Opinião > O perigo do discurso simplista sobre a escravidão na África Voltar
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Nesse jogo, não havia inocentes. Atribuir essa ou aquela circunstância para quem vendia ou comprava encravos, antes ou depois da expansão árabe ou da colonização européia da Ãfrica é irrelevante. Todos os grupos envolvidos fizeram da escravidão um meio de vida, condenável por boa parte do mundo nos últimos séculos, mas não na época. No entanto, temos cerca de 50 milhões de escravos no mundo atualmente. Passou da hora de trazermos as culturas que ainda promovem essa barbárie para o século XXI.
Revisionismo é mais um rótulo para desqualificar o contraditório. História não é um tribunal moral de sociedades passadas, como Finley ensinou há algum tempo. Os autores do artigo é que se propuseram a "reestabelecer a verdade" da suposta escravidão marginal atemporal. Isso é revisionismo? A super Europa da época moderna, lembremos, é uma construção do século XIX. Pelo visto, a ideia anacrônica permanece.
Bem colocado.
Sim, concordo. Não fui ei quem me apegueia a um ponto. São frases de efeito como aquela que simplificam e moldam o senso comum com aval acadêmico. A de Stiwell e n abordagens têm problemas. Faz parte. A intensidade a qual se refere não foi uma imposição, como salienta Thornton, entre outros. Cordialmente.
Caro Marcos Exatamente por ser gigante e diverso não cabe o rótulo atemporal de escravidão marginal. Meillassoux, Joseph Miller, Lovejoy, Robin Law, Sean Stiwell, entre outros, já demonstraram as mil facetas da escravidão no continente. Grato pelo convite.
Roberto, no final das contas estamos falando coisas bem parecidas (que não precisam ser iguais!). Mas o espaço exÃguo do artigo não nos permitiu elaborar. Aqui tb, essas caixinhas não facilitam a comunicação. Espero que tenhamos uma oportunidade de trocar uma Ideia em uma oportunidade futura. Gde abs, MLA
Roberto, o parágrafo deixa bem claro que a escravidão é antiga, distinta e variada. Usamos essas palavras. Vc está se atendo a uma frase que buscou fazer uma comparação com o mundo atlântico pós sec 16. A intensidade do comércio nas áreas afetadas pelo comércio atlântico não tinha paralelos em perÃodos anteriores. O livro de Stilwell é bom mas tem problemas; o de Lovejoy chama-se “transformações” por uma razão e meu trabalho é mto influenciado por Miller. Ele, por outro lado, me procurou tb.abs
Poderia, simplesmente, citar Rosalind Shaw (2002, 19-20): "When we celebrate the agency of those who have been the objects of transregional European enterprises ( via colonization, missionization, or the Atlantic slave trade) without adequately distinguishing the very different agency of colonizers, missionaries, or slave traders, we risk writing neorevisionist histories."
Revisionismo é a pretensão de reestabelecer verdade com informação errada e voltada a público mais amplo. Finley já ensinou os perigos da ideologia moderna nos estudos sobre escravidão. Bloch já ensinou que história não é um tribunal do passado. Hoje já sabemos que a Europa, como superpotência coondutora da era moderna, é uma construção historiográfica dos séculos XIX e XX. Pelo visto, a ideia pegou.
Caro Felipe Há equÃvocos em sua afirmação. Eram muitas as diferenças. Mas nem por isso escravidões islâmicas e africanas eram fenômenos marginais. Houvr variações no tempo e no espaço, inclusive.
Caro Roberto, a Ãfrica é gigante e diversa, como sugerimos no final do nosso artigo. Como disse abaixo, fiz pesquisa intensa sobre o assunto e posso te oferecer os meus artigos para leitura. Basta você procurar o meu endereço na minha instituição de ensino e me pedir. 1 em cada 3 africanos falam lÃnguas Bantu. Eu, Vansina e D. Schoebrun fizemos pesquisa extensa sobre o vocabulário e a arqueologia do continente. Convido vc a se engajar neste debate. Saudações, MLA
Falsas simetrias: em praticamente todas as sociedades pré-moderna houve escravidão. Mas geralmente, uma escravidão de uso restrito, para elites. Na Grécia e e em Roma houve a escravidão como base do sistema produtivo. Coisa que as Américas Coloniais replicaram, com um grau maior de desumanidade. A escravidão que havia na Ãfrica ou no Mundo Islâmico não reduzia os escravizados à uma mercadoria, não escravizava os filhos e netos do escravo. A culpa foi do Colonialismo e dos brancos europeus sim!
