Olhando pelo lado do progresso tecnológico a melhora é evidente. Quando eu era criança havia a imagem da mulher levando água na cabeça para seu barraco nos morros do Rio. Hoje há água e luz, além de celular. Muita gente, mesmo morando no asfalto, não tinha telefone nos anos 60.

Hélio, o seu otimismo se ampara numa fé inabalável no capitalismo, assim como Hegel na fé absoluta da razão. Leia um pouquinho Hannah Arendt, ela lhe fará bem. Aconselho os primeiros ensaios dela no seu Entre o Passado e o Futuro. Você tem tempo e vai apreciar uma filósofa da estatura dela. Aconselho...

O progresso por avanços tecnológicos é apenas uma parte da questão. Os sociólogos apontam várias mudanças que foram progressos e não tiveram conexão direta com tecnologia: a consciência de que não devemos escravizar outros humanos, o voto feminino e o fim dos casamentos decididos pelos pais são apenas algumas dessas mudanças cruciais.

A afirmação de que boa parte das pessoas experimentará um progresso acumulativo precisa de mais explicações. Pode-se caracterizar um conjunto de transições com um termo honorífico: progresso cumulativo , mas a importância de fazê-lo precisa ser explicada. Há um conjunto de objetivos que sirva para à ciência política para todas as épocas? O objetivo da ciência política é alcançar a verdade significativa desde que este seja possível para seres com nossas limitações. As mudanças são racionais?

Hélio, meu caro, seu não o quanto isso é válido: num contexto de acumulação estupenda - melhor, "bestial", como dizem os Tugas, porque traz consigo a lembrança do mal - descontrolada, a melhoria da técnica tende a servir somente a quem domina. Veja o caso da robotização do trabalho agora atingindo também o escritório, com o GPT: é chegado o limite no qual esse avanço não trará panos quentes ao conflito. Estamos só no começo da encrenca, repare. A distopia bate à porta.

Que artigo bom.

Sensacional.