A pessoa fica brava com spoilers, mas lê o horoscopo...

Alguns acham que o percurso é mais bonito que o destino.

Talvez esteja fazendo uma analogia muito superficial, mas gravo alguns jogos de futebol para rever mesmo sabendo o resultado. A construção desse resultado é o que me interessa.

Juliana Albuquerque, com este final lerei o livro. Qual tradução indica ?

Pretensiosa, como de costume. Como já disseram, um grande livro não permite surpresa ao final, isso seria sinal de má construção dos personagens. Acontece que a ínfima minoria das obras merece o adjetivo grande. E, se é vdd que tirar a surpresa não acaba com o valor da obra, tb é fato que a surpresa tem algum valor. Em geral, inversamente proporcional à qualidade da obra. Negar isso é pedantismo. Em Anna Karenina talvez o spoiler tire 1% da graça, em uma obra contemporânea, pode tirar 100%.

Conhecer o desfecho de uma obra é apenas um dos prazeres da leitura. Mas, no caso dos clássicos, sorver todas as nuances que, passo a passo, culminaram naquela etapa é uma irresistível jornada que, em momento posterior, poderá ser refeita, possibilitando captar novos aspectos não pinçados anteriormente. Há sempre bons motivos para reler os clássicos.

Sem dúvida, a fruição de uma boa história é motivo para lê-la, independentemente de detalhes que conheçamos pela crítica ou pelo material de divulgação da literatura. Essa sua conversa com o amigo sobre se teria havido suicídio da personagem me fez lembrar da discussão sobre se teria havido traição da Capitu em Dom Casmurro: é aí mesmo que se tem desejo de ler a história, quando um acontecimento nos fisga no recôndito da nossa psique pela ambiguidade que apresenta.

Essa cultura em torno do "spoiler" (palavrinha feia!) está estragando até as conversas sobre filmes e livros. Começa-se a falar sobre um livro ou filme e logo vem alguém e diz: "Sem spoiler!" Ora, quem gosta mesmo de ler ou ver filmes não se importa com isso. Aliás, o que é mais importante na arte da escrita ou do cinema etc.: a história que se conta ou como se conta? Vi "O nome da rosa" antes de ler o livro, e a leitura foi uma delícia, apesar de eu já saber o final. E daí?

Que ótimo artigo, Juliana. Estava pensando nisso ontem à noite, antes de ler Shakespeare. Comecei a leitura de Macbeth, mesmo lendo vários críticos e até trabalhos envolvendo o escritor, resolvi ler esta obra. Sempre grato pelos seus textos querida. :) Deixei de usar as redes sociais há algum tempo e estou usando mais o Substack. Um abraço.

Quando vou numa livraria, sempre vejo a primeira parte do livro, o meio e como acaba a obra; para mim é a coisa mais normal que existe e se me contam o spoiler de um filme, nem me esquento: ou fico com vontade de assistir ou dependendo deixo pra lá...

Ok. Vamos lá ... Eu li a mais ou menos um ano a obra de Tolstoi citada,e já sabia da morte da personagem. A leitura de fato não deixou de ser ótima. Mas não seria melhor ainda se fosse surpreendido por essa morte? Ou que,o tempo todo (desde o início) algo na minha cabeça dizia: "ela vai morrer"? Sendo assim concordo quando é dito na coluna que o spoiler não "deveria" tirar o interesse na leitura. Mas podendo ser evitado a leitura será ainda mais interessante.

Certamente, a Juliana Albuquerque está coberta de razão em sua avaliação. Quantas vezes a gente lê e relê obras que nos tocaram emocionalmente! Ou assiste filmes, shows, peças, etc. O que de fato aborrece muito aos leitores e ouvintes é quando "críticos" mais contam a história do que efetivamente avaliam e comentam. E o meio literário está cheio disso aí.

Prezada dra. Juliana, estou virando sua fã! Suas colunas são corajosas, pertinentes e bem fundamentadas! Amo os temas que escolhe para desenvolver. Que alívio ler uma especialista em literatura que sabe defender suas ideias e escreve tão bem!