Muniz Sodre > A marca de Caim Voltar
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Junto com essa coluna, a previsão de mais um "mass shooting" se realizou, com mais um tiroteio, desta vez em um shopping center. O terrorismo nos Estados Unidos é interno, faz algum tempo.
Sobre"mass shooting": sociólogo alemão Robert Kurz, usou“amok”(palavra javanesa, traduzido p/‘amoucoÂ’), para designar comportamento de indivÃduos que correm matando, de forma indiscriminada, sem motivo aparente, qualquer um que esteja na frente, e suicidando-se depois. Atos ‘amoucosÂ’nos Estados Unidos é epidêmico; mais ocorrem em escolas e universidades. Por que será? Já existem programas de prevenção e ‘que fazerÂ’ quando há “mass shooting”?(ver filme “Bang, bang, você morreu”).
Hipóteses s/ amok: ressentimento reprimido do aluno rotulado de ‘loser’–perdedor; narcisismo espetacular visando na mÃdia(“se voce não pode se tornar conhecido e famoso na e com a sociedade, então se volte contra ela”. Viciado em videogames violentos, onde aptende a matar sem remorso. Mas a onipotência do ‘amokÂ’ é produzir remorso em escala global. Claro, a facilidade p/adquirir armas facilita espetáculo pró-mortes e lucro das indústria e comércio bélicos. Brasil também é refém do lobby.
A arma em si é um objeto, grotesco, mas sem ideologia própria, apenas finalidades. Contudo, tem sempre gente disposta a apertar um gatilho para provar um ponto de vista isento de ideologias. Quanto aos americanos, os Ãndices de eventos interpessoais parecem até baixos em um paÃs que vende e consome armas com a naturalidade que invade outros paÃses e planeja golpes para livrá-los do mal.
O direito constitucional à s armas de fogo não deixa de ser um mal entendido. A rigor só deveriam ser permitidas as espingardas de pederneira e os mosquetes, de alimentação pelo cano. Afinal era esse tipo de arma que os constituintes do final do século 18 tinham em mente. Um paÃs em que todo 'cidadão de bem' pode ter uma moderna arma de repetição é como um mundo em que qualquer 'paÃs de bem' pode ter suas armas atômicas. Não parece uma boa ideia.
Verdade, nem tinha me ocorrido essa perspectiva histórica do bagúio....
Perfeito
Seria bom se discutissemos o quanto a ideologia impregna a discussão. A matança de 77 jovens do partido trabalhista numa ilha da Noruega tem algo a haver com os EstadosUnidos? E a matança na Praça Celestial na China? A marca de Caim pode estar também do outro lado do espectro polÃtico? A feroz luta de classe foi suprimida na China? O terceiro porta-aviões da China tem algo a haver com uma geopolÃtica da paz?
Querido Muniz. Assertivo como sempre. Forte abraço
Muniz e comentaristas, que excelentes contribuições!
Eita, sêo Muniz, o hábito do engodo e tão velho e generalizado que até o curandeiro da diligência acredita no óleo de cobra. Os contrastes paradoxais entre a liberdade conferida pela arma e o aprisionamento pelo medo coletivo constante; ou ainda, a venda da experiência interpessoal e diminuta do amor, redentora, e a fedentina da desconfiança pública e generalizada, são tão gritantes que não podem mais ser ignorados. Reflexão e "desencantamento" rugem, e não tão numa jaula do circo do Barnum.
No Brasil o osso de bur ro não mata apenas Abel, falanges distais teclam votos com ódio como gatilhos contra cabeças.
Marcos, como escreveu Kafka: esperanças há muitas, mas não para nós.
Uai, isso não é o pogréssio, caro Enir? Agora é só uma falangeta e pronto: tá morto o meu vizinho, minha tia e até, quem sabe, meu filho gay. Vamo que vamo. Entre a "solução final" nazi e o "juÃzo final" de variados crentes, tem sempre o "ponto final" do discurso do Bozo de anteontem. Haja saco, luta e alguma esperança.
Li aqui mesmo nesse veÃculo, talvez pelos anos 2000 e ainda no jornal impresso, sobre o fenômeno "mass shooting" , ligado a jovens que massacravam em escolas, pasmem, já no século XIX, quem se lembrar, e puder reforçar, por favor?!
Freud tratou melhor e mais profundamente do assunto. Todo homem é assassino congênito. A violência é ontológica e, resumidamente, segundo o próprio Freud: "A civilização é violência". A "pulsão de morte" é superior à vital. A primeira guerra mundial despertou em Freud a procura do gatilho capaz de despertar o mais primitivo dos instintos. O mais primitivo dos instintos estava lá, feito brasa encoberta, no fundo de cada criatura, igualzinho a um ouriço invencÃvel. Todos nasceram Caim, Muniz.
Há civilizações e civilizações. O "homem" é uma construção cultural, tambem diria Freud. Até o inconsciente é linguagem.
Prezado Alberto, Freud, ou sua interpretação dele, equivocou-se aqui: basta olhar para o mundo natural para se perceber que é justo o contrário: a morte é fenômeno necessário na economia da vida, mas claramente subordinado a esta.
Alberto, meu caro, digamos assim: eu ficaria bem feliz, como observador da agonia, se a pulsão de morte do Bozo fosse exercitada com ouriço inteiro ao invés de camarão taludo. Mas não creio que tenhamos tal deleite, não...
Ao que me consta, a frase de Freud de que “Civilização é renúncia” leva a conclusão diversa da que você, Alberto, expôs.
Caro Alberto , considerando que em breve o planeta atingirá a marca de oito bilhões de habitantes , acredito que a pulsão da vida , representada pelos mais básicos instintos de sobrevivência e reprodução, tem saÃdo vitoriosa nesta batalha !
Há um enorme retrocesso de viés conservador e supremacista em curso nos EUA. Eles estão às portas de uma guerra civil por razões ideológicas irreconcilháveis. Acabou o "sonho americano". A maior e mais antiga democracia do mundo sucumbiu à intolerância, ao fanatismo e ao extremismo de direita. O gigante defensor das liberdades finalmente tombou em meio às trevas do obscurantismo e da ignorância. O mundo outrora colorido, está voltando a ser vivido em preto e branco. Que pena.
A História dos EUA sempre foi contada da forma a atender aos interesses deles . Um paÃs que até meados do século xx segregava minorias e restringia o acesso ao voto (só para citar uma das muitas distorções) jamais poderia ser uma democracia . Um paÃs que sempre apoio ditaduras na América Latina, jamais poderá se auto-intitular um exemplo de democracia . Debrucemo-nos na forma como eles mais que duplicaram seu território e ficaremos pasmos ! Há paÃses piores , mas para santo os EUA não servem !
Não acho que o mundo americano foi um dia colorido. Violência contra Ãndios e negros, preconceitos e religião castradora foral sua marca registrada, sempre.
Não por acaso a alcova de miliciano nos Estados Unidos não é nada pejorativa, muito pelo contrário, carrega um certo charme revolucionário dos Founding Fathers. E ainda há quem fale mal dos portugueses que nos entregaram o paÃs sem ter que guerrear por ele.
Ôôô, Marcelo, mas não é sem vingança: nos largaram uns Orleans e Bragança duros de roer, que enchem o saco até hoje. E, talvez por obra e graça dos próprios, ainda nos remetem um coração empanado pra mistificação tosca& Bozofrênica. Tenha dó, só pode ser pra dar o troco.
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