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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
Esse "não" é um "não" qualquer? Talvez seja uma negativa ao mesmo tempo assertiva, serena, prudente e conscienciosa? Uma renúncia livre da ânsia de retaliação, sem temores e aberta à incerteza? Embora pareça ser um simples "não", essa negação resultaria de um processo intrínseco? Um processo de libertação que mesclaria sinceridade, autoconhecimento e autorreflexão? Um processo de soltura/desapego que exigiria (auto)consciência, tolerância, (auto)aceitação e imparcialidade?
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
Seria um "não" que floresce do amor-próprio e da humildade? Uma renúncia que nasceu do reconhecimento dos próprios valores e prioridades, do que faz bem ou mal? Uma negativa que respeita os próprios limites, pois até os mais aptos os têm e os mais hábeis os conhecem bem? Uma abstenção que não só abre mão do controle, mas também preserva o bem-estar?
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
Aprender estratégias para lidar com as coisas não é o que caracteriza o genuíno crescimento humano. Antes, ele tem a ver com deixar sua bagagem de lembranças e emoções perturbadoras para trás, com aprender a se libertar de tudo isso. Mas, quanto às lembranças e emoções perturbadoras, elas sempre estarão lá. Só os mortos não as têm. Observe-as de forma imparcial, em vez de acreditar que elas são você, que a sua individualidade está entrelaçada com elas. (1/2)
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
As lembranças não são fidedignas. A Neurociência diz que são relatos parciais de fatos cheios de subjetividades, sempre mesclados com estados de ânimo, crenças, preferências, medos e aversões. Quanto as emoções, elas não são fatos, mas meras interpretações de um dado contexto, em que pessoas diferentes têm impressões/reações distintas sobre os mesmos fatos. Enfim, como lidamos com as lembranças e emoções difíceis revela nossa verdadeira capacidade de felicidade, amor, compaixão e resiliência.
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
Em seu livro Em cada Instante Nascemos e Morremos Bilhões de Vezes, a Monja Coen nos lembra que a impermanência é um importante aspecto da vida: "Minha continuidade é um descontínuo ir e vir. Continuo morrendo e renascendo a cada instante, bilhões de vezes em poucas horas". Logo, aquele momento de vergonha não está mais aqui, bem como já não somos quem fomos naquele instante. (1/2)
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
As sábias palavras da monja reiteram: "Li um livro, ouvi um pensamento diferente dos meus e morri para quem eu era. Renasci para um novo eu, que também não dura mais do que alguns milionésimos de segundo. Logo já sou outra, e nunca a mesma". (2/2a)
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
Segundo a neurocientista Jill Bolte Taylor, as emoções tem uma vida útil de apenas 90 segundos. Ouvi isto pela primeira através da monja Pema Chödrön: "se você permitir que uma emoção exista durante 90 segundos sem julgá-la, ela desaparece". Daí, então, que se algo continua depois daquele instante de vergonha é porque adicionamos a isso nossa própria história e nos apegamos a essa emoção. Portanto, prolongar o que tem natureza efêmera causará sofrimento.
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
Em tempos de superexposição nas mídias antissociais e milhões de selfies a emoção chamada "vergonha" deixou de ser tão frequente. Antes a vergonha parecia revelar o temor de um olhar alheio que tudo via e tudo descobria, mas se a vemos aqui e ali, talvez seja porque ela ainda traz consigo a desqualificação em público, a boa imagem prejudicada e a revelação de uma fraqueza/vulnerabilidade. Será que a vergonha vai desaparecer de vez?
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
Mirian, respondendo a sua pergunta. Como nas fases anteriores da vida, a vergonha positiva implicaria também num obstáculo, mas que é percebido como uma oportunidade de crescer/evoluir, apesar da invisibilidade social imposta ao idoso. Embora a vergonha atue como mais um fator para excluir o idoso da convivência social, há aí o resgate da postura do aprendiz e de sua dignidade juntamente com a articulação da moralidade com o ser individual. Ciente de que o passado é imutável e o futuro é agora.
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Mirian Goldenberg
Como seria essa vergonha positiva na velhice?
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Mirian Goldenberg
Com certeza não vai
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
A vergonha é uma parte essencial da nossa sobrevivência e funcionamento e, de fato, é um presente da evolução da espécie humana. A vergonha pode ser positiva? Ou a vergonha sempre é negativa? Encontrar a dose certa de vergonha é uma habilidade importante?
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
Em poucas palavras, a vergonha negativa faz com que você queira se esconder, escapar, essencialmente querer afundar no chão e desaparecer. Enquanto que a vergonha positiva pode funcionar como uma ferramenta crucial ao conduzi-lo em direção ao seu melhor eu, permitindo que você se torne uma pessoa melhor. Podemos comparar tal vergonha com o sofrimento. Ele sempre parece ruim, mas às vezes é muito útil.
