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Adorei o artigo e o filme!
A hipótese Freud de que "O Deus pessoal não passa de um pai transfigurado" revela que ele sofria desse mesmo mal: o fenômeno psÃquico do "Daddy issues". Era ressentido com o seu papai. Assim, começou a odiá-lo e, por tabela, odiar Deus.
Os ateus, salvo algumas exceções, são o resultado de um conflito familiar com a figura paterna. Têm uma relutância em aceitar a autoridade do pai, transferindo-a para Deus, o Pai por excelência. Na verdade, a causa principal do ateÃsmo é o "Daddy issues" (problemas com o papai), expressão própria do jargão psicanalÃtico.
Todos os ateus famosos da atualidade tinham "Daddy issues". Ou uma profunda decepção com o seu pai ou um grande desejo de matá-lo até mesmo por não querer se submeter a qualquer autoridade, pois a base da submissão a autoridades começa no lar, com o pai. E o Supremo Pai é Deus. Historicamente, no mundo moderno, começa com a estória de Édipo Rei, na qual ele mata o próprio pai, que originou o que Freud denomina, de forma manipulada e distorcida, o Complexo de Édipo.
Carlos, não sou eu quem afirma que Deus é homem: é a BÃblia. O próprio Senhor Jesus, ao ensinar a Oração-modelo, o Pai Nosso, refere a Deus como Pai. Resumindo muito. Eu duvidava que a BÃblia fosse um livro inspirado. Era esotérico e zen-budista. Fui analisá-la para validar minhas expectativas de que foi adulterada. O tiro saiu pela culatra: me converti ao cristianismo. Hoje estou provando do meu próprio veneno: eu era igual a vocês.
Caro Carlos Alberto, SE, SE, SE... Trabalhar em cima de hipóteses esdrúxulas. E se os marcianos invadirem a Terra?
Autoridade a Mãe também tem! Mesmo na época de Freud. E se Deus for mulher? Ou qualquer outra coisa, inclusive nenhuma, em se tratando de gênero? Percebe, Joel, o viés machista?
Todos os clássicos da literatura contêm, alguns de forma velada, o desejo de matar o pai. De "Macbeth", de Shakespeare, ao próprio "Os Irmãos Karamázov", a peça "Ãlbum de FamÃlia" de Nelson Rodrigues... Ainda em "O Sobrinho de Rameau", Diderot declara que se deixássemos um menino crescer totalmente sem educação, ‘ele com o tempo passaria a unir o raciocÃnio de uma criança à s paixões do homem adulto. Estrangularia seu pai e dormiria com sua mãe. Não é à toa que Freud tenha virado seu fã.
A Vera no inÃcio do texto deixa evidente onde o olhar se detém. Para muitos, na vigilância da sexualidade alheia, ou das sexualidades, gêneros, desejos, práticas sexuais, portanto discursos e práticas sociais violentas.
O pensamento freudiano não pode servir de gabarito para a atualidade. É, no mÃnimo, anacrônico. Em sua época, os casos de histeria proliferavam, em resposta à repressão sexual do século XIX. Sem falar que os pacientes de Freud eram essencialmente mulheres (desconheço casos de homens). Sociedade machista, doença misógina (histeria), grosso modo, nervosismo supostamente originado no útero, caracterizado por convulsões. (continua)
(continuação) Daà o seu nome, desde que útero é "ýstera" em grego. Engrossa a misoginia freudiana sua tese de que a mulher tem inveja do falo. Igual sorte merece sua declaração: "A grande pergunta que nunca foi respondida, e que ainda não consegui responder, apesar dos meus trinta anos de pesquisa sobre a alma feminina, é o que uma mulher quer?"
Como ensina Wade Davis, "A nossa cultura ocidental moderna representa muito pouco na escala temporal da História da Humanidade." Como modelo para humanidade, o pensamento moderno é nulo. Não dá nenhuma garantia de que daqui a cem anos tudo não possa voltar ao "status quo ante". A Grécia antiga já não é mais a Grécia antiga. O mundo não começou com o Manifesto Comunista ou após a invenção da Coca-Cola. Muito menos depois da queima de sutiãs em New Jersey (Women's Lib) ou do Movimento Hippie.
