Sérgio Rodrigues > Por que 'crônica' e 'crônico', tão parecidos, são tão diferentes? Voltar
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Saboreie o tempo lendo a crônica e os comentários sem nenhuma pressa. Gosto de ler e escrever, e apreciei vagarosamente estes comentários.
Sobre o tempo, gosto da definição de Antônio Candido: "tempo não é dinheiro. Isso é uma monstruosidade do capitalismo. Tempo é o tecido de nossas vidas". A crônica, embora simples, breve e corriqueira, é um gênero textual que pode abordar questões sociais crônicas. Clarice Lispector nos presenteu com crônicas existenciais de tirar o fôlego.
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A Folha precisa urgente d crônicas como esta d Sérgio Rodrigues, para educar alguns leitores mui apressados na leitura, ou q ignoram a cultura, a filosofia, as origens d palavras e ideias. Nesse sentido, a Folha já teve o Cadernos Mais! o caderno Idéias. Se não é possivel reeditar estes Cadernos, pelo menos deve chamar atenão do leitor na Primeira página. Agradeço ao crônista.
A crônica parece ser uma complexa coleção de estruturas e camadas da temporalidade. Um mundo estranho, mas nosso; aproximações às criaturas desjeitosas que somos; fala de aspectos da nossa perspectiva, diz mais respeito ao que somos do que ao mundo ao nosso redor.
Por quê, numa crônica, não nos lembramos do futuro? Na crônica, somos nós que existimos no tempo ou é o tempo que existe em nós que nos torna escravos do kronos? O que realmente significa dizer que o tempo "passa" numa crônica? O que percebo, quando percebo o passar do tempo numa crônica? A crônica é um floco de neve que derrete por entre os dedos ao estudá-la.
A realidade não costuma ser o que parece: a Terra parece plana, mas é esférica. Da mesma forma, a estrutura do tempo não é o que parece: é diferente do curso uniforme universal. A gramática inglesa fala em dezesseis tempos verbais que envolvem a noção absoluta de "passado-presente-futuro". Se a gramática é inadequada nossa semântica também.
A nossa gramática é inadequada para falar do tempo; ela formou-se a partir da nossa experiência limitada, antes de darmos conta de sua imprecisão em apreender a rica estrutura do mundo. Nossa gramática é estruturada em uma distinção absoluta "passado-presente-futuro", que faz sentido em parte enquanto está perto de nós. A estrutura da realidade não é aquela que nossa gramática pressupõe.
A fÃsica mostra a desaceleração do tempo, o tempo passa mais rápido na montanha e mais devagar no vale. Um relógio preciso mede a diferença. Uma crônica feita na montanha seria assim diferente de uma feita ao rés do chão? Os acontecimentos acontecem segundo a ordem do tempo? Há mil Shivas dançantes e mil crônicas registrando o tempo passado?
A natureza do tempo talvez seja o maior mistério de todos. O fascÃnio é o que alimenta nosso desejo de conhecer. (Aristóteles, MetafÃsica). Kronos quantifica, kairós qualifica. Não penso em nada, ouço o tempo passar. Na mitologia hindu, a dança de Shiva é a passagem do tempo. Kronos é o carrasco limitador de atividades; kairós a exultação da meta cumprida, de momento oportuno, sorte e fortuna, do tempo desconectado. Nossas vidas são como uma viagem, tentando equilibrar kronos e kairós.
Belo comentário.
Parabéns pelas excelentes reflexões.
Caro Sérgio muito boa a sua crônica sobre a bifurcação entre Kronos e Kairo.
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