Colunistas - Thiago Stivaletti > Mesmo cancelado, Woody Allen deve ser visto? Voltar
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Boa reflexão sobre Allen e seus filmes. Talvez seja um pouco abstruso dizer isso, mas digo: só é moralmente questionável o casamento de Allen com uma mulher muito mais jovem, e filha adotiva de sua então esposa, para os moralistas. Não foi um casamento de ocasião: dura mais de 30 anos. E a menina, hoje uma jovem senhora, é uma profissional bem-sucedida e independente. Quanto a Dylan, acho que não há elementos para avaliar e julgar. Deve ter havido muita dor em toda essa história, isso é certo.
É uma escolha como sempre assim como foi escolha dos atores trabalhar com ele. Trabalhar com um diretor e depois rejeitar o trabalho, afinal as denúncias já existiam quando os atores trabalharam com Allen. Nossas opiniões são formadas por referências midiáticas e com a velocidade implacável da internet tomar posição se tornou uma espécie de marca dos atores. Por uma questão de imagem negaram seus trabalhos com Allen.
Woody Allen foi inocentado pela justiça, e um olhar mais minucioso ao caso deixa clara a inconsistência das acusações de Mia Farrow, seu desejo de vingança e a manipulação dos filhos. Os atores que recusaram convites de Allen são simplesmente uns covardes que tem medo de se indispor com a corrente dominante no ambiente deles, essa mesma turma da lacração que temos por aqui. É óbvio que vou ver o filme.
Acho que não passa por ver ou não o cineasta. É perceber que nos últimos seis ou sete anos, quando alguns colunistas mencionam esse caso de abuso sexual, a vÃtima aparece somente como um nome frente à "grandeza" desse profÃcuo cineasta, que ganha um peso incomensurável. É uma falta de sensibilidade essa postura. Ninguém precisa defender essa mulher, mas vê-la (aà sim, ver) como pessoa humana que pode ter sofrido de fato algo muito feio, e que poderia ter sido com você ou alguém de sua famÃlia.
Ou simplesmente a filha mentiu e ele não fez nada...
É bom se perguntar: por que Dylan Farrow sustenta essa acusação há mais de trinta anos? Por que ela não leva o sobrenome do pai, um nome de peso no mundo das artes? Por que ela se tornou uma advogada que defende vÃtimas de abuso sexual? Tudo isso será um mero capricho que ela arrastará pela vida inteira, ou trata-se de fato de algo muito feio que ela sofreu na infância e agora, adulta, encara e dá um destino pra essa dor, inclusive escrevendo romances para digerir seus fantasmas?
Sei separar o artista da pessoa, claro que vou ver.
É óbvio que verei este, assim como vi todos os outros. E se ele lançar mais um (acho difÃcil) eu o verei também. Não sei o que de fato. Não sei onde se hospeda a verdade. Jamais embarcarei nesta polÃtica tosca de cancelamentos.
O bom mesmo é não entender nada desse negócio de cancelamento e não dar a mÃnima para isso em relação a qualquer tipo de obra artÃstica ou cultural. Se as recomendações forem, no mÃnimo, razoáveis e com algum fundamento, vamos colocar na lista para assistir, uai...
É um gênio. Se ele fosse um artista plástico ou compositor os fatos narrados teriam outro tipo de repercussão.
Há um filme italiano merecidamente aplaudido chamado César Deve Morrer. Na trama, um grupo de presidiários participa de um projeto em que devem encenar uma peça de Shakespeare (Julio Cesar, óbvio). As filmagens são em um presÃdio e os personagens do filme foram interpretados por prisioneiros reais. Não sabemos que crimes eles cometeram e aplaudimos o filme assim mesmo (repito, merecidamente), mas não podemos assistir a um filme de um diretor por conta de um crime que nem sabemos se cometeu?
Gostei. Podemos ir além na especulação? Se ele fosse o pesquisador chefe e principal acionista do laboratório que criou a primeira vacina contra a Covid, mas durante os trabalhos tivesse assediado as suas funcionárias, deverÃamos deixar de tomar a vacina por isso?
que bobagem. óbvio que merece ser visto e também passÃvel a crÃticas enquanto pessoa fÃsica. já passou da hora de gente adulta aceitar a complexidade da vida.
Só esqueceu de dizer que não confirmaram as acusações contra ele. Acho uma palhaçada e um desserviço a cultura do cancelamento.
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