Mais uma vez um simples artigo faz valer minha assinatura na Folha. Só estou aqui por causa do Pondé e, claro, uma coisinha ou outra que a Folha deixa escapar.

O questionamento peca pelo extremismo. Não é preciso largar a “ação “ em prol do ócio. Mas, de longe, esse modelo de “ação” desenfreada não é nem um pouco saudável. Pode-se e deve-se desembarcar do navio negreiro, ainda que por um breve período, nem que seja pra olhar o voo dos pássaros, caminhar sem rumo ou simplesmente dormir. Mas o que mais tem são cidadãos comuns, como cantou Belchior: “ Era feito aquela gente honesta, boa e comovida Que caminha para a morte pensando em vencer na vida.”

Não tenho tempo de contemplar ou filosofar.

Acho que mesmo nós, cidadãos de um país pobre, podemos gozar da vida contemplativa. Não vou para o lado ascético. Proponho exercícios simples: fazer a respiração do quadrado (pesquisem!); deixar o celular de lado na maior parte do tempo; pisar no chão descalço; passar meia hora tão só e simplesmente olhando para o teto; tomar Sol; fazer algo que o deixe relaxado (pode ser ler, correr etc.).

Embora não estejam citados na lista de autores (exceto Benjamin), o tema remete ao chamado marxismo da melancolia da escola de Frankfurt. Tanto o mito de Orfeu, como a cena de Ulisses e as sereias, são bastante discutidos por Adorno e Horkheimer.

O rolando-lero da filosofia nacional

Vida contemplativa? Que pre guiça … cuidado com a riqueza, olha a parábola do camelo e a agulha. Então, se eu for uma pessoa “direita” papai do céu me deixará nele entrar? Ufa! senhor Pondé, o que faríamos sem a sua pregação salvadora

Vida contemplativa? Que preguiça!!! Então se eu rezar direitinho papai do céu me deixará entrar? Não sei o que seria de alguns sem as muletas espirituais. Luzinho o mora lista de sempre.

É uma ideia bastante romântica. É como ouvir "Up where we belong" com Joe Cocker e Jennifer Warnes

Respondendo sua pergunta do final do artigo: os aposentados, e são muitos rs

... eu gostei desta ideia: ... "ponha mais água nesse vinho".... gostei muito, ideia magica, pesssoal "ponha mais água nesse vinho".

Então, aproximando-se dele um escriba, disse-lhe: “Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores”. Jesus lhe respondeu: “As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça”.Ferrou!

Pior que o complexo de vira-lata é a soberba do brasileiro que tem um ou dois ou três empregos para garantir que uma boa parte da sua remuneração seja destinada ao pastor cuja riqueza não para de crescer. O pastor, certamente, terá uma prazerosa vida contemplativa. Mas o crente tungado pela oratória do Cícero de gravata que dispara perdigotos em profusão atrás do púlpito viverá apenas o suprassumo da alienação religiosa: acreditar que possuirá ouro na Terra e no céu.

Quem sabe introduzir a contemplação num domingo de descanso, o qual antecede a semana útil de labor diário.

Sem querer negar a vida contemplativa de monges e ermitões, o ser humano foi talhado para a ação. Isso não significa que esta deva ser mundana e secular. Emerson ensinou que devemos atrelar nossa carroça (referindo-se à vida) a uma estrela: Hitch your wagon to a star.

Houve uma época em que, no velho Oriente, se encontrava multidão de pessoas em estado de contemplação, com a idéia fixa de entrar no Todo, em busca da felicidade, e Jesus veio salvar essas criaturas, colocando-as em movimento, porque o próprio Deus que eles adoravam somente pelo pensamento, trabalha constantemente. Se Ele parar por uma fração de segundo, toda a criação se desnorteia em seus destinos.

Têm, perante Deus, algum mérito os que se consagram à vida contemplativa, uma vez que nenhum mal fazem e só em Deus pensam? “Não, porquanto, se é certo que não fazem o mal, também o é que não fazem o bem e são inúteis. Demais, não fazer o bem já é um mal. Deus quer que o homem pense Nele, mas não quer que só Nele pense, pois que lhe impôs deveres a cumprir na Terra. Quem passa todo o tempo na meditação e na contemplação nada faz de meritório aos olhos de Deus, porque vive uma vida toda pessoal

Se entendi bem, o autor pondera sobre a importância da vida orientada ao valor econômico e reclama por uma vida mais conectada com a natureza, minimalista, centrada nas necessidades naturais. Algo como Demócrito e outros estóicos. A palavra "contemplativo" pode confundir e hoje muitos a têm com endeusamento de si mesmo. Ao contrário, o desapego e a genuína modéstia são qualidades essenciais para a verdadeira contemplação.