... primeiro deve-se definir o que seria ser escravo!!!... escravo é escravo na Europa, Américas,Ãfrica, em resumo em qualquer lugar do planeta. Independente do tempo, do modo de produzir as coisas com menos ou mais tecnologia, em sistema monetário ou não!!!... A definição de escravo em ressonância com o real permitirá ver os sistemas de escravidão em operação bem na cara do observador, basta abrir o ''terceiro olho' para ver! ... Não fiquem surpresos, pessoal, quando isto acontecer!!!...
... As sinhazinhas e os sinhozinhos ( donos de escravos independente se mestiços, negros, brancos ou Ãndios e etc) de Angola, de Rio de Janeiro, de São Paulo, de Minas e da Bahia sempre bailaram e cantaram as canções de donos de escravos, lá como cá, do passado e ao presente!
... sempre foi assim, desde os primeiros donos de escravos, os do meio e os de agora!!!... donos de escravos sempre brutos, cruéis e rudes e às vezes gentis!... a partir da década de 1980, 1990 eles colocaram seus filhos mestiços em escolas de humanidades para criarem seus discursos coletivos para enviezar suas ações, tornando descendentes de escravos qualificados para passar pano para os operadores de sistemas de escravidão, colocando o real dono de escravos como insuspeito de sê-lo!...
... passar pano para dono de escravos e operadores de sistemas de escravidão por ser negro é o que estes comentaristas autodenominados dos especialistas no tema!... um negro dono de escravos merece estar nesta posição porque é de seu direito a reparação!... Nesta reparação inclui ter escravos em suas mãos!!!... então eles não têm objetivos de drenar as asas de operadores de sistemas de escravidão, seus objetivos são de se tornarem operadores de sistemas de escravidão...
Grande parte da riqueza e da "civilização" europeia foi construÃda sob a exploração do comércio e do trabalho escravo. A Ãfrica e a América, principalmente, a Latina, foram, durante séculos, pilhadas e expropriadas pela Europa. Os negros africanos, que eles tanto odeiam, humilham e desprezam, foram responsáveis, sob ameaça e violência, pela tão decantada civilização europeia. Isso, de certa forma, não deixa de ser emblemático, lamentável e triste.
Lucrando ou não, se enriqueceram ou faliram as instituições locais - como o texto sugere - indubitável é que lideranças africanas fomentaram e incentivaram o tráfico de escravizados. Independente do pigmento da pele, gananciosos e indiferentes à dor alheia sempre houve e haverá, como ratificam os alforriados que adquiriam escravizados. Leiam "As sinhás pretas da Bahia: suas joiás, seus escravos". Até quando venderão o engodo segundo o qual a Ãfrica era lugar idÃlico, espécie de "locus amenu"?
Onde, o fato de que, africanos venderam outros africanos para a escravidão, justifica esta na América Colonial?
... quando temos a oportunidade de interagir com estudantes vindos da Ãfrica em regime de intercãmbio consegue-se perceber eles cantando as canções de donos de escravos ( Tipo RaÃz) para hipnotizar incautos mestiços, negros e geral!... quando eles são pegos em flagrantes em plena ação disfarçam, ficam invisÃveis por meses e depois voltam a te olhar como oponente. Sem dúvida estes estudantes são filhos de donos de escravos na Ãfrica. O sistema de escravidão está em operação e ativo no planeta!..
Para existir um sistema de produção baseado na escravidão em larga escala são necessários: grande demanda por produtos, possibilitada pela navegação, e escassez local de mão de obra. Isso ocorreu na Grécia antiga, em Roma, no mundo islâmico, e nas Américas. Os chefes africanos eram participantes ativos do negócio, não dá para passar pano como tenta fazer esse artigo, até porque endividados também eram muitos senhores de engenho de Pernambuco.
O mundo islâmico teve uma escravidão de uso para as elites: concubinas e eunucos para haréns. Nunca foi a base do sistema produtivo.
Muito bem colocado. Usar de desculpas como dizer que já eram escravos é como aceitar sexo com uma criança porque seu pai já abusa dela. A verdade é que, se não houvesse mercado comprador, não haveria tamanha busca por escravos na Ãfrica. Os "civilizados" achavam (ainda acham) os negros inferiores, não tão humanos como os caucasianos.
Há imprecisões no atual artigo e no que ele critica. A escravidão e o trato eram banais na Ãfrica como alhures, ainda que variassem os conceitos de escravo. Por outro lado, a noção de lucro também é histórica e não há linearidade entre passsdo e presente. Em suma, não devemos julgar o passado com juÃzos do nosso tempo.