A hipótese de que a homofobia é uma forma de repressão no outro do que ele tem dentro de si é uma explicação por demais simplista. Vivemos na sociedade ocidental, em uma cultura judaico-cristã que considera pecado sexo não binário, isto com base na BÃblia. A grande maioria foi educada em famÃlias cristãs, onde tal comportamento era reprimido. Até a década passada os transtornos da sexualidade eram classificados no CID como doença. Do dia pra noite vir com essa hipótese...
Após milhares de anos com a cultura geral da humanidade de condenação ao sexo não binário (o "homo sapiens" tem mais ou menos 300.000 anos), neste momento da história da civilização, que representa um segundo de tempo, [uma ninharia na escala cosmológica do tempo], simplesmente rotular o homofóbico de homossexual recalcado é de uma pobreza de argumentação imensa.
Vai repisar essa tecla do desejo reprimido após tudo o que expus? O revelho argumento ad hominem, mediante o qual, ao não conseguir refutar meus argumentos, busca atingir minha autoestima desferindo a pecha de homossexual para mim. Sabia que, com esse artifÃcio, você está sendo homofóbico? Por essa lógica perversa, todo vascaÃno que odeia os flamenguistas é um torcedor do Flamengo enrustido. Muito bem. Tchau tchau Deus lhe abençoe!
Penso que o golpe baixo desferido contra o desejo é que tenta fugir.
Quer sair pela tangente? Usando sua própria terminologia. Por que a mitologia grega é mais plausÃvel do que a BÃblia? Lembro que o apelo ao ridÃculo é uma falácia utilizada ao considerar uma ideia falsa porque soa ridÃcula. Segundo a Teoria da Argumentação, falácia é um golpe baixo por quem não quer enfrentar o cerne do debate.
Não me respondeu, FabrÃcio. Vou ser mais sucinto. Tanto a cosmovisão freudiana quanto a filosofia ateÃsta contemporânea são todas calcadas na mitologia grega. Então, por que os mitos gregos têm mais valor ou ascendência sobre a narrativa cristã e de seus princÃpios fundantes da humanidade?
Com a bÃblia, fica difÃcil, né, prezado? Todos podem escrever, mas a plausibilidade da escrita é que vai ser determinante.
Fabrizio, quer debater? Não quero ser prolixo nem muito extenso. Apenas para ilustrar, toda a teoria psicanalÃtica de Freud foi pavimentada em mitos gregos. Inclusive, o famigerado Complexo de Édipo é todo calcado na peça Édipo Rei, de Sófocles. Psicanalistas ateus no Café Filosófico, num arroubo de sabedoria, ousam explicar o ingresso do mal no mundo mediante o mito da Caixa de Pandora. E por que os mitos gregos são mais legÃtimos do que a BÃblia?
Totem e Tabu.
A hipótese de que a homofobia é uma forma de repressão no outro do que ele tem dentro de si é uma explicação por demais simplista. Vivemos na sociedade ocidental, em uma cultura judaico-cristã que considera pecado sexo não binário, isto com base na BÃblia. A grande maioria foi educada em famÃlias cristãs, onde tal comportamento era reprimido. Até a década passada os transtornos da sexualidade eram classificados no CID como doença. Do dia pra noite vir com essa hipóteseÂ…
Não sei se a chamada cura gay pode ser efetiva. Duvido que haja algum estudo de um grupo estatisticamente significativo de homossexuais, parte dos quais seria submetido à terapia e parte não. Acredito ser apenas uma questão de fé (como aliás também é o caso da psicanálise).
Acho que agora precisamos recorrer à contribuição de Winnicot. rsrsrs
Carlos, fé e desejo são quase sinônimos. Uma criança tem fé (deseja) que papai noel lhe trará presentes.
Lacan agradece, Carlos.
Não é da ordem da crença; é da ordem do desejo.
O que dizer da fé que move a heteronormatividade compulsória, então?
Após milhares de anos com a cultura geral da humanidade de condenação à homossexualidade (a espécie humana tem mais ou menos 300.000 anos) neste momento da história da civilização, que representa um segundo de tempo, [uma ninharia na escala cosmológica do tempo], simplesmente rotular o homofóbico de homossexual recalcado é de uma pobreza de argumentação imensa.