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
A vergonha positiva leva você a refletir sobre seus atos e se for o caso modificar sua realidade. Quando você está tentando decidir o que fazer, a vergonha pode ser uma bússola moral útil, pois a integridade está conectada ao seu senso de vergonha e a vergonha pode guiá-lo à convergência entre suas palavras e as suas ações.
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
Para Platão o conhecimento é conhecimento do que já existe, sendo transmitido ao longo da humanidade através de uma subjetividade universal que, ora vedada sua fonte de conhecimento, impossibilitaria a sua existência. Então, se o conhecimento é sempre acerca daquilo que já existe e sempre existiu, há aí uma condição filosófica/moral em prol de sua difusão e distribuição. (1/2)
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Mirian Goldenberg
Conhecimento é livre Apropriação da ideia sem citar é falta de ética
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
Há, portanto, uma situação de necessidade, exigindo que o conhecimento seja livre para que adquira outros formatos e se desenvolva em outras relações, posto que somente em âmbito coletivo e permanente todos possam se beneficiar. A língua que usamos hoje é de domínio público e só existe porque gerações e mais gerações colaboraram para que isso pudesse acontecer. Um vasta quantidade de pessoas merece ser reconhecida por nós por deixar o "fruto" pronto para consumo, não é verdade? (2/2)
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
Há, portanto, uma situação de necessidade, exigindo que o conhecimento seja livre para que adquira outros formatos e se desenvolva em outras relações, posto que somente em âmbito coletivo e permanente todos possam se beneficiar. A língua que usamos hoje é de domínio público e só existe porque gerações e mais gerações colaboram para que isso pudesse acontecer. Um vasta quantidade de pessoas merece ser reconhecida por nós pois deixar o "fruto" pronto para consumo, não é verdade? (2/2)
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
A todo momento usamos os conhecimentos/informações das gerações anteriores que chegaram até nós, seja nas conversas cotidianas, praticando exercícios físicos, fazendo cálculos simples, realizando tarefas no nosso trabalho etc. Raramente damos o devido crédito/reconhecimento a todos que deram origem a essa enorme bagagem de conhecimentos /informações que começou com noções bem rudimentares tais como o alfabeto, os números naturais etc.
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
Esse mau-caratismo também pode ser encontrado nos grupos negacionistas, quando pretendem desinformar. Enviesam afirmações/publicações de pesquisadores, cientistas e instituições, buscando obter algum tipo de vantagem. Em geral, quando fazem alguma citação é porque querem atacar/destruir a imagem do citado. Foi exatamente o que aconteceu com o ex-professor de psicologia e economia comportamental Dan Ariely, que dedicou um livro inteiro a desinformação.
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
Esse mau-caratismo também pode ser encontrado nos grupos negacionistas, quando desinformam, enviesando afirmações/publicações de pesquisadores, cientistas e instituições buscando obter algum tipo de vantagem. Em geral, quando fazem alguma citação é porque querem atacar/destruir a imagem do citado.
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Mirian Goldenberg
No caso, foi falta de caráter mesmo, pois ela me conhece
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Tadeu Humberto Scarparo Cunha
Cara Mirian mais um texto primoroso . parabéns
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Mirian Goldenberg
Fico feliz Tadeu
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Joaquim Rosa
Nunca ouvi alguém chamar outrem de "velha sem vergüenza". É muita falta de educação, até mesmo para o meu padrão de grosserias.
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Hélio Barbosa
Nao Leia Mirian. Você não entendeu nada.
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Paulo Araujo
A falta de likes fez a vigarista influencer copiar sem citar a fonte. Deve ter caido a ficha qdo alguém deve ter perguntado a ela quem tinha escrito :):) Seguir vc é ótimo! Dou muitas risadas e aprendo muito. Continue assim e, com relação a copiadora, assuste-a com uma ameaça de processo ou algo assim. Nunca mais vai copiar vc ou qq outra pessoa. O imbecil do censor da Folha vai atrasar o envio da msg. Pena que um jornal q leio desde menino ainda esteja na Idade Média.
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Mirian Goldenberg
Paulo, acho que não caiu a ficha
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CARLOS ALEXANDRE PERGER
Maravilhosa. Nós Lgbtqia+mais aqui de casa elegemos você como nossa representante.
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raul pereira
Arre ! Até que em fim encontrei alguém ensinando a usar o lado esquerdo do cérebro. Racional, lógico, criativo. Acrescento ainda: o tempo é irreversível e a morte a única certeza.
