionários radicais que acreditam no caráter benfazejo dos camponeses russos. O que isso tem a ver com Getúlio, um modernizador?
Tem tudo a ver, pois Getúlio governou ditatorialmente por 15 anos, sempre se apresentando como "O Pai dos Pobres", ou seja, caso clássico de lÃder messiânico, salvacionista que se coloca acima das instituições democráticas. O populismo de Getúlio era tão avassalador que tinha uma guarda pessoal liderada pelo Gregório Fortunato e a filha Alzira participava das reuniões ministeriais sem ter cargo algum no governo. Ou seja, populismo puro sangue. Não precisamos disso nem antes, nem agora.
E se é para procurar semelhanças, há a forte influência positivista ligada à queda da monarquia e o inÃcio da república. Forte principalmente no Rio Grande do Sul, de onde iria triunfar nacionalmente em 1930, com rebentos até nos gaúchos Costa e Silva, Médici e Geisel mais tarde. O Lênin foi o Benjamin Constant deles, e Marx o Augusto Comte.
Na Rússia czarista podemos ver o populismo do czar Alexandre II. Após a derrota na Guerra da Crimeia, 1853-56, o monarca prometeu "leis igualmente justas para todos ", para emancipar os servos em 5 anos, mas o objetivo era recrutar para o exército russo, os camponeses ficaram endividados com o resgate de suas terras. Na época totalitária o sufrágio masculino foi introduzido ,tecnicamente, na Rússia em 1918. O sufrágio universal foi em 1946 no Japão e no Brasil só em 1988. Populismo na Rússia
O voto universal, inclusive o voto feminino, começou na Nova Zelândia em 1893 e, depois, Austrália em 1901 segundo o cientista polÃtico WGS no livro O Paradoxo de Rousseau, pág. 13. Segundo ele, a democracia representativa, laica e republicana começou no Brasil "com o primeiro voto na eleição de deputados à Assembleia Constituinte de 1891" (ob. cit, pág. 13). O voto dos analfabetos foi admitido pela EC nº 25/1985 e não em 1988. A única limitação hoje reside na idade dos votantes.
A servidão dos camponeses na Rússia só terminou em 1861 com um decreto do czar, mas "as terras comunais que os camponeses do Estado e da coroa cultivavam, entretanto, não pertenciam a estes até 1886 (...)". (Richard Pipes in "Propriedade & Liberdade", p. 240). Lênin dissolveu a Duma logo depois da Revolução de Outubro de 1917 e não houve mais eleições livres tal como entendemos no Ocidente - e segue sendo assim até hoje.
Marcus, carÃssimo, mó dedo no'zóio, hein, bro? Essa foi forte, Belo resgate do Gilberto Freyre. Será que seria mais justo/preciso dizer que "o pior da Rússia palpita no pior de nós"? É certo que você já condicionou: "no momento", além do "entre" e não exatamente "em nós". É verdade, acho que tens toda a razão, tá bem dito: estão entre nós os zumbis saÃdos do armário que o maledetto abriu; arrastando as pernas, atrás de mais cérebros para comer e almas para contaminar. Vade retro, Bozonás, fora!
No romance de Primo Levi, A Trégua, em que ele relata a viagem de volta para seu paÃs após sua libertação do campo de concentração onde estava, as situações que enfrenta, a desorganização dos lugares, estradas, informações recebidas dos russos era Brasil puro. Sem tirar nem por.
Gosto muito da literatura russa, e sempre vi nela um retrato perfeito e acabado de nós brasileiros. Não há o que tirar nem por. Somos almas idênticas. Por falar em almas, a obra prima de Gogol, Almas Mortas, me faz ver, cada vez que eu o leio (adoro reler clássicos) a alma brasileira em todos personagens: o malandro, a pequena burguesia interiorana, e por aà vai. Em tempo, o livro está inacabado, seu autor morreu antes de terminá-lo.
Oh, céus, tudo o que há de bom no mundo para ler, e eu gastando o tempo precioso aqui no combate à barbárie... Literatura russa, cara Dea, tirante alguma cientÃfica, eu malemá encostei o dedinho do pé. Mas tudo bem, já já termina a fase aguda, entramos na crônica e cabe mais mundo nesse gueto sujo que virou a leitura nossa de cada dia. Amém.
Gilberto Freyre também escreveu sobre o Brasil como uma "China Tropical" (1959). Argumentava "certa semelhança do Brasil com a China" na tendência de "grande número de brasileiros considerar suas florestas tropicais amazônicas e, tudo aquilo que elas contêm, em especial o petróleo e os minerais, como valores quase que sagrados, que só devem ser tocados pelos próprios brasileiros". Não viramos uma Russia Americana, nem a China Tropical. Somos o Brasil dos macunaimas!
Este professor sabe das coisas. Peca, somente, pela linguagem muito acadêmica.
Muito bom ! Bem lembrada as palavras de Gilberto Freire .
Ótima analogia! Quando lemos os clássicos russos, parece que é um pouco sobre o Brasil também. Fora que os dois paÃses são meio deslocados nos seus respectivos continentes. Se bem que não dá pra discordar daquele provérbio deles : Fale-me de sua aldeia, e estará me falando do mundo.
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