Juliana de Albuquerque > Como lidar com autores fundamentais, mas de comportamento reprovável? Voltar
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Me lembrei do caso do João de Deus, que parece ter tido muitas pessoas realmente curadas por ele, e o pessoal religioso também usa esse argumento, de separar o homem da obra, que no caso que citei seria ser instrumento de Deus ou de espÃritos com o poder de cura. Penso que não é tão simples assim, separar o homem da obra, vemos o caso de Heidegger, por que nazismo gera esse estranhamento mas machismo, assédio, racismo não gerariam? Para mim, reduz sim um pouco o valor da obra, de forma geral.
Observe alguns dos comentários anteriores, Juliana. Quem os escreve, de onde falam, de que lugar estão se manifestando. Serão mulheres? Creio que não. Serão homossexuais? Não posso afirmá-lo categoricamente, mas creio que é pouco provável. Serão pessoas negras? Também não posso afirmá-lo com precisão, mas creio que não. Serão pessoas na extrema pobreza ou pessoas com deficiência? Por isso acho pertinente relacionar a escrita com a biografia, com a condição da pessoa no mundo.
Eu prefiro relacionar a obra à biografia e ao contexto histórico do autor, eles ajudam a compreender a produção do escritor, intelectual ou cientista. Heiddegger era alemão e não era judeu, ou seja, ele ocupava uma posição confortável na Alemanha nazista e apoiou o regime, a ponto de poder fazer uma carreira acadêmica, algo impensável para um judeu. Prefiro ler nossa amiga Hannah Arendt, que foi aluna dele e se beneficiou do melhor da obra, produzindo algo melhor.
Caravaggio e Benvenuto Celine assassinos. Nietzsche e Schopenhauer misóginos, Ezra Pound e Céline fascistas... No entanto, obras maravilhosas. Ora bolas, o ser humano, como ser desejante, não é o bom selvagem de Rousseau. A obra é uma coisa, o homem outra. E basta.
E permita-me acrescentar Pablo Neruda: estuprador confesso, além de, segundo alguns, ter maltratado a esposa.
A trupe do cancelamento já sentenciou: obras só serão aceitas se os autores forem perfeitos. Não se mistura alhos com bugalhos. Mentes brilhantes não necessariamente abrigam pessoas brilhantes. Seus comportamentos inadequados( ou eventualmente criminosos) não invalidam suas produções. Assim como obra alguma é salvo-conduto pro crime. Cada um em sua caixa.
Prezada Juliana, proponho o seguinte experimento mental: suponhamos que um cientista descubra a cura definitiva do câncer - através da ingestão de uma "pÃlula verde". E que ele compartilhe gratuitamente essa descoberta com toda a sociedade. E suponhamos também que ele seja um canalha: nazista, xenófobo, homofóbico, misógino, racista, etc. Isto posto: em caso de necessidade, serÃamos capazes de abrir mão da "pÃlula verde" em função do caráter degenerado do referido cientista? Acredito que não.
Prezado Paulo, OK. Você tem um ponto. Removamos então a referida “gratuidade” do enunciado. Ainda assim, a essência do “experimento mental” sugerido não é alterada. Em resumo: AceitarÃamos, ou não, tomar o remédio salvador criado por um crápula?
Quando um um canalha nazista, xenófobo, homofóbico, misógino, racista, etc teria tão nobre comportamento quanto o que você propõe? Fala sério!
"Ou seja, não devemos nos comportar com relação a esses autores como se houvéssemos sido seduzidos pelo seu brilhantismo e, consequentemente, perdido a nossa autonomia de pensamento." É isso! Vargas Llosa (nobel de literatura) manifestou seu apoio à quele q ele classificou de palhaço... para presidente do Brasil. DifÃcil aceitar q o peruano queira q o nosso paÃs seja circo. Nunca o li, talvez leia. O problema é esta mania humana de idolatrar. A idolatria pode ser o cume do precipÃcio.
Vargas Llosa apoiou a reeleição de JMB para que Lula não voltasse ao poder. Imperdoável. Não me sinto compelido mais a ler o Prêmio Nobel peruano. Só de pensar, dá engulhos.
Para quem idolatra e ou para quem se elegeu como Ãdolo.
Heidegger esteve envolvido com a ideologia nazista até o fim de seus dias ou mudou de ideia após o fim da II Guerra? Devemos descartar toda a sua obra ou apenas a parte anterior ao possÃvel arrependimento? A tendência atual e irracional de cancelamento de pessoas rechaça que alguém possa arrepender-se de seus crimes ou malfeitos e mudar de conduta: uma vez criminoso, criminoso para sempre! A turba ignara canceladora (inclusive a parte diplomada) não se importa de verdade com pessoas.
José de Alencar era escravocrata. Devemos então jogar no lixo o que ele escreveu? É necessário separar a obra de seu autor e lê-la de modo crÃtico e contextualizado... mas nem todas as pessoas estão preparadas para isso. Julgue-se e puna-se a conduta, mas preserve-se a obra.
Eu comentei, mas Sérgio D'Ãvila, o torquemadinha da folha, censurou.
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