Há pessoas que rotulam de fobia tudo o que se opõe aos seus conceitos e ideologias de vida. É um tiro no pé. Ironicamente, a não aceitação do que lhes é contrário respaldado nesse argumento dá o direito de rotulá-los como fóbicos também. O simples fato de combater ideias opostas a partir dos sentimentos do interlocutor converte, por via oblÃqua, seus argumentos em argumentos "ad hominem". Nada de novo no "front".
É isso, prezado leitor: a bissexualidade latente já não pode mais ser reprimida. A fobia advém de posicionamentos fechados. Nossa possibilidade de um mÃnimo de utopia está na abertura do pensamento, e isso compreende as divergências.
Que prazer intelectual me proporcionou a leitura desse texto! Obrigado, Vera!
"O homem não é feliz antes de seus desejos incondicionados determinarem limites a si mesmos". Os anos de aprendizado de Wilheim Meister, Goethe.
Como sempre um texto sutil, delicado e elegante. Que com o exercÃcio da observação e da reflexão possamos entender um pouco mais dos complexos processos da estrutura psÃquica do ser humano.
É isso. Democracias e democracias. Infelizmente, a nossa democracia ainda esbarra em muitas fobias - misoginia, homofobia, aporofobia, entre outras. Tendo a pensar que a raiz dessas fobias está na homossexualidade latente, causadora de guerras. E, certamente, seu lugar mais aconchegante está nas famÃlias. Utopia é utopia; distopia é realidade.
Acrescentaria a questão moral, evidentemente.
Obrigado pelo texto :)
Do your own algorithm!
Excelente artigo, como sempre. O que mais admiro em sua escrita, Vera, é a sensibilidade em despeir-se do academicismo. Há leitores (cultos) desprovidos dessa habilidade, incapazes mesmo de compreender. Deixa estar.
Nem tao cultos assim... só chatos, muito chatos.
Verdade.
Sugiro o filme: O jovem Karl Marx. Netflix
Tenha paciência, Vera Iaconelli, já que ano começa com um "erudito" lhe chamando a atenção. ; )
Daniela, a verdade sempre incomodou aqueles que enveredam pelo caminho do erro. A BÃblia diz: "1 João 4:8 - Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor." Os ateus, por não crerem em Deus, não têm amor porque Deus é amor.
Cinjo-me apenas a repetir: vocês nos honram diante do nosso Deus, pois: "Lucas 6:22 - Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem e quando vos separarem, e vos injuriarem, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do Homem." Porém, ainda acrescento: "IsaÃas, 55:11 assim será a palavra que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia; antes, fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a enviei."
Mais do "ad hominem", né, Daniela? Faço minhas as palavras de João Pereira Coutinho, colunista da FSP: "Escreve Taleb: 'Nunca se ganha uma discussão até começarem a atacar a nossa pessoa'. Comentário: Quando os meus crÃticos usam argumentos racionais, eu deprimo e medito onde falhei. Quando me insultam, sorrio com prazer e saboreio a vitória." Entendo pessoas como você. Tudo normal outra vez.
Alias, nao dou mais corda pq ele precisa de outro tipo de atençao.
Esse cara é um baita espaçoso. Deve ter tempo. Eu q gosto de ler os comentários tenho q ficar desviando dos bla bla blás pseudo eruditos.
Estamos numa democracia, amiga. O direito à manifestação do pensamento e opinião é livre. Direitos e Garantias Individuais elencados na Constituição Federal de 1988. O contrário é censura. Nem todos atingiram tal patamar civilizatório.
Neste ano completo meio século de vida (uau, meio século!). Sinto-me realizada por caminhos que foram trilhados a partir de alguns condicionamentos propiciados por meus pais (sou grata por isso). Se tem alguma coisa que gosto de fazer é de viajar, e sempre para lugares diferentes, então desse sonho não pretendo me desfazer. No ano passado tive a chance de ajudar, de forma episódica, um rapaz expulso de casa pelo pai por sua orientação sexual: desconheço seu destino, espero que esteja bem.