Felipe, veja a vida dos escravos nas minas e plantações islâmicas e o tempo de vida esperado para eles. O mundo escravizado tinha perspectivas diferentes para cada situação, todas condenáveis embora algumas mais brutais que outras.
Na Ãfrica, no mundo islâmico, etc. a escravidão não era a base do sistema produtivo, os filhos dos escravizados não eram tratados como escravos e nem reduzidos à uma mercadoria. Essa a diferença!
Prezado Roberto, O artigo é baseado em ampla historiografia. No caso da escravidão da história antiga, gostaria de lhe sugerir meus artigos publicados na Oxford Research Encyclopedia of African History, na Oxford Research Encyclopedia of Anthropology e na revista de arqueologia na Ãfrica Azania, nos quais apresento argumentos embasados em evidências arqueológicas e linguÃsticas. Obrigado por se engajar no tema, Marcos L. de Almeida.
A escravidão no Brasil, durou 388 anos. Foi o penúltimo paÃs do mundo a abolir. As consequências são evidentes até hoje, ainda que de forma velada, por exemplo nos cargos de chefia, comissão, assessoramento da iniciativa pública e privada.
Não faz muito tempo (cerca de duas décadas), era comum nos classificados dos jornais: emprego para pessoas de boa aparência, empregadas que dormissem no emprego, apartamentos mais valorizados porque tinham o quarto (na verdade quartinho) da empregada. Tudo isso e muito mais são heranças escravocratas.
Infelizmente, apesar dos avanços na legislação, polÃticas de inclusão e cotas e mudanças no modo de pensar de muitos, ainda veremos por pelos menos uns cento e cinquenta anos o preconceito racial no Brasil.
Claro que não foi somente os europeus brancos que escravizaram povos, mas foram eles, cristãos e protestantes que globalizaram e criaram um grande mercado escravista por muitos séculos, que sustentou suas economias, além do que ignoraram descaradamente a palavra sagrada cristã e escravizaram seus semelhantes.
Perigo pra quem quer reparaçao e privilegios
Leiam a escravidao( 3 livros) do laurentino gomes
E McCloskey, talvez espertamente, não utiliza os conceito de produção, reprodução e concentração de capital. Isso desmontaria seus argumentos. Afinal, a "novidade" do capitalismo iniciado na Europa foi a incorporação à sua órbita de diversas formas de produção e de organização social. Da Ãndia, China e Benini, ao Peru, México e BolÃvia.
Sim, você está correto. Baseei-me em pontos de identificação temporal, o que não é adequado. Quando Smith fundamentou a teoria liberal, vg, o capitalismo já existia.
Dalton, em história os fenômenos e estruturas não ocorrem em etapas estanques. É justamente isso que questionei no meu comentário. Colonialismo vai até primeira metade do século XX, isso se excluirmos formas semelhantes e recentes de exploração e submissão de nações e povos. Pelo seu critério, o capitalismo não teria surgido antes do século XX. O problema aà é querer encontrar a "origem": o ovo ou a galinha? Quando as coisas ocorrem simultaneamente, em sobreposições, velho e novo interagem de co
Você está falando de colonialismo. Os fundamentos capitalistas e a organização produtiva são posteriores, e em grande medida, decorrentes do colonialismo.
Os dois artigos sofrem da limitação de caracteres. Um tema desses não se desenvolve a "toque de caixa". Contudo, o artigo de McCloskey erra ao denunciar a ausência de ineditismo de formas econômico-sociais no capitalismo que levaria à re-produção e acumulação de capital. O problema não é se a escravidão, e outras formas, já existiam na Ãfrica ou em outros tempos. A questão é como essa forma foi apropriada no capitalismo para peitir a concentração de capital.
A falta de argumentos históricos sólidos neste texto (apesar de tantos autores) apenas indica que o texto mais correto, historicamente, é exatamente aquele que é denunciado como incorreto.
Poderia fundamentar?
Não há justificativa para escravidão e as maldades dela decorrente. Quem tenta justificar banaliza o mal, justifica massacres, holocaustos e genocÃdios. O que assusta é ver o quanto o ser humano pode descer tão baixo, justifica-se que judeus fossem mortos, que povos inteiros fossem eliminados. Em busca de ouro eliminação dos Ianomâmis.
As pirâmides foram construÃdas como? Por instituição margi nal?
