Mirian Goldenberg > Como Clarice Lispector, não consegui curar minha mãe Voltar
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Meditadores experientes não acreditam em tudo que sentem, nem esperam que sempre vão se sentir bem, tampouco que suas vidas devem seguir suas expectativas. Aprenderam arduamente que a mente deve ser abordada com distanciamento, que os "filmes" que ela projeta devem ser assistidos sem envolvimento pessoal. Assistem suas emoções com equanimidade, pois notaram o poder que davam a elas, a mensagem que elas queriam passar, se elas condiziam com a realidade, e para onde elas queriam levá-los.
Ao ajudar meditadores a abordar o sentimento de culpa, tentava mostrar-lhes que a culpa pode ser sentida tanto no corpo como na mente. De fato, para alguns deles, o sentimento de culpa se localizava no estômago como uma pontada, náusea ou sensação de vazio. Outros sintomas fÃsicos incluem tensão muscular, fadiga, insônia, problemas digestivos e choro. Aliás, era muito comum vê-los chorarem. (1/2)
Para outras pessoas, a culpa afetava o estado de ânimo, fazendo-as sentir-se deprimidas, nervosas ou ansiosas. A culpa também lhes causava fortes sentimentos de arrependimento. Isso muitas vezes levava à autocrÃtica, que pode gerar sentimentos de baixa autoestima, desânimo ou desvalor. (2/2)
A culpa (outras emoções também) precisa da sua atenção/foco para associar-se a uma narrativa que lhe garanta alguma sobrevida e vire um sentimento, senão só existirá por 90 segundos. Sentimentos como a culpa são como filmes que vêm e vão trazendo o passado recente/remoto que mantém você (sua atenção/foco) distante do aqui e agora - moradia silenciosa de onde surgem a liberdade, a felicidade e o amor. Lembre-se: emoção é atenção/foco em movimento no tempo.
Belo!
O sentimento/mecanismo da culpa não funciona comigo, pois sei em meu coração que sou apenas mais um fator numa cadeia de fatores que gera certo resultado. Além disso, como professor aprendi que ninguém pode ensinar nada a ninguém, se o outro não quiser aprender. Ninguém pode curar alguém se este não se aceitar/permitir. Sem curiosidade ninguém aprende nada. Sem intenção ninguém muda nem se cura. Antes de tudo, a pessoa têm que querer ficar curada.
Já que o sentimento de culpa decorre da tensão entre seus desejos e as expectativas do contexto em que eles ocorrem. Então, por que culpar-se se você não pode intervir em algo que está fora do seu controle? Por mais que você tente evitá-los, desejos e expectativas sempre surgirão, não é verdade?
Já que o sentimento de culpa decorre da tensão entre seus desejos e as expectativas do contexto em que eles ocorrem? Então, por que culpar-se se você não pode intervir em algo que está fora do seu controle? Por mais que você tente evitá-los, desejos e expectativas sempre surgirão, não é verdade?
Minha mãe padece da mania de queixar-se dos outros porque estes não correspondem as expectativas que ela cria. Quando noto tal comportamento lembro a ela a seguinte frase: "Mãe, macieira não dá laranja". Minha mãe adora comer laranjas, daà usá-la. A ideia é que isso virasse um mantra que fosse usado para curar esse impulso de esperar algo de alguém unilateralmente. Na verdade, percebo que ela sofre ao sempre presumir que uma outra pessoa satisfaça tais anseios.
Miriam, suas dores são de tantas e tantos. Grata por nos fazer lembrar dessas expectativas e do engodo de grande parte “para o seu bem” que nos faz repetir esse padrão sobre filhos. Vamos tratar de ressignificarmos nossa existência, inclusive para uma velhice sustentável
Verdade, Fabiana, tantas de tantos
Kiko. Vamos usar o espaço para o bem comum. Menos individualismo.
A realidade de tantos: Nascer para suprir as expectativas e curar as dores dos pais. A verdade? Jamais poderá ser feito. Não conseguimos suportar o fardo de carregar essa missão.
Verdade
Uau. Um soco no estômago. Tão pessoal, e paradoxalmente, tão comum... quantos filhos não sentem, de diferentes modos, que sua missão é salvar os pais... e tome análise pra correr atrás de lidar com esse inevitável fracasso...
E tome análise
Não sei o que lhe dizer! Mas um dos meus muitos Poetas preferidos, escreveu para você: "Na fogueira do que faço, por amor me queimo inteiro".
