Sérgio Rodrigues > Qual é o sabor da nossa língua? Voltar
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A propósito da falácia de que em Portugal as crianças "começam a falar português do Brasil", devo dizer o seguinte porque acompanhei o fenómeno. Um dia, como outro dia qualquer, uma jornalista do Diário de NotÃcias português escreveu um único artigo de jornal a mostrar como algumas crianças portuguesas estavam a usar algumas expressões mais comuns no Brasil, por assistirem a youtubers br. Bastou isso. Youtubers e comediantes brasileiros usaram e exageraram imenso sobre o assunto até hoje. lol.
Acredito, aliás, que a maior parte dos portugueses nem soube que houve essa notÃcia, e por isso não entenderam repercussão, os que ouviram falar dela. Por fim, a propósito dos falantes de português, devo lembrar que este século o Brasil será ultrapassado pelos africanos em número de falantes, pelo que a norma do português europeu, que é seguida em todos os paÃses exceto o Br, voltará a ser a mais relevante. :) (esta foi só para implicar, no hard feelings)
Os sotaque dos angolanos me soa mais luso que brasileiro, por isso não acho que a influência africana explique muita coisa. Outro ponto é que não me parece que os castelhanos, companheiros de penÃnsula ibérica, comam as vogais como os portugueses. Eles dizem 'que' como nós, e não 'q' como os portugueses por exemplo.
Creio que uma das explicações para o sotaque dos angolanos, moçambicanos e outros é que estiveram em contato mais estreito com Portugal até meados dos anos 1970, quando se deu a independência desses paÃses. Além disso, apesar da influência indÃgena e africana no português em geral, e brasileiro em particular, sempre há tendências evolutivas da lÃngua, as quais explicam as transformações semelhantes sofridas pelas lÃnguas aparentadas ao português.
As lÃnguas mudam através do tempo, das latitudes, das paisagens... Este truÃsmo passa por novidade para muita gente que desconhece a dinâmica da linguagem. José de Alencar disse: "O povo que chupa o caju, a manga, o cambucá e a jabuticaba pode falar uma lÃngua com igual pronúncia e o mesmo espÃrito do povo que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera?" (In: Sonhos d'Ouro, 1872) Uma aula de linguÃstica histórica e de dialetologia num só perÃodo! Quem sabe Eça não se inspirou aÃ?
Dendê só tem na Bahia. Então não dá para "nacionalizá-lo" como algo tÃpico do Brasil.
É, João....vc prefere o açúcar branquinho..., Mas tem muito dendê na nossa lÃngua, sim, ainda q muitos não gostem.
No Pará também se consome (e produz) muito óleo de dendê. Aqui há um prato chamado "vatapá", não apenas homônimo do vatapá baiano, mas também com origens africanas e com dendê entre seus ingredientes.
Que doce crônica do brazuquês, meu caro Sérgio... Edulcorada com alguma coisa artificial, me parece, porque teve um travo amargo ao fundo, né? Amaro retrogosto, a bitter aftertaste. Pra ficar nos nossos qualificativos, eu incluiria "solar", que inunda a lÃngua de vigor; e "cálido", por um afeto curvilÃneo, primo desse dos gerúndios. Mas podemos também adjetivar o Tuguês, de cintura dura, falando como se diante do papel. Uma lÃngua, a bem dizer, enfezada: anda durinha, evitando KHagar nas cuecas.
Gostei! Diria que vem da era dos engenhos, dos doces feito com açúcar da cana e não dos sons da lÃngua falada.
Acho que os brasileiros falam português com chantilly. Por causa da influência francesa. Depois de assistir Laranja Mecânica em Lisboa fui convidado por amigos portugueses a discutir o filme num restaurante. Chamei o garçom, mas fui corrigido; teria que chamar o atendente de mesa. Pedi o menu, mas teria que pedir a lista ou a ementa. Escolhi um filé mas pelo nome de preguinho. Então optei por croquete de bacalhau e soube que teria que ser croquetas de bacalhau. Gelado como sorvete. Com couvert
Vito, carÃssimo, grande milagre fizestes: pegar um ônibus no ponto, por lá, é bagulho hercúleo. Tomar um autocarro na paragem, é um pouco mais fácil - até porque, o sistema é menor e mais organizado. Mas é mêmo uma loucura viver essa mesma lÃngua, tão diferente. Devo reconhecer que acho uma delÃcia!
Há coisas engraçadas no português de Portugal. Na ida ao restaurante eu tive que pegar um ônibus. Havia muitas pessoas no ponto de ônibus. Uma senhora respeitosa aproximou-se do grupo e disse: "Vamos fazer bicha aqui", isto é, fila. Nem parece que falamos a mesma lÃngua. Meus amigos portugueses tiveram que decifrar todo o menu do restaurante para mim. Eu achava que falava o português de Camões.
Kkk, muito bom esse comentário
Belo texto! E as duas definições são agradáveis : português com açúcar, Camões com dendê. E estou revendo a minissérie Os Maias. Muito linda e bem-feita. Paisagens exuberantes e atores competentes. Mais as belas canções de Madredeus. Pena que a fizeram muito longa e com alguns núcleos totalmente supérfluos, especialmente na segunda parte. Mesmo assim, vale muito a pena.
Ah, o Madredeus, compadre... Eles são uma finura total, uma delicadeza. Eu tenho os tugas no sangue, mas atrás dos carcamanos e espanhóis, talvez por isso o Madredeus me toque o miocárdio. E o bairro homônimo, em Lisboa, é uma delÃcia de ruelas nas quais se perder.
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