Suzana Herculano-Houzel > É claro que importa quem é o cientista Voltar
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e tem um produto mais que certo do processo de fazer ciência: o pesquisador treinado prá fazer as coisas da forma que ela explicou, que fica craque em descascar abacaxi onde for trabalhar, no comércio, no banco, na construtora, e até escrevendo no jornal. mesmo que o resultado do mestrado do cara seja que deu quase tudo errado, que os objetivos foram nem arranhados, teve o cidadão que ficou alà cavocando prá ver se saia alguma coisa.
Até onde sei, a natureza é a juÃza da ciência, então não importa quem seja o pesquisador, ele sempre vai estar sob o jugo da mãe natureza. falando de ciência.
" "o" cientista inclui "a" cientista, como eu"... inacreditável alguém se submeter a algo assim para lacrar... ela sabe o absurdo que está cometendo, claro que sabe.
Cientistas cristãos estão aà escrevendo barbaridades medievais e sendo validados por seus pares da mesma laia nas instituições. As universidades públicas se tornaram lugares bizarros na última década: estão lotadas de semianalfabetos com bÃblias na bolsa.
Sim, o percurso, o processo fazem a diferença. Que haja mais cientistas que saibam manejar procedimentos e que sejam éticos para com os resultados, aà sim suas crenças e valores serão provados. Quanto aos excessos do relativismo, sugiro uma reflexão bem simples com o técnico que for consertar sua máquina de lavar , seu carro , seu gps que não funciona, seu roteador que não te conecta.
Eu comparo a um Sherlock que investiga a partir de evidências. Ele vai construir uma narrativa do que aconteceu que não seja contraditada por essas evidências. Isso tÃpico por exemplo em paleontologia, onde o achado de novos fósseis pode contraditar uma teoria existente e abrir espaço para outra. A narrativa tem que ser construÃda, não está nos dados.
Para mim, existe a Suzana que produz conhecimento sobre o cérebro e existe a Suzana que exercita o pensamento, que examina os fatos da vida, tal como a própria ciência neste texto: conhecimento e pensamento são duas capacidades humanas. Para mim, não existe uma ordem ou sentido a priori da nossa existência ou do mundo: somos nós que conferimos sentido à nossa existência individual e coletiva, e por isso não existe uma verdade absoluta (eis uma concepção é libertadora).
Outra capacidade humana é a do julgamento, ou seja, a partir do próprio pensamento eu posso chegar a discernir o certo do errado, o ruim do bom, o belo do feio. Eu posso, por exemplo, diante de minha experiência, de minha concepção do mundo, de meus valores, do debate acerca de um assunto na Folha, posso tirar minhas próprias conclusões, inclusive sobre o que é melhor pra mim ou para a convivência em sociedade. E por isso toda forma de cerceamento do conhecimento ou do pensamento é uma violência
Ciência é conversar com o universo, fazer-lhe perguntas e registrar a resposta. Às vezes usamos termos ou variáveis diferentes em perguntas para o mesmo fenômeno, e as respostas são diferentes apesar de válidas. Isso mostra nossos limites. Alguns investigadores ignoram isso e adquirem a sÃndrome de Deus. Por causa do sucesso e reputação que obtiveram com os métodos cientÃficos em micro contextos, sentem-se autorizados a prescindir deles para fazer revelações puramente pessoais.
Na ciência tudo é teoria. As ciências algumas vezes entregam a verdade sobre um mundo independente da cognição humana e nos informam sobre os constituintes desse mundo que são remotos à s observações humanas. São os inobserváveis. Uma posição mÃnima realista é possÃvel e ter o ideal da objetividade para o conhecimento num mundo como o encontramos.
Podemos criticar o que está no espaço publico? É evidente que sim. Um artigo de Gleiser defendendo a inimputabilidade do cientista pelo que descobre ou inventa (imputáveis seriam os polÃticos que usem as descobertas e invenções) pode ser criticado? Deve. Ao que se saiba, não foi. Einstein e seu remorso por Hiroxima não nos ensinaram nada? Recomendo a leitura de "Vida de Galileu", de Brecht.
Einstein não tinha remorso por Hiroshima, não fale bobagem, ele tinha desprezo pelos que usaram uma tecnologia advinda de um conhecimento cientÃfico para uso do mal. simples assim.
Nesse jornal.
Achei o artigo do fÃsico brasileiro abjeto.
Há também o aspecto ético.
Há também o aspecto ético. O fÃsico Marcelo Gleiser defendeu em 2017, nesse jornal, que os cientistas não deveriam se angustiar com o uso do que descobrem. Esse uso não seria problema deles, mas dos lÃderes polÃticos. Ao cientista, bastaria pesquisar e fazer o conhecimento avançar. Li sem acreditar no que lia e me lembrei de Einstein. Ao que parece, ninguém respondeu ao artigo abjeto. Para dizer o mÃnimo.
Há também o aspecto ético. O fÃsico Marcelo Gleiser defendeu em 2017, nesse jornal, que os cientistas não deveriam se angustiar com o uso do que descobrem. Esse uso não seria problema deles, mas dos lÃderes polÃticos. Ao cientista, bastaria pesquisar e fazer o conhecimento avançar. Li sem acreditar no que lia e me lembrei de Einstein. Ao que parece, ninguém respondeu ao artigo abjeto. Sim, abjeto.
Os cientistas responsáveis têm que se comportar e fazer tudo ao seu alcance para trazer a condição de ciência bem ordenada. Todo mundo na comunidade cientÃfica sabe que as condições de ciência bem ordenada não são satisfeitas mas é possÃvel almejá-la, a democracia é preferÃvel à s alternativas. Buscar em cada época a verdade significativa.
A pesquisa cientÃfica é feita num mundo imperfeito. Há problemas de representação inadequada e falsa consciência, mas há maneiras de minimizar o mal. Um realismo modesto sobrevive aos mais sofisticados desafios. A ciência bem ordenada é um processo no qual a atitude cientÃfica conta mais que o cientista individual. 0 que os cientistas fazem é tratar de discernir o verdadeiro valor de uma grandeza fÃsica dado o conjunto de medições.
Mas os fatos, ah, estes permanecem: o Real é o que sobrevive às nossas opiniões.
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