Sérgio Rodrigues > Cortar é bom, escrever é melhor Voltar
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Cortar palavras não seria a maneira mais elegante de elaborar um texto. A pontuação já faz essa seleção, uma vez que os gramáticos a consideram como uma elaboração do discurso. É quando se separam os meninos dos homens e determina-se o fim da pobreza de argumentos.
Eu ainda continuo assinando este jornal pelos seus textos OOOOO
Me parece pequenez interpretar "cortar palavras" literalmente. Acho a expressão tão bonita e nos faz pensar. Cortar, recortar, colar, mudar de posição, refazer....Milton Hatoum é famoso. Nem por isso gosto de sua literatura. Outra pequenez, achar que a fama garante unanimidade no gosto literário.
Milton Hatoum é conhecido por seu meticuloso processo de escrita, que envolve dedicar anos ao desenvolvimento e revisão de seus textos antes de considerá-los prontos para a publicação. Hatoum enfatiza a importância da revisão e do aprimoramento contÃnuo de suas obras, buscando a precisão e a profundidade tanto na linguagem quanto nos temas abordados. Esse cuidado meticuloso é um dos fatores que contribuem para a riqueza e a complexidade de suas narrativas, fazendo de Hatoum um ótimo autor.
Talvez seja preciso cada vez mais talento quanto mais longo o texto. O Aldous Huxley escreveu que todos nós temos por vezes percepções shakespearianas, mas quando as colocamos em palavras é um desastre. Somos como o avesso do rei Midas.
Serjão, carÃssimo, esse é um pobrema com o qual convivemos, todos, os leitores-comentadores aqui da folha. Esse espacÃculo de comentários nos obriga à concisão - sem contar a sençurofrenia, idiota e incômoda. E não a acho ruim, na média: obriga-nos a fazer escolhas, pesar com cuidado as palavras, fazer dieta. Não é mau, não; se não chego a drummondear com o devido entusiasmo, reconheço que há não pouco ganho. Tá de tamanho razoável.
A imprensa como instituição é sábia. Limita o texto do artigo porque conhece a ojeriza do leitor para textos longos. A polÃtica vale também para as boas editoras de livros, que abominam os delÃrios epistolares.
Cortando até esvaziar ganharia o Nobel?
Sair cortando palavras até a página ficar vazia seria então o melhor texto?
"Catar feijão se limita com escrever: joga-se os grãos na água do alguidar e as palavras na folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar." João Cabral de Mello Neto.
Que final!
Armando Nogueira: certa época, quando ele escrevia no estadão, mandei um email desaforado. E não é que ele me respondeu? Grande Armando Nogueira! Se for escrever aqui, pitacando na Folha, é, de fato, cortar as palavras, e por vezes sair um texto malacafento.
A frase que virou lenda vem aliterada de outro mineiro pouco lembrado, até porque - reconheçamos o fato literário -, à meia altura do poeta de Itabirito. Assim falava Fernando Sabino:“É preciso descascar o texto como quem descasca uma fruta, ir buscar a semente. Escrever é principalmente cortar.”.
Do precioso baú, mais uma.
Mas Churchill, Nobel de Literatura, formulou a receita para escrever bem e se comunicar: “Das palavras, as mais simples; das mais simples, as menores”.
Escrever, muitas vezes, é cortar... na carne!
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