Juliana de Albuquerque > Conselhos para quem está começando a estudar filosofia Voltar
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PrezadÃssima Ingrid, o ceticismo em filosofia deve ser moderado. Então ter fé em algo que não nos aprisiona é uma saÃda. O filósofo Hume acredita no mundo exterior, mas sabe que é apenas uma crença. Não se pode provar como se prova um teorema. Nada se pode provar em filosofia. A crença se instala em nós, não é que decidimos acreditar.
Cara Ingrid, mas mesmo a fé em teses geralmente aceitas podem estar equivocadas. Por exemplo, a de que a Terra não se move. Para Hume a fé religiosa muitas vezes envolve a existência de milagres, de violação de leis naturais. Só um Ser superior poderia fazer milagres. Não há evidência para a crenca religiosa. Acredita-se pela doutrinação. Mobiliza duas fortes paixões: o medo de sofrer em um mundo pior e a esperança de salvação. No caminho para o paraÃso há vários pedágios pagos.
Cara Ingrid, nossa sobrevivência depende das crenças de que Hume falou, até os animais têm crenças desse tipo. Que o fogo queima, que o pão alimenta. Quine sugeriu um contÃnuo entre o senso comum e as crenças cientÃficas. Acho que nos ajudam a pensar muitas coisas; um certo naturalismo que evita argumentos transcendentais. A ciência não ocupa todos os espaços do pensamento, o problema é saber como complementar com a boa filosofia. Tenho fé em certas teses filosóficas, não em teorias inteiras
Creio que uma dica, para mim muito importante, foi "leia sempre com um lápis na mão". Ao adotar essa prática, de sublinhar os conceitos e ideias principais de um texto, quando se termina a leitura já está pronto o quadro conceitual e o fichamento do texto.
Quais as orientações para estudar filosofia decolonial? Como apreender o método decolonial de filosofar? Como superar o colonialismo filosófico e elaborar uma filosofia que articule nossos conteúdos em diálogo com a metodologia e tradição filosófica ocidental e oriental? Como filosofar a partir de nossa realidade e não apenas ser papagaios colonialistas?
Isso já virou ressentimento. Cuidado com o fascismo do "nós mesmos".
Espetacular esta sua aula, Professora. Que beleza! Grato.
Muito agradável esse texto. Eu também gostava de quadrinhos (além de comentários sobre futebol) na infância. Mas a filosofia esbarrava nos dogmas da igreja. Quando topei com as teorias de Darwin em alguma enciclopédia e comentei a novidade com minha mãe, gelei com a resposta de que esse livro estava no Ãndex. Ainda bem que ela avisou, ou eu iria para o inferno sem nem saber porque :)
Aos conselhos da colunista, adiciono um: Se for possivel estude Filosofia fora do paÃs, caso contrário, se tiver disciplina e interesse suficientes, se saÃra melhor como autoditada. As faculdades de Filosofia brasileiras são apenas centro burocraticos para formação de professores de ensino médio. O debate é absolutamente morto, o feedback do corpo docente minimo. Pode-se pegar as ementas no começo do semestre e ler a bibliografia sozinho sem prejuizo. É decepcionante
Se alguém tem a coragem de ler e entender a crÃtica da razão pura de cabo a rabo, por que não teria coragem de se matricular em um curso de filosofia, seja lá onde for? Não sei onde vc estudou, mas aqui no Brasil as matérias de formação de professores são dadas no curso de licenciatura, que normalmente é colocado como um complemento ao de bacharelado. E, sobre o exterior, cada paÃs tem seu jeito de fazer filosofia, e suas agendas próprias.
Conselho? Fique bem longe de Pondés e Olavos.
Juliana, seu 'passado intelectual' é um privilégio de poucos. Você já falou de problemas na vida pessoal (divórcio dos pais, um tempo morando com uma avó querida), mas estudou no Equipe (foi bonito, moça, seus agradecimentos ao pessoal do Colégio quando do seu doutoramento) e teve pais que incentivavam a valorizavam a leitura e a frequência a livrarias. Eu, 69, não ia com meu pai à Livro 7. Nos encontrávamos lá. Seu caso pessoal (e o meu, sem filosofias) é uma enorme exceção à regra da maioria.
Isso é desmérito? Não fui de classe média mas não nutro esse ressentimento travestido de crÃtica social.
Um lembrete para quem inicia o estudo da filosofia. É sem dúvida impossÃvel para qualquer indivÃduo ser um investigador treinado em todos os diferentes campos nos quais a filosofia pousa suas asas. Ter uma fé profunda na filosofia abre muitos caminhos e muitas portas. A tarefa da filosofia é muito complicada para ser resolvida por simples fórmulas mágicas. A filosofia é um bom caminho para adquirir independência intelectual.