Lindo
Tão bonito e tão triste. Você me fez chorar
Que lindo LuÃs. Bonito e triste
Emocionante! Obrigada! Adorei, sobretudo as fotos, infelizmente não tenho fotos da minha meninice.
Debie, eu também só tenho essas.
Os caminhos da vida são difÃceis. Acho que a grande sabedoria adquirida com o tempo é - pelo menos racionalmente, porque emocionalmente é impossÃvel - afastar de nós qualquer manifestação de culpa e ressentimento, já que são faces da mesma moeda, da mesma doença. A consciência desta condição não afastará a dor que é inerente à nossa existência, mas nos trará serenidade para prosseguir.
Serenidade e paz
Seu texto foi um gatilho para mim. Também tenho uma menininha guardada em um armário escuro. Obrigada por compartilhar a sua esperança, que pode ser a minha também.
Com certeza Millene
A poetisa Roseana Murray é um exemplo vivo de que ao abraçarmos a nossa dor mais profunda encontramos não só a cura para todas as outras dores, bem como as sementes de amor, beleza e liberdade florescem afetando a nossa vida e das demais pessoas.
Mirian, você é simplesmente maravilhosa!
Nossa, muito obrigada
Mirian, não por acaso, desde nossos tempos numa chefia de departamento, aprendi a respeitar e admirar a sua determinação corajosa e persistência do estar no mundo. E, talvez mais importante ainda, apesar dos eventuais contratempos, sua boa disposição em favor da vida. Enfim, "Caminhos não há mas os pés na grama os inventarão" (Ferreira Gullar). Bjs. MMello.
Que lindo, querido amigo. Como escreveu Frankl, nunca perdemos a liberdade de escolher a atitude que podemos ter frente ao sofrimento inevitável
Muito lindo Miriam, parabéns.
Muito obrigada, Sinésio
nunca te vi , sempre te amei . não nos avisaram que antes de nascer terÃamos que vir ao mundo para atender as expectativas dos outros . Só vamos saber muito mais tarde e aà não dá para retroceder no tempo . Agora é largar a mão de trás para segurar o que tem pela frente . Bom proveito.
Podemos aprender com o passado para saborear o presente, um passo de cada vez
Que linda.. obrigada!
Amei
minha mae nunca gostou de mim... ela casou gravida na tentativa de arrumar a vida e passou a mesma infeliz... sempre deixou claro o qto me odiava me tratava mal e me batia muito... a alegria dela era o meu irmão irmão que ela amava e minhairma com que tinha identidade.... os filhos não falham a falha e ter um filho que se se pode amar
Oi querida Mirian! Livre-se das bolas de chumbo do seu passado hostil que você arrasta ao longo dos anos com uma culpa incompatÃvel com sua generosidade e entrega no tempo presente. Sua verdadeira missão é o que vc faz e divide com a gente. Vc ampara e dá sentido a vida de muitas pessoas com seu trabalho, palestras, envolvimento com seus parceiros idosos, seu marido e por aà vai. Apacente seu coração e mantenha sua rota querida. Abraço carinhoso.
Que lindo, minha querida amiga. Como dizem por aqui, meu coração ficou quentinho
Ah, Mirian, minha infância também me deixou muitas dores intensas... Mas também estou aqui com meus cacos colados e mais feliz que pessoas privilegiadas...
Com cicatrizes não cicatrizadas
Não carregue essa culpa, menina... você sabe que o culpado foi o homem que sua mãe escolheu... comece aceitando isso e se perdoe por qualquer outro mal que você possa ter feito a si mesma, inclusive o de se culpar!!! E tudo ficará bem...
Aprendendo a me perdoar
Um dia contei para minha mãe que percebi que o açúcar branco me fazia ter pequenos escorregões na vida, que falava coisas que não queria. E que passava muito tempo corrigindo o que tinha dito e feito mal, a pessoas próximas muitas vezes. Falei com minha mãe. Ela foi parando com o açúcar branco e centrando. E um dia ela também largou. Ficou tão centrada que juntos olhamos quando caem as senhoras e se quebram pela osteoporose. A mãe dela quebrou os dois pulsos caindo no chão. Foi um de cada vez.
Arabela abria a janela. Carolina erguia a cortina. E Maria olhava e sorria: “Bom dia!". Arabela foi sempre a mais bela. Carolina, a mais sábia menina. E Maria apenas sorria: "Bom dia!" Pensaremos em cada menina que vivia naquela janela; uma que se chamava Arabela, uma que se chamou Carolina. Mas a profunda saudade é Maria, Maria, Maria, que dizia com voz de amizade: "Bom dia!" (CecÃlia Meireles).
