Mirian Goldenberg > As mazelas da 'geração sanduíche' Voltar
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Justa Lerda, Mirian, que treta... A questão final, um enigma daqueles de Esfinge, com deglutição garantida: se bobear, ninguém. É a saga das mulheres que "ficavam pra tia" e cuidavam dos pais, só que piorada - agora, *todas* são as Tias. Como fenômeno micro-social, já continha algo de cruel; como mazela macro-social, é também prenúncio de caos. Como é que uma sociedade vai dar conta de um monte de mulher estropiada? E de famÃlias que, organizadas em torno dessas mulheres, são frágeis? Encrenca.
Adorei o comentário na Tati, em breve vem mais sobre a dor do desamor
Cuidado e autocuidado
E sem qualquer tipo de reconhecimento e reciprocidade
O pior é que, quando dizem não, são acusadas de egoÃstas
[Cabei de ver que nos encontramos na Tati Bernardi! Boniteza, cê é admirável mesmo. Beijoca bem estalada!]
Tô olhando pra mim, pra uma situação potencialmente análoga: eu não tenho aposentadoria, tô contando com minha força de trabalho até a morte. É verdade que estou organizando um contexto de trabalho presente e futuro muito favorável, leve e suficiente, que inclui minha amada no plano. Mas se eu tiver um treco, sobrei pra minha esposa. E minhas irmãs - oh, mulheres! Preciso, no mÃnimo, de um seguro de vida/acidente. Putz, carÃssima, sério aviso, o deste artigo: cuidar pra não ser fardo perpétuo...
Minha avó dizia: "A mulher nunca se aposenta!". A cultura patriarcal de que a mulher "é quem cuida" e é responsabilidade e dever dela fazê-lo nos é imposta desde a tenra idade. O conceito de "homem provedor" e "mulher que tem o dever de cuidar" ainda continua, porém na prática também a mulher agregou o "provedora" e para isto também precisa buscar "o estudo". O "pacote" se tornou pesado e também vem carregado com o "ser linda", submissa, carinhosa, sempre alegre e disposta, ser muito ativa...
Aprender a dizer não sem culpa
Verdade, pacote muito pesado
...folgados, incutem o conceito da "mulher serviçal", qyantos homens adultos e até idosos "grudados na mãe" que resolve tudo, inclusive o financeiro e se casados exigem que a nora seja e aja como ela. Cobram, injustamente, o que sempre lhe foi injustamente cobrado. E... o ciclo continua...Para sermos consideradas "mulheres de verdade" temos de ser tudo o que é cantado na música da "Amélia". Só que a Amélia não era "mulher de verdade" e sim uma tonta sem amor próprio. Eu,fiz tudo diferente:huhu!
perfeita em tudo o que faz... e, a lista continua e é extensa... Somos adestradas a nunca dizer: "não" a tudo que nos é pedido, seja de quem for. Se os filhos não forem "bem educadinhos" a culpa é só nossa. Se a casa não estiver imaculadamente limpa e organizada somos taxadas de relaxadas. Se ficamos doentes: rstamos fazendo "corpo mole". A meu ver, além do coceito cultural, as próprias mulheres são as que perpetuam esta visão. Criam filhos e filhas absurdamente dependentes, filhos homens bem...
Nasci em uma famÃlia de cinco filhos, muito pobre. Meus pais apesar de terem pouquÃssimo estudo tinham muita sabedoria e davam bons exemplos com suas atitudes. Cuidamos de nossa mãe que ficou cerca de dois anos doente e atualmente cuidamos de nosso amado pai no leito de uma UTI há mais de um mês. Procuramos nos revezar de maneira que não sobrecarregue ninguém. Apesar de termos uma vida simples, temos muita dignidade. O amor e a união venceram! Sinto-me privilegiada!
Prezada sr.a Luzia. Eis o segredo tão óbvio e simples. Ao optarem por uma vida sem muitas regalias as coisas tornam-se mais fáceis, posto que, nao ficarão sobrecarregadas com tantos afazeres e por conseguinte terão mais tempo para a famÃlia que por dedução óbvia cuidarão de seus entes queridos uma vez que optaram por valorizar mais o cultivo dos relacionamentos do que o amor pelo dinheiro. A vida mais simples parece ser o caminho... Obrigado pelo seu exemplo de vida.
Amor e união
Curioso quando ela diz "e se eu morrer...". Não é se, é quando. Isso vai acontecer. Um dia todas essas mulheres terão de deixar este mundo e quem ficar não foi devidamente preparado para assumir responsabilidades. A sociedade, filhos, netos e todos que dependem dessas nobres mulheres precisam para ontem começar um profundo processo de auto reflexão sobre qual seu papel neste mundo.
Verdade. Quando eu
O problema é que esse cuidar pela mulher e esquecer de si, que é uma exigência de uma sociedade fruto do patriarcado é muito exaustivo e perverso. Sem tempo para cuidar de si ao fim e ao cabo, ainda tem medo de morrer e não saber como sobreviverão os demais. O pior é que se ela morrer a vida se ajusta e seguirão todos vivos. Assim, por maior que seja a fantasia imposta pela estrutura patriarcal, de que é nosso dever cuidar dos outros, temos que mudar a chave e buscar cuidar mais de nós.