Prezada Ingrid, um ato de fé é importante para dar inÃcio a uma investigação filosófica. Mas depois deve estar aberto a revisões, com o andamento das coisas. Mesmo na ausência de uma posição alternativa (em certo perÃodo), não está imune a futuras crÃticas e alterações. Nossas crenças mais fortes são as naturais, segundo Hume. O filósofo Hume acreditava na existência de um mundo exterior, de que a bola de bilhar se moverá após receber o choque de outra bola.
Prezada Ingrid, tenho fé na filosofia baseada na razão crÃtica como a ciência faz. A filosofia é primeiramente uma visão, mas como a ciência preocupada com a verdade logicamente demonstrada. Para alguns filósofos até a ética pode ser vista como uma ciência, querem fazer da teoria moral uma teoria mais cientÃfica e ter fé na filosofia é essencial para esse empreendimento. Tenho fé na ciência, venho fé na filosofia, na filosofia da ciência; não tenho fé em religião.
CarÃssima Ingrid, se os grandes filósofos não tivessem fé na filosofia, não terÃamos a grande filosofia de Descartes, Kant, Hume, Mill, etc. A filosofia também não tem prova de verificação, o princÃpio de verificabilidade do CÃrculo de Viena foi combatido por Popper com a falseabilidade, e Laudan combateu Popper. Não acredito na fé da autoridade infalÃvel da igreja, pois cada religião prega a verdade para si, unilateralmente de forma incoerente e ilusória.
Prezado Vito, data venia, mas associar filosofia à fé me parece um péssimo conselho. Eis duas instâncias absolutamente imiscÃveis. Creio não haver nada mais antitético à filosofia que a fé. A fé depende de uma adesão incondicional a algo, independente de qualquer critério ou prova de verificação. Justo o contrário do que pretende a filosofia. Ou seja, "fé na filosofia" é um oxÃmoro, uma enantiose perfeita.
Que artigo excelente !! Pena que não li essas orientações há 40 anos. Só faço reparos na questão dos idiomas. Nas faculdades faz sentido, por conta da bibliografia indicada. Mas para autodidatas é empregar tempo demais no aprendizado de um idioma, com o qual faremos leituras imprecisas de textos que já foram bem vertidos para o português por tradutores de excelência (talvez não houvesse quando do conselho do pai da autora).
Hume e Mill são meus filósofos clássicos favoritos. Laudan e Quine os filósofos modernos que me ensinaram a pensar bem, como Lebrun que era um ótimo historiador da filosofia, para quem tanto direita como esquerda cometem equÃvocos, e o papel do filósofo é ser crÃtico, não ser seguidor de seitas.
Os comunistas tomam o poder e criam uma burocracia a seu favor. Achar que a História tem um fim, e que você está no caminho certo, isso é um grande perigo. Cuidado com as ideologias na filosofia. Gosto da filosofia analÃtica. Uma alternativa à proposta de Sartre é uma sociedade liberal, democrática e reformista sem revoluções sangrentas. Lebrun se posicionava, criticava direita e esquerda. Era rotulado de direita sem qualificações
Os capitalistas tomaram o poder dos senhores feudais, criaram o Estado Liberal burguês, as conquistas democráticas foram "arrancadas" pela classe trabalhadora, lutar para ir além de uma democracia jurÃdico/formal é não aceitar o "fim da História", é superar Hegel ou Fukuyama!
Não apenas instrumental. A escola de Frankfurt faz uma crÃtica mais ideológica, sem fundamentação epistemica. Criticam uma certa imagem da ciência que ninguém sustenta hoje. Há muito debate ideológico na filosofia. Por exemplo, Raymond Aron era um liberal resistente, defendia a sociedade aberta. Na mesma época Sartre defendia o totalitarismo da China. Sartre era marxista, tinha uma visão enviesada e limitada. Só via luta de classes e exploração.
Meus conselhos para estudar filosofia, que, em parte, aprendi com Gérard Lebrun, na Unicamp. Estudar lÃnguas; se tiver dinheiro no Goethe, Aliança Francesa, Cultura Inglesa, Cervantes, etc. Formar grupos de estudo. Putnam, Quine e Goodman formavam um grupo muito forte em Harvard. O pai de Putnam era comunista, ensinava Engels ao pobre menino. Felizmente mudamos nossas crenças ao longo da vida. Estudar bem a tradição analÃtica da filosofia, em geral, reconhecem um valor cognitivo da ciência
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