Thiago Amparo > A mulher do país abandonado Voltar
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Thiago, acabo de ler uma matéria aqui na própria Folha, na qual se trata do ziriguidum causado à vida da tia transtornada. Interessante como outro lado da moeda: muito após vitimizar sua empregada, vira ela própria uma vÃtima de si, de sua maluqueza e da piração midiática. Coisa a se refletir - a ombudsmar, certamente, o seu Mariante já cutucou e certamente voltará - com a mesma complexidade como se puxa outros fios da mesma meada.
- É isso mesmo, moradia digna é algo que continua muito distante da maioria dos brasileiros.
'Precisa de um paÃs que não sabe limpar seus próprios banheiros'. Perfeito. Aliás esse é um dos melhores contra-exemplos da falácia do trabalho como vocação. Não conheço criança que responda à pergunta sobre o que ela quer ser quando crescer: 'quero limpar os banheiros de shopping'. Trabalhar é fazer o que precisa ser feito e que não se tem vontade de fazer.
Tia Nastácia está mais impregnada no paÃs do que gostarÃamos de pensar. Considerada tia, amiga, alguém da famÃlia, é alguém miserável que foi pega para ser "cuidada" pela famÃlia, e na verdade é mão de obra explorada, sem direito a estudo, atenção à saúde e salário, por vezes morando em situação degradante e recebendo punições corporais (maus-tratos)...
A grande realidade é que o ser humano adora se hierarquizar, e claro, cada "hierarquia" é usada pelo seu beneficiário. É assim com dinheiro, tÃtulos acadêmicos, beleza, poder e ...raça. Não importa se faz sentido ou não, importa que o "sistema" funcione. Tambpem já vi negros que ao alcançarem uma posição de status na sociedade, faz questão de ser tratado como "doutor". Tem alguma diferença?
Olha, Thiago, eu tentei ler a transcrição, mas não deu pé, me embrulhou o estômago. Cabei de acordar, quatro da matina, quem sabe em um momento mais solar. E aà reside um perigo: bobeou, haverá quem diga que a coisa é fruto da perturbação mental-afetiva da tia, e não é só isso. A desumanização do outro é mecanismo histórico, bem conhecido e aplicado à farta nesse mundão de Zeus. Se ela, lóki, o fez, fê-lo não somente por ser lóki, mas porque aquilo cabia em seu modelo de mundo. Vade retro, sô.
Ah, um segundo perigo é o de fazerem equivalência entre escravidão e a desigualdade econômica. "O problema é a pobreza, não a pretidão". Na-na-ni-na: com base na pretidão, uma assimetria econômica especÃfica é criada, e que mantém a pretidão como signo de inferioridade. É preciso cuidado, porque é já que cabra vem com essa - senão hoje, nessa matéria tão recheada de absurdo, amanhã, noutra menos dolorosa.
E a cereja desse bolo azedo foi colocada naquele espetáculo dantesco que aconteceu na porta da tal casa. Enredo para o próximo capÃtulo ~ dessa saga que parece estar longe do fim.
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