Juliano Spyer > O sono dos motoristas de aplicativo Voltar
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Juliano, carÃssimo, dedo no'zóio: eu, que não sou antropólogo, também gosto bastante de prosear com os motoristas que me transportam e investigar as condições em que o fazem. Resumo da ópera idêntico: de 8 a 1O hrs diárias de batente, sem descanso, rendem uns dez mil. Três e meio, pro Uber; quatro pra manter-se rodando; dois e meio pro bolso. É bem desumano. Já reclamei com o Uber, e nem tive resposta, nem mesmo padronizada. Pior: parte dos motoras, mas cada vez menor, vota bozolinamente.
Bem vindo ao Capitalismo Liberal num paÃs com enorme desigualdade social
Então as empresas de aplicativos estão dando uma chance aos motoristas de trabalhar 12 horas? Ora, se pagassem com justiça e repassassem o valor justo aos motoristas eles não precisariam trabalhar 12 horas! As empresas de aplicativos ficam com a maior parte do dinheiro e sequer dão direitos trabalhistas! É uma exploração! Se liga defensor de empresas!!!
Não me pareceu uma defesa do Uber e congêneres, cara Ana. Mas vou reler.
Quando só havia taxis já havia algo semelhante: O motorista paga uma diária fixa ao dono do carro. Ou seja, já acorda devendo e se der sorte, depois do almoço começa a faturar para si. Conheço gente que faz algo parecido com imóveis: paga um aluguel mensal fixo ao dono do imóvel, e tenta lucrar no aluguel por temporada.
Uma vez estava almoçando e, na mesa a frente, de repente um homem estava com o rosto dentro do prato. Ficamos preocupados, chegamos nele, perguntamos se estava tudo bem. Ele acordou no susto, disse que era uber e estava até aquela hora rodando. Simplesmente apagou na mesa, na frente de todo mundo.
Agora que o Uber tem a faca e o queijo na mão vai dar o pulo do gato. De um lado, tem um cadastro mundial de consumidores, do outro lado, com a fortuna que fez, vai investir numa frota própria de veÃculos autônomos. Johnny (o taxista android do filme O Vingador do Futuro) não dorme no volante, não será assaltado (passageiros sim), pode ser vÃtima de vandalismo mas o seguro cobre, enfim... um golpe de mestre! Acumular dinheiro e informações não é coisa para empreendedores amadores.
Muitos vão continuar sua atividade com sono para atingir sua meta do dia. Triste
Tem que tirar o chapéu prum cara que bolou ter todos os carros do mundo, sem comprar nenhum. Mas a inteligência não é só para o "venha a nós", deve-se pensar em resolver o problema do bem estar do motorista, que trabalhe descansado. Quem dorme no volante acorda no inferno!
Lembro-me de quando a Uber entrou no mercado da cidade de São Paulo. Eu a critiquei muito pela arrogância, pelo desrespeito às leis e à prefeitura, pelo descaso com os motoristas de táxi, e pelo custo exorbitante cobrado dos motoristas para usar seu aplicativo, de quem não foi exigido nada para transportar passageiros, ao contrário da legislação e impostos cobrados dos taxistas. Muitos, interessados apenas em seus bolsos, me criticaram. Esses mesmos que agora devem estar voltando a chamar táxis.
Por três anos, João, me recusei a usar o Uber por conta da sssaafadeza da empresa com a espinha dorsal de seu negócio, o motora. Chegou um momento em que me pareceu ser dar murro em ponta de faca: eu gastava mais pra manter meu carro, era um bom freguês a menos e um automóvel a mais no trânsito. Capitulei, vendi meu carro e bonifico cerca de 8O% das corridas. Triste, mas mais efetivo, me pareceu.
É fácil cair nessa dicotomia "é bom" ou "é ruim", mas o fato é que toda atividade econômica tem seus prós E contras. Depende do contexto do paÃs e de vários outros fatores imprevisÃveis. No começo Uber até poderia ser tudo isso de ruim que vc comentou, mas fez um sucesso estrondoso, entre usuários e motoristas. Tanto que a prefeitura até regularizou e teve de dar alguns privilégios ao táxi, tamanho o sucesso e os benefÃcios sentidos pela população. Hoje o cenário é outro, assim como será depois.
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