Verdade
Bem que esse cara "de 32 anos que ainda estuda e mora com ela" poderia assumir mais responsabilidades. Não apenas ganhar o próprio sustento, como também ajudar a mãe a cuidar de quem realmente precisa de cuidados. Tá passando da hora da geração canguru levar um belo chute no traseiro.
A questão não se prende a classes sociais, mas sim ao papel feminino que está sempre se incumbindo em executar "todas saÃdas" para os problemas de pessoas que deveriam também tomar seu rumo, se comprometerem com o papel que lhes pertence. Tenho familiar nesta situação que continuará, pois os próprios pais mantém a acomodação.
Triste
A própria Miriam responde as nossas considerações. Que legal!
Apenas a Mirian desse do Olimpo. Os demais jamais.
Eu gosto muito de receber os comentários dos meus leitores e leitoras. E ainda tenho ideias para as próximas colunas
O correto é cuidar de quem depende de nós,mas é preciso separar algum tempo para nós mesmos .
Mirian, seus relatos são pungentes, mas sua pesquisa aborda a classe média. A situação ‘aqui embaixo’ é bem pior.
Adorei seu comentário acima
Eu sei Filipe, é muito pior. Verdade
Tudo conspira para que a pessoa possa ter um fim de vida, pelo menos, com dignidade. até a eutanásia é proibido.
Sem dignidade e sem autonomia de escolha
Envelhecer é inevitável, é inexorável. Se preparar para a velhice é opcional, é uma escolha. Preparar os filhos para a nossa velhice é questão de educação e prevenção. Orientei minha filha para que buscasse a independência emocional e financeira porque na minha velhice eu não gostaria de cuidar dela. Deu certo.
Que bom que deu certo
Mirian, eu nasci e fui criado em Ribeirão Preto, em décadas de muito calor na cidade. Rodei por várias cidades e aos sessenta anos decidi voltar a morar em Ribeirão e pensei: e o calor? Hum, já sei, vou pensar e dizer que o calor é amigo, em vez de ficar reclamando dele. Funcionou!. Cuidar dos outros é coisa nobre e gratificante, desde que não se passe a vida reclamando disto. Eu já tive que cuidar de minha mãe e depois fiquei sem ter de quem cuidar, então adotei uma gatinha, que amo.
E quem cuida de você?
Gostei de sua atitude.
Me lembrou do Caio Fernando Abreu: um amigo me chamou para cuidar da dor dele. Guardei a minha no bolso, e fui.
Imagino se os filhos dessa senhora que é médica cuidarão dela na velhice avançada. E aà eu me lembro do "O Pai Goriot", do Balzac, em que ele diz que foi sugado e aproveitado pelas filhas como um limão, e depois descartado no meio da rua como o bagaço.
Sugado e descartadoÂ… muito triste e muito mais comum do que imaginamos, dentro das nossas próprias casas e famÃlias
Tenho 59 anos e cuido da minha mãe de 90. Felizmente tenho o apoio inestimável da minha esposa. Posso dizer de cátedra que não é nada fácil pois nossa vida social está quase completamente restrita à nossa casa.
Verdade Raul
Faço dessa médica minhas palavras , hoje em dia penso da mesma maneira , não posso morrer pois tanta gente depende dos meus cuidados . Por isso precisamos de mais mulheres na politica e também discutir a educação masculina e o papel dessa mulher cuidadora ( imposto nos ).
Verdade Silvia
É preciso aprender a cuidar de si para que o cuidar do outro seja ação humanizadora. Se cuido de todos, sempre, o que estou ensinando? O que não aprendi? Desejo sorte e autocuidado às cuidadoras e cuidadores.
Não aprendemos mesmo
Terapia não é luxo, e isso precisa ficar claro. Essa médica tem condição de cuidar de si e de colocar um pouco de limite em quem ela ajuda. Também sou da geração sanduÃche - cuido de pais, filho, marido, bichos e trabalho - e posso dizer que a situação é muito pior para as mulheres que têm menos condição do que essa senhora. É preciso que nós, mulheres, saiamos do lugar de mártir, que aprendamos a colocar os limites que forem possÃveis. Caso contrário, somos parte do problema.
A senhora é uma lutadora. Minha mãe não chegou a cuidar de netos, mas sempre teve encargos altos em casa e no trabalho. Ela repousa da paz de Deus. A onda ficando do COVID a levou, mas ficou na nossa memória a doce mãe que ela é.
Você tem razão PatrÃcia. Os limites devem ser estabelecidos de inÃcio e de forma clara, principalmente para os filhos. Cangurú é na Austrália. Marcos Acquaviva estou acompanhando a minha esposa em um pós doutorado( um ano) em Eau Claire, Wisconsin, EUA. Percebi que é muito frequente essa realidade que você citou: 18 anos, faculdade, vai trabalhar e vaza, vai cuidar da sua vida. É impressionante o número de idosos que moram sozinhos. Pais que cumpriram o seu papel. Ponto.
Eu concordo com você. As pessoas fazem conosco o que permitimos que façam. Um lado meu admira o modelo americano: fez 18 anos? Vai fazer faculdade, vai trabalhar, vai ter seu canto.
Será, mesmo?!
Além de também ser da geração sanduÃche, sou psicóloga clÃnica. Recomendo a todxs a leitura do livro "Abandonar o papel de vÃtima", de Verena Kast. A Geni da música do Chico Buarque não pode existir mais. Geni só era uma geni porque não se defendeu, não reagiu, não mudou de cidade etc.
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