Que lindo. Bom dia!
Adorei o texto, mas só tenho um porém com a frase "nunca deixamos de ser a criança que um dia nós fomos". Todos temos nossos momentos de racionalidade, de autodeterminação, embora atitudes irracionais e as experiências da fase infantil possam influenciar nosso comportamento da vida adulta. Além disso, contamos com a presença mental (mindfulness) para nos auxiliar a lidar com essas respostas automáticas aprendidas na infância.
Reenvio de comentário não publicado. Vitimadores e vÃtimas padecem do mesmo mal: são vÃtimas da agressividade humana. No poema-meditação "Por favor me chame pelos meus verdadeiros nomes" o mestre zenbudista Thich Nhat Hanh nos convida a refletir sobre como os rótulos criam distanciamento, indiferença. Ver poema: https://olugar.org/por-favor-me-chame-pelos-meus-verdadeiros-nomes-thich-nhat-hanh
Quando somos capazes de ver que somos todas as pessoas (vÃtimas e vitimadores), nossa ressentimento ou raiva não está mais presente, e nos sentimos determinados a viver de forma que possa ajudar tanto as vÃtimas como os vitimadores a lidarem com a agressividade que existe no mundo.
Verdade, mas a criança permanece viva e carente de amor e cuidado
Que texto tocante! Para mim traumas de infância são incuráveis, a gente pode até perdoar, mas esquecê-los jamais.
GeÃsa, mas podemos aprender a transformar a dor em amor incondicional
Emocionei-me. Obrigado
Que lindo Márcio
Nós não escolhemos quem serão nossos pais ,onde nascemos ,como serão nossos dias nesta vida .O livre arbÃtrio é muito limitado,sabendo que somos a soma de tudo o que aprendemos e vivenciamos .O passado não existe mais ,è apenas um fantasma nos fazendo infelizes .
Somos também o resultado de todos os traumas e sofrimentos dos nossos pais
Bert Hellinger, e não vou aqui defendê-lo nem atacá-lo, pois sei o quão controverso ele é, batia muito na tecla da ordem. Pai e mãe lado a lado, filhos mais velhos embaixo na hierarquia, em ordem de nascimento. Pedir ou esperar que um filho cure e salve os pais está fora da ordem, está errado. Sua mãe tinha o dever de te proteger, não o contrário. Ela e seu pai fizeram o que podiam. Entenda, perdoe se quiser, mas aprenda a conviver com isso. Estas experiências fizeram de você o que você é.
Eu tenho certeza de que eles fizeram o que podiam e que tudo o que sou hoje é fruto do que vivi na infância
Fiquei profundamente tocado pelo seu relato, minha solidariedade a você, sua mãe e até ao seu pai, que certamente não era feliz, fazendo o que fez. Sabemos que era um traço cultural caracterÃstico de uma época, que ainda persiste, mas espero estar se diluindo, mas a menininha não sabe. E dói. Ela ter sobrevivido, fÃsica e emocionalmente, é a maior vitória, que dá sentido ao sofrimento de sua mãe. Nessa perspectiva, a menininha salvou a mãe - parabéns!
Que lindo Carlos, fiquei muito emocionada. Muito lindo
Miriam, acho que não tem de perdoar a ninguém que criou e desenvolveu esse trauma pesado em você, mas sim, perdoar -se e considerar o que uma criança poderia ter feito com algo sórdido, sem compaixão? Você era apenas uma criança! Existem crueldades que alguns adultos fazem e refazem como se fossem exemplos de dignidade e afeição e seguem destruindo aqueles que poderiam ter um pouco de paz e harmonia para caminhar pela vida. Desprenda-se dele, ele não merece sua companhia...Muito boa sorte.
Regina, não existe libertação sem perdão.
Querida Regina, o mais difÃcil é me perdoar, ainda não sei como. Mas estou em um processo de cura
Também acho Miriam que você precisa perdoar o seu pai. Eu consegui perdoar o meu. Numa meditação para curar a minha criança ele me pediu perdão e perdoei. Muito possivelmente ele também sofria os mesmos tratamentos.
Verdade, Regina, deve ter sofrido muito
Mirian, acho que você precisa perdoar seu pai. É difÃcil, eu sei, mas é necessário.
Verdade, Filipe. Muito necessário
Esses homens violentos costumam ser mais vÃtimas do que algozes, mas não sabem. E ainda que soubessem provavelmente não saberiam se libertar da sina miserável.
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