A articulista, no afã de desejar votos de Ano Novo, sempre busca uma maneira de enxertar temas ligados ao universo esquerdista, como desconstrução da famÃlia, tarefa inglória a que não quer se furtar. É paradoxal querer conciliar ideais marxistas com o escopo psicanalÃtico que Freud divisava. A psicanálise é distópica. Até o tÃtulo da obra "Mal-estar na Civilização" é bastante elucidativo da questão. Ao passo que o Materialismo Histórico-dialético, sobre o qual repousa toda a doutrina marxiana,
Lembrei de Drummond: "Mundo, mundo, vasto mundo. Se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não uma solução." Por isso que não vale a pena ser ou pensar igual a você.
Caro Raymundo, repisando o revelho argumento ad hominem apenas com intuito provocativo. Não vou cair na armadilha. Quando um não quer dois não brigam. Deus lhe abençoe!
O Sr. Joel parece se orgulhar de ser chato, e de não saber ler(ou não querer-saber)uma crônica de fundo psicanalÃtico. Não lhe recomendo humildade de leitura, pois sei que não adianta. Não lhe recomendo estudar psicanálise para entender o texto, e nem fazer psicanálise ou psicoterapia, pois tb suspeito "não adianta". Enfim, infelizmente, há pessoas que vivem sob o domÃnio do efeito Dunning-Kruger. Lamento e fico triste.
Maria, apenas argumentos "ad hominem", pois não? É tão fácil e cômodo... Basta xingar o interlocutor, no caso, eu, pondo-o em descrédito por meio de adjetivos pejorativos e/ou ataques à sua pessoa, até mesmo deboches, como você o faz. Qualificativos depreciativos existem à saciedade. É mais fácil do que ter conhecimentos e argumentos para atacar o cerne da questão. Veio com toda fúria. Inteligência emocional também é requisito para o debate saudável. Entendo pessoas como você. O mundo é assim.
O pastor evangélico comparece para destilar preconceitos e distorções do que lê e não compreende. Já que se permite ser tão pernóstico com os textos e as ideias alheias, sugiro uma longa temporada de divã. Ou dar uma longa folga aos leitores da Folha, pregando em outras freguesias.
(continuação) é utópico, no sentido de final feliz. Já fica difÃcil aÃ, amarrar essas pontas da corda. Pior é quando Engels, na sua obra "A Origem da FamÃlia etc”", manifesta seu repúdio à homossexualidade, denominada ali de pederastia, prática associada a Ganimedes (cap. II, tópico 4, A FamÃlia Monogâmica). A articulista tenta, sem sucesso, dar uma roupagem acadêmica a essa colcha de retalhos que é suas crenças e ideologias.
Jaqueline, os velhos argumentos "ad hominem", né? Já os esperava. Eles vêm recheados de clichês de pseudointelectuais. Faço minhas as palavras de João Pereira Coutinho, colunista da FSP: "Escreve Taleb: 'Nunca se ganha uma discussão até começarem a atacar a nossa pessoa'. Comentário: Quando os meus crÃticos usam argumentos racionais, eu deprimo e medito onde falhei. Quando me insultam, sorrio com prazer e saboreio a vitória." Entendo pessoas como você. Tudo normal outra vez.
Jaqueline, os velhos argumentos "ad hominem", né? Já os esperava. Eles vêm recheados de clichês pseudointelectuais. Faço minhas as palavras de João Pereira Coutinho, colunista da FSP: "Escreve Taleb: 'Nunca se ganha uma discussão até começarem a atacar a nossa pessoa'. Comentário: Quando os meus crÃticos usam argumentos racionais, eu deprimo e medito onde falhei. Quando me insultam, sorrio com prazer e saboreio a vitória." Entendo pessoas como você. Tudo normal outra vez.
O comentarista traz curiosas elucubrações a partir do seu entendimento sobre crenças e ideologias, supostamente embasadas na costura aleatória de pré-conceitos e tiradas acadêmicas. Contudo, o tecido esgarçado dessa "colcha de retalhos" não dá conta de encobrir (antes, revela) preconceitos, mal disfarçados ainda que revestidos de arrogante erudição. O comentarista, recalcado em suas crenças tentou, sem sucesso, desqualificar as reflexões para o Ano Novo da colunista. Liberdade de expressão.
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