As pirâmides foram construÃdas no Modo de Produção Asiático: Egito Antigo e Mesopotâmia não eram escravistas. No Egito, a terra pertencia aos "deuses", o povo a utilizava e entregava parte (considerável) da produção ao faraó. Também trabalhava em grandes obras públicas em troca de alimentos e mercadorias. Não misture Egito Antigo com a Colonização das Américas!
Fátima. Não conte muito com isso. As "Autobahnen" foram construÃdas com trabalho escravo. E os estádios onde se desenrolou a copa perto disso.
Alan. Você fez questão de não tomar conhecimento do meu segundo comentário anterior ao seu.. Por outro lado, vc não tem o direito de dizer quem deve falar o que e quando num fórum de debate.
Pirâmides foram construÃdas há mais de 3 mil anos, escravidão terminou no Brasil no fim do século XIX, há pouco mais de 100 anos. Espera-se que a raça humana evolua para melhor, não parece ser o caso.
Por isso mesmo: não sabe, não fala. Por atitudes como essa que um grupo de acadêmicos (gente que costuma ler antes de falar) precisa vir a um jornal explicar que a escravidão não era o modus operandi "dos africanos".
Alan. Há muita besteira que se ensina e que se lê. O jeito é reconhecer e corrigir-se quando se comete um erro. Durante muito tempo a versão oficial era de que as pirâmides eram fruto de trabalho escravo. A nova versão é recente. Talvez mude A sua agressividade parece inata.
Ler mais antes de falar é a receita pra não falar besteira.
Estudos recentes alegam que a mão de obra não foi escrava, mas remunerada
Olha, Senhor@s PrezadÃssim@s, essa arJgumentação da Tia Auntie é tão primária que a engole somente quem quer. Faz 5O anos, ao menos, que são estudados pela psicologia social-cognitiva os mecanismos do chamado "desengajamento moral", utilizados para que a cabeça descanse sobre o travesseiro mesmo após as barbaridades do dia. Esse blá é exemplo de um, a "difusão de responsabilidade": como se o eventual mau-caratismo de alguns fosse desculpa para nossa falta branca de caráter e moral. Primarismo.
A banalidade do mal.
O texto de Mccloskey é infinitamente superior a este, o qual mais parece um panfleto estudantil. Sobra à primeira autora inteligência, coerência e embasamento histórico-cientÃfico. Ficar preso a conceitos históricos imutáveis não contribui com a importância que o assunto merece.
... eles estão bailando e cantando esta canção ( Panfleto Enviezado ) para chamar a atenção dos ' vermelhos' e conseguirem cargos de assessoria em equipe de polÃticos e avançarem para serem donos de escravos em breve!... de estudantes do 'copia e cola' de discursos de 'rap' com batidas de ' funk' raiz tipo "Run DMC'!!!... a ver...
Comentário excelente. O primarismo e o enviesamento do artigo "O perigo do discurso simplista sobre a escravidão na Ãfrica" fazem mesmo ele parecer um reles panfleto estudantil.
Continuando, ficou faltando explicar a arte, ou mais especificamente Harry Porter. Shakespeare morreu milionário, Cervantes, miserável. A vida não é útil e se aprende pelas errâncias. Os liberais vivem dos modelos, invariavelmente imperfeitos, só que eles não aprendem, pois ainda estão na fase em que acham que necessitam apenas ajustes.
Confesso que o seu comentário me balançou Fernanda. Reli o texto, voltei ao texto da McCloskey e procurei meu comentário da época. Conclusão, há uma nÃtida tentativa de normalização da escravidão como modelo mercantil, seja no tráfico, seja na produção. Aà é que se esconde o segredo, Marx puro, a criação da riqueza não vem da comercialização, mas do trabalho, portanto pau-brasil, ouro, café e hoje os serviços de plataformas são hubs para a exploração do trabalho e não tem importância per se.
"Infinitamente superior" em quê, prezada? Num conjunto de argumentos liberais epidérmicos, que justifiquem o inaceitável comportamento dos traficantes de escravos - nisso, posso compreender franca superioridade. Só uma segunda advertência: convém rever a noção de "conceitos imutáveis", uma vez que a historiografia tem se transformado em inúmeros aspectos nas duas ou três últimas décadas, incluindo os autores africanos e suas perspectivas inovadoras.
Todos os povos do planeta viviam em harmonia e amor. Somente os brancos europeus que eram malvados .