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Mirian Goldenberg
Verdade
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Nêodo Noronha Dias Jr
a Miriam basicamente está dizendo que a velhice é o momento em que você finalmente para de se preocupar com o que o pessoal vai achar das suas rugas... e começa a se preocupar com a dificuldade de abrir potes de conserva! É como ela propõe: viver a velhice não é só envelhecer, é gozar a liberdade, o prazer e, claro, o bom e velho direito de dizer não sem dó nem piedade. Afinal, como bem diz Miriam, as velhas sem vergonha unidas jamais serão vencidas [continua...]
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Mirian Goldenberg
Exatamente
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Luiz Norberto
Ótimo
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neli faria
Sempre fui eu mesma desde a primavera de minha vida. No verão e outono. me divertia, como ninguém divertiu. Agora ,no inverno, continuo a ser o que sempre fui: sou feliz, e daí? Nunca liguei pelo que ozotro pensava, fiz tudo que quis, porque a meta era ser feliz. Tenho setenta e um, agora? mais do que nunca, não dou bola para ozotro. Ozotro: como dizia minha defunta mãe, então viva: os outros!
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neli faria
Mudando de assunto. Ontem, numa mídia social, ousei criticar o deus dos PTollos. Teve um bovino que me chamou de velha , outro me mandou tomar etc; como essa juventude é desequilibrada por causa de alguém que é Muito mais velho do que eu. Respondi, como sempre, em todos os cemitérios do mundo existem jovens eternos. E esse que me mandou tomar, aí bloqueei para não me equivaler a ele.
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neli faria
Mais, Marcelo,ele desde os vinte e sete anos não trabalhou então tem que compensar. Parece-me que a diferença de idade não é dez, mas, uns sete...! O gado vermelho,aliás, todo brasileiro, não tem educação e respeito ao próximo. Não pode falar do boiadeiro que investe. Respeito um fanático por time de futebol, mas, não por político.
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neli faria
Marcelo: detono todos, sem exceção. Sou bloqueada pelo tarcísio e pelo Orleans e Bragança, maiúsculo apenas em homenagem aos estadistas: Dom Pedro i, ii e Princesa Isabel. Esse nem sei quem é ou foi aquele que disse que para ser Prefeita é necessário ser casada? Meu menoscabo a ele, por desconhecer a história,Erundina e Kassab ,solteiros, Bruno Covas separado...! O bozo?O gado amarelo dizia que era apaixonada por ele. Ele e lula:boiadeiros que iludem o gado vermelho e amarelo!
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Marcelo Silva
Mas vc provocou demais também, né! Tanta gente horrorosa, como Marçal, Bozo, Bia Kicis, Gustavo Geyer, 01, 02, 03, 04, etc e vc vem detonar logo o Lula que tem 10 anos a mais que vc é está trabalhando prá caramba para recuperar nosso Brasil. Cê forçou muito, né...
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Maria José Silva Ramos
Obrigada, adoro ser "velha sem vergonha"! Com 71 anos aprender a dizer não e ligar o foda-se é realmente libertador. Beijo carinhoso.
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Mirian Goldenberg
Verdade
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
Fazer a devida citação ou referência é uma das muitas maneiras de demonstrar RESPEITO por todos que colaboraram para que um dado conhecimento continue vivo. Vivemos em um mundo que toma o que já é conhecido como obsoleto/decadente, valorizando demais a novidade. Não faltam exemplos de pesquisadores que deram um enfoque inovador ao que já era conhecido ou tido como ultrapassado, pois reciclaram ideias, modelos, entendimentos e teorias.
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Mirian Goldenberg
Exatamente
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
Acho que existem, pelo menos, duas coisas em fase de final de extinção: privacidade; originalidade. Antes de me aposentar, trabalhei na área de informática desenvolvendo softwares para diferentes demandas, mas apenas cobrava uma taxa dos meus clientes para usá-los por acreditar que não sou dono do conhecimento que usava para criá-los. Ninguém deveria ser dono ou proprietário deste ou daquele conhecimento. (1/2)
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JOSE EDUARDO MARINHO CARDOSO
Sou contra o monopólio do conhecimento, ele não apenas é de todos, mas deve ser compartilhado. Todos deveríamos ter acesso a ele, uma vez que é construído sobre "tijolinhos" elementares como as noções básicas da língua, da matemática etc. Mas nada justifica a situação de tomar o que alguém disse como seu e não fazer a devida referência ou citação. (2/2)
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Mirian Goldenberg
Fica muito feio fingir que é o autor
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Mirian Goldenberg
Mas poderiam mencionar a autoria, não acha?
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WELLINGTON SILVA DE MIRANDA
Eu sou outonal fiote e fagueiro; a vida vale pela valência temporal, à cada fase suas correspondências, seus