Antonio Prata > Valeuzão, amigo! Voltar
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Parabéns.Ganhou um leitor.
O borracheiro trabalha, assim como os caminhoneiros. Já um escritor ou jornalista age, mas suas ações não são propriamente trabalho (pelo menos na definição do Bertrand Russel, que aliás por coerência não devia considerar sua atividade um trabalho). E dentro da tradição econômica, que vem desde Adam Smith, de que o trabalho é o fundamento do valor, pinta uma culpa por obter algo sem uma retribuição. Uma sensação de viver da mais valia social.
Ôôô Tunico, a impiedade devia ser pecado, rapá. Consigo próprio, então, nem pecado simples é, é trecado, treis veiz pecaminoso. Agora, nada que ver, tenho que contá uma coisa procê: "valeuzão", sei lá porque, aparecia como sugestão no meu dicionário de bizarrices sugeridas pelo espertofone. Sempre. "Que catso é esse 'valeuzão'?, perguntava-me eu. Continuo sem saber. Mas achei valor pitonÃsico na coisa. Tá de excelente tamanho, pros humildes como eu.
Da última vez que eu fui consertar um pneu, pedi para o borracheiro não apertar tanto os parafusos pra eu conseguir trocar sozinha da próxima vez, e ele mandou eu "arrumar um homem" pra trocar pra mim...
Hahahahaha! Ah, Gisele, excelente, mana: eu, já não posso ser. Ou, por conhecimento prático, diria que qualquer um o faz, desde que use seu peso todo por sobre uma chave de roda. Um mÃnimo de habilidade, é preciso; macheza, necas.
Jessé de Souza não se aprofunda, mas há um momento em A Elite do Atraso, que faz analogia entre Brasil e Ãndia. Justamente por esta nossa noção bem arraigada de castas. Talvez não seja casual que a hipótese da reencarnação tenha ganho entre nós tantos adeptos. Tudo é justificado em vidas passadas: nasceu lascado é porque tem de ser lascado. Uma conhecida que vivia uma relação abusiva com o marido dizia: "Você vai reencarnar mulher, negra e pobre."
Foi por isso que rejeitei o espirismo. Serve para justificar coisas que eu entendo inaceitáveis.
Não deixa de ser consolador, carÃssimo. O que não o dispensa de uma enrrrabada forte e precisa em seu fiofó macho, branco e, não raro, nem-tão-pobre.
É preciso ter cuidado com as representações e generalizações.
Ande por vários espaços da cidade e sentirá que há interações sinceras.
Eu já acho que a beleza do Brasil, apesar desse inconcebÃvel e abismático desequilÃbrio social, é justamente a interação das classes. Não falo da classe AAA, que só enxerga seu umbigo e vive com medo de ter o carro riscado quando o vendedor pendura suas balas no retrovisor (e o xinga por isso), mas de todos os outros. A alegria, as batalhas e histórias dos mais humildes são via de regra grandes lições de vida, que os ricos e muito ricos desperdiçam por puro preconceito e falta de empatia.
Eu ando muito a pé, de ônibus, e me acostumei a observar o comportamento das pessoas e delimitar uma linha divisória entre viver com dignidade e abusar da boa vontade dos outros. Por exemplo, tem uns sem-teto que me cumprimentam na rua, eu devolvo o cumprimento, alguns andam com um carrinho de compras ou uma carroça com seus pequenos pertences, recebendo um auxÃlio financeiro do governo, trabalhando com reciclagem, eles mantêm contato visual, são cordiais e ficam na deles.
Paloma, carÃssima, isso depende demais do nosso julgamento, né? Não que não possa ser certeiro, mas é crasse mérdia, não? Comento-o fazendo parte da tchurma, para bem e mal. Gente boa, o há em tudo que é preferência, inda mais com os engodos que se propôs ao pessoal. Mas é duro, Paloma, se botarmos na mesma métrica uma crasse mérdia de Herda e uma pobreza insana. Se é que há alguma que seja sã.
Por outro, ainda, ontem li uma notÃcia de que, num shopping frequentado por pessoas de alto poder aquisitivo aqui da cidade, houve um momento, na praça central, em que puxaram um coro, com muitas vozes, de "Lula ladrão, seu lugar é na prisão", que reverberou pelas quatro paredes. Ora, essas pessoas podem ficar descontentes de o Lula ter ganho e acharem que ele é corrupto, mas será que elas já não estão abusando da nossa boa vontade, pois vejo que conseguiram eleger pessoas para o Legislativo.
Por outro lado, tem uma moça dos seus trinta e poucos anos, grávida, que ficou conhecida no comércio local como trambiqueira, por ela jogar uma lábia e assumir uma imagem pra convencer as pessoas a lhe darem alguma coisa (dinheiro, alimento etc.). Eu caà na lábia dela, e as funcionárias de um pequeno restaurante me alertaram, daà pude verificar posteriormente o seu modus operandi. Ou seja, a própria comunidade tem meios de cortar a dependência dessas pessoas de esmolas.
Hoje vou discordar. E se vc tivesse descido do pedestal da sua condição social e conversado com eles? Perdeu o risco de se surpreender.
Reproduzimos a relação casa grande x senzala no cotidiano, ainda que sem o chicote nas mãos. Muy amigos... Parabéns, Prata.
Pura realidade ,coisas que são da vida diária e tem que ter muita sensibilidade para perceber
Realmente és um jovem que vives em outro mundo!!! Absurdo pensar e zombar tais atitudes de população simplesmente trivial, que imensa maioria convive todos dias.
Batata! desses jeito. Basta um pavio, um fio solto pra BUM....
Como assim você não tem superior completo?? Essa crônica lembra outra sua, que você foi comprar material para fazer pipa numa papelaria.
De verdade , Valeu , Prata !
Gostei bastante do texto. Mas, uma observação: é curioso como os maiores reacionários mudam de postura quando estão sendo contratados. Cinquenta reais resolvem qualquer abraço no caminhão.
Nestes tempos de nervos a flor da pele ,ficamos meio q prevenidos de pessoas , muitas como nós ,só pela aparência, postura, algo totalmente contrario a mÃnima noção de civilidade, empatia. De 4 anos para cá nos tornamos uma imensa "torcida organizada" barra pesada , daquelas em q uma cor qualquer remete a nossos grandes " inimigos ", esquecendo-nos q no máximo são nossos rivais. A pluralidade implica em ódio , violência e até morte. Tristes tempos, q fiquem no passado a partir de 2023.
Crônica nÃvel Rubem Braga, Carlinhos Oliveira... aggiornati!
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