... este coletivo foi escolhido a dedo ( a toque de tela no cell phone), aonde no grupo "tik tok', pessoal, da escola municipal ou estadual ou particular, pessoal???... os malvados, pessoal!!!... temos que tomar cuidados com os malvados, brutos, rudes, desgraçados donos de escravos por aqui e agora. Eles estão avançando e seduzindo/hipnotizando a população para seguirem ou para escorregarem para dentro de gaiolas ou trabalharem para empurrar os outros da população para dentro de gaiolas...
Não, mas a escravidão antiga (com exceção de Grécia e Roma) e das América Coloniais foram em larga escala e base do sistema produtivo. No Egito, Mesopotâmia, China e Ãndia, Mundo Islâmico, Ãfrica Negra, etc. a escravidão não era dessa forma. O grau de enormidade e desumanidade da escravidão nas Américas foi inédito na História!
Não há justificativa para escravidão. Se alguns povos escravizavam outros não justifica a escalada de escravidão que ocorreu nos séculos XVII, XVIII e XIX. Banalização do mal eh o que vc defende.
Olha, Paulino, fiquei aqui pensando se vc já leu algo sério sobre o assunto. Tomando como base o seu comentário, acredito q não. Sendo assim, deixo algumas dicas q vão te ajudar a refletir sobre o tema. São elas: Os Condenados da Terra, de Fanon. Dê atenção ao prefácio escrito por Sartre. Sair da grande noite e CrÃtica da razão negra, ambos de Achille Mbembe. Leia TB Boaventura de Sousa Santo. Tem um romance q TB pode ajudar. Chama-se Cadernos coloniais, de Isabel Figueiredo.
Todas as pessoas do planeta tentam ser mais bem informadas. Somente algumas insistem em ser burras.
A questão é complexa. Por um lado, europeus e nascidos na América lucraram muito com o tráfico e a escravidão dos africanos. Por outro lado, penso que os africanos deveriam ter se unido e lutado contra a presença desses estrageiros e, por nenhum motivo, nunca deveriam ter participado desse comércio hediondo. A impressão que ficou é que um africano não considerava seus vizinhos como irmãos. Só defendiam a própria tribo e às vezes nem isso faziam, facilitando a captura dos desafetos.
A ideia de "Ãfrica" é um conceito externo: o mesmo que dizer "Europa": como se Grécia, Turquia, Rússia, Portugal, Noruega, Alemanha e França fossem uma só coisa. Na verdade, são povos vizinhos e distintos, muitas vezes rivais entre si. Europeus, até pouco tempo atrás, se matavam uns aos outros. Só ver Ucrânia e Rússia.
Ana, prezada, peço licença pra uma observação adicional, sobre o comentário do Dalton: tal como a difusão de responsabilidade, a "desumanização" é um mecanismo de desengajamento dos padrões morais vigentes em uma época. Eu não posso tratar o outro humano como uma coisa, uma máquina, em princÃpio; mas... Se eu os desumanizo, como inferiores, insetos, ("baratas" especificamente em Ruanda, "roaches"), bem, aà posso mandar bala, não são humanos. É muito prático e acalentador, meu caro.
A Ãfrica nunca foi, e continua não sendo, homogênea. A escravidão na Ãfrica antecede o comércio de escravos no Atlântico, que de fato foi cruel, e a própria Ãfrica teve e manteve mais escravos do que a totalidade que cruzou o Atlântico. A grande diferença é que a economia europeia foi implementada nas américas sob extensa mão de obra escrava africana, de modo que o cativo era tido, de modo geral, como 'máquina' tal qual um implemento agrÃcola, p.ex., substituÃvel. Foram desumanizados.
Conviria reparar em quantos séculos levaram os chineses, muito mais unificados do que os africanos, para botar para fora os britânicos. A tarefa não é simples nem quando há governo central.
Querida Ana Maria, você está concebendo um tipo de identidade cultural - africanos, europeus, etc - que não existia na Ãfrica entre os séculos XV e XIX. Mesmo na Europa, ingleses, portugueses e belgas viviam à s turras, sem em nenhum momento defenderem "seus irmãos europeus". A identidade africana, enquanto afirmação de uma cultura comum a todos os povos do continente, só foi forjada no século XX. E, aà sim, podemos observar um movimento de rechaço ao neocolonialismo pelos povos do continente.
Da parte dos africanos, a questão principal não eram os lucros mas a falta de sentimento de irmandade entre eles. Pode parecer utopia, mas creio que cada africano deveria sentir que o outro era irmão e, portanto, digno de compaixão e solidariedade de todos. Nem todos pensavam assim e isto criou uma brecha na muralha que afastaria os invasores. O resultado foi esse horror que perdura até hoje na forma de racismo e preconceito.
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