Lygia Maria > O som na praia do brasileiro cordial Voltar
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Acabei de chegar de uma consulta ao cardiologista. No novo e luxuoso hotel de São Paulo havia uma festa com cantores e músicos contratados. Do consultório, se ouvia a música, o canto e a algazarra festiva. Desconfio que não era uma confraternização de negros, pobres e grafiteiros, ou quem sabe uma guilda de pichadores.
Do jeito que a coisa anda ainda aparecerá alguém a dizer que é apenas liberdade de expressão: escutar a música que eu quiser, na forma que eu quiser, onde eu quiser, no volume que eu quiser e a hora que eu quiser. Enquanto o individualismo prosperar sobre o interesse coletivo será dificil sair do atoleiro em que estamos.
Há menos de um século a capoeira praticada em praças e locais públicos com seus instrumentos e rodas era proibida. Era algo que atrapalhava o convÃvio civilizado, dizia-se a época. Coisa de incivilizados. Eis que em pleno século XXI ainda se houve ecos do mesmo discurso mostrando o quanto se muda pra que tudo continue o mesmo nesse paÃs. Pelo menos a articulista podia ter se esforçado mais pra camuflar seu anacronismo apelando pra alguém mais moderno que Gilberto Freyre.
E as motos barulhentas? Outra mazela dos cordis. Parece q a moto é escolhida não pelo conforto, segurança, praticidade e sim pelos decibéis q perturbam. Mas não acredito q leis resolverão. O problema é q depois do advento digital e do golpe de 2016, vejo crescer a falta de bom senso e da autocrÃtica, e vejo surgir uma nova modalidade de desenvolvimento: a indiferença, truculência e a ignorância se tornaram hábitos e práticas diárias. Já deve até ter uma faculdade "disso daÃ".
Tem que proibir mesmo, e esperar que os costumes melhorem. Os chineses tinham o hábito de cuspir no chão, o que motivou uma grande campanha do governo na época das olimpÃadas de Pequim.
A articulista sempre dá um jeito de colocar a “esquerda” nos enroscos que aborda em seus textos. Respeito a lei tem e ver com cidadania e educação e não com ideologia. Aliás, se existe alguém que desrespeita leis e é sem educação é Bolsonaro.
Sinto lhe dizer que sua comemoração se tornará uma frustração. Além de desrespeitar o próximo, agora também o farão infringindo uma Lei, e tudo ficará como esta. Diversas prefeituras já fizeram este decreto, cito o Guarujá como exemplo e se vc for num final de semana lotado por lá será o que mais vai ouvir. A fiscalização não vence. E o pior: o desrespeito as leis vem do chefe maior do Estado, que não usava máscaras em locais que por lei deveria, que da induto a condenado na justiça etc.
Caro Vinicius, duas correntes absolutamente divergentes de pensamento psicológico chegaram a conclusões semelhantes: reprimir, somente, não funfa no longo prazo, e causa derivações tão ou mais nefastas do que o originalmente reprimido, tanto em intensidade quanto no tipo e generalidade de sua expressão. Mas, como pode funcionar no curto prazo, dá visibilidade à ação do gestor público e atende a um punitivismo que agrada Tapuias, vá lá. Quem sabe "pega"? Não seria de todo mau, não...
Tudo bem com a opinião da autora mas e a esquerda tem o quê com a história?Papo furado
Segundo ela, intelectuais da esquerda é que vieram com esse papo de que proibir o som alto cercearia o direito de pretos e pobres à manifestação de sua cultura (mediante barulho nas praias), como se só eles fizessem isso, quando na verdade essa poluição sonora também é coisa de riquinhos.
Estendamos essa lei aos parques, trilhas, montanhas, cachoeiras, florestas, enfim, a todo o meio ambiente. Chega de usurpação do espaço público por alguns. Chega de poluição sonora.
Prezada Lygia, não há como não admitir, ao menos em parte, seu raciocÃnio. Entretanto, a praia é o espaço mais democrático que existe na Brazucolândia, a praia carioca sendo seu protótipo por excelência. É, no mÃnimo, complicado vetarmos absolutamente uma expressão, por seu uso incivilizado. Seria também equivalente a proibir que as pessoas escrevessem quaisquer coisas na rede social - não somente ataques e ameaças, que é a presente Bozotreta. Com razões menos epidérmicas, dá pra pensar.
Hahahahah, caro Peter, lá é verdade - ainda que a reverberação das "redes" ultrapasse em muito suas malhas. Mas podemos usar o som dos carros, como argumentei com o Adonay, abaixo. A questão que ponho é que isso, legÃtimo, não soluciona, senão mitiga. E não é irrelevante mitigar, de modo algum. Mas a incivilidade latente nunca será ultrapassada enquanto for somente contida, sempre se expressará alternativamente. E temos que buscar avanço, creio, não somente contenção.
Bom dia, Marcos. Parece-me uma analogia capenga. As redes sociais consulta e lê quem quiser. Eu não faço uso de nenhuma. Mas, quem pode desconectar dos tÃmpanos o barulho infernal das caixas de som?
Fiquei com inveja das praias cariocas. E infelizmente a praia não é o único espaço onde se pratica poluição sonora. E como bem lembrou a autora, não é exclusividade de pretos e pobres.
Dramaturgo e diretor teatral, Paulo Pontes, marido de Bibi Ferreira, disse certa vez em entrevista ao Pasquim, que quem cnupa bala no cinema, jamais pode ser socialista. Aquele barulinho do papel na cena mais lÃrica de Dr. Jivago ou Dersu Uzala. O que diria de caixas de som nas praias. Quanto a pixações, os franceses tem uma antiga frase prá isso:*La muraille est le papier de la canaille*
Hahahahah, só na base do francês para fugir da sençura folhética! Todavia, carÃssimo, ha idênticos motivos para proibir o rádio no carro, pra não repetir o meu argumento oferecido à articulista. Não deixa de ter alguma legitimidade, Adonay, mas padece de uma fragilidade: ao meramente abolir um comportamento, abdica-se da luta pela civilidade. Assemelha-se a proibir o aborto sem ter nunca oferecido educação sexual na escola..
Não à toa, a sinhazinha é de um dos estados mais reacionários.
A sinhazinha jamais entenderá a periferia. Ouça Caravanas de Chico Buarque: A caravana do Arará, do Caxangá, da Chatuba. A caravana do Irajá, o comboio da Penha, não há barreira que retenha esses estranhos suburbanos, tipo muçulmanos do Jacarezinho a caminho do Jardim de Alá. É o bicho, é o buchicho, é a charanga. Com negros torsos nus deixam em polvorosa a gente ordeira e virtuosa que apela pra polÃcia despachar de volta o populacho pra favela ou pra Benguela, ou pra Guiné.
Carlos, meu caro, importante despachar a pretalha para algum local em que haja conflito armado. Esse cuidado é relevante no longo prazo: não basta sumir com os indesejáveis, porque poderão retornar. É necessário também ter uma boa chance de eliminá-los da face da terra. Hahahahah!
Como sempre, a sinhazinha faz sua pregação proselitista do neoliberalismo, somente para a elite e não para a periferia longÃnqua onde ela nunca deve ter colocado seus saltos em ruas sem asfalto, enlameadas com esgoto e vigiada por milicianos. Todo assunto é pretexto para a dublê de porta-voz dos condomÃnios atacar a esquerda. Teria sido contratada pelo jornal para adular a classe média ignara?
Grafitar é vandalismo em qualquer lugar, mas é interessante trazer uma outra perspectiva como da cultura de rua e popular para justificar sua legalidade, porque não? Lugares como Londres, NY, São Paulo, Berlim, são notórios também pela expressão das ruas. O mesmo pra escutar música na praia, na europa branca e civilizada também escutam. Não tem nada a ver com preto ou branco.
Tratar o espaço público como privado, ou como privada, é fruto de uma educação deficiente. A prova disso são as leis em defesa do óbvio respeito ao outro e da cidadania.
Estou digitando após ler o texto e antes de ler os comerdários de gente que tenho certeza que apoia música alta na praia enquanto é pimenta no olho (do c...) dos outros.
Caramba, até agora nenhum hate aqui, acho que é pq vc tá mal lida, em...
Santos SP é terra de ninguém. Os Clubes não respeitam, as barracas de praia também. Além do som dos auto falantes, tem o foguetório frequente e os escapamentos de moto sem fiscalização. Até na ciclovia os sem noção andam com autofalantes.
Mesmo porque não é regra a falta de educação vir de pretos e pobres. A falta de educação vem de gente sem noção de coletivo e isso está em todas as classes sociais e em todo o espectro de cor
Invadir calçadas também é algo muito comum, com veÃculos, mesas, barracas, placas publicitárias e outros objetos.
Vamos aguardar e ver se a lei será realmente cumprida.
Perfeito. Espero que as cidades da Baixada Santista façam o mesmo e além de tudo confisquem os equipamentos.
Caixa de som em praia é um inferno. A falta de educação e respeito ao próximo começa no Palácio do Planalto. Tudo está muito difÃcil.
Ao contrário, amigo, ela não começa, mas termina no Planalto. Quem tá lá é resultado de quem tá aqui. Consequência, não causa.
Educação que alguns acham que nas Escolas professores tem a obrigação de lembrá-los disso. Em tudo os espaços são tomados sem consulta aos demais que tem os mesmos direitos. Placa: esportes somente nos espaços delimitados, proibido animais nas praias, churrasqueiras e caixas de som, etc.". Resposta: pichação da placa. Cintos de segurança no onibus, apesar dos vários pedidos de motoristas, em vão. Nos acidentes, a falta dele é fatal, mas que importa?
Brasileiro cordial. Mais na fachada mesmo. Quem já trabalhou numa empresa sabe : Brasileiro não é bonzinho coisa nenhuma. De onde tiraram isso? Cada covil! E em outras áreas o nÃvel de incivilidade também aumenta. Aqui em São Paulo, os motoboys já estão começando a caçar os pedestres até na calçada. Faz tempo que não dá pra confiar só no semáforo na hora de atravessar a rua. Não existem leis e multas para eles?
Pois é. Vivemos em uma das cidades mais feias do mundo (SP) e essa gente que agride sonora, cultural e esteticamente os outros precisa mesmo de limites. Nunca ouviremos alguém ao som de Bethânia ou Mozart no último volume porque bom gosto pressupõe educação e certo grau de civilidade.
Por que você acha que preto, pobre e favelado não pode escutar Bethânia e Mozart? Será que não se trata de preconceito da sua parte? O ideal seria que todos, sem exceção, pudessem ter acesso a outros tipos de música, mas, infelizmente, não faz parte do éthos. E sim, ouvir música no último volume é invasivo e agressivo. Educação pressupõe respeitar o espaço do outro.
Há civilidade na concentração de renda, na desigualdade social, na miséria e no desemprego? O que há é descaso do poder público com a periferia sem esgoto, comandada por milicianos, sem limpeza urbana, sem ensino de qualidade, hospitais e segurança. Seu preconceito só concebe a música erudita como de qualidade porque as outra são de pretos pobres favelados.
Praia é desintoxicante! Ouvir a natureza!
Essa ditadura do politicamente correto, também conhecida como coitadismo, é um dos mais funestos legados do séc. XX. Não aguento mais esse papo de negros e pobres justificando tudo.
Por que não há civilidade em outras áreas (concordo com você) você quer justificar esta incivilidade? Já sofreu algum tipo de agressão dessa ordem com vizinho? Sem poder dormir, ler, ver TV, fazer o que quer que seja porque as paredes tremem, ao som de Calypso? Mesmo quando você reclama, sendo diretamente afrontado? E a tipologia musical sempre se repete: funk, forró e sertanejo universitário.
É um tremendo desrespeito colocar som alto em espaço público. Soube que quiosques nas praias de Santos e São Vicente fazem isso também, afugentando quem vai lá para conversar e beber com amigos. Quer ouvir música? Use fones de ouvido ou ouça em casa. Falar alto, falar sem parar, incapacidade de estar em silêncio e prestar atenção nos outros ou na paisagem. Infernal. Temos má fama, de povo mal educação e pouco civilizado por isso. Nos bairros, esquecem que há doentes em casa, bebês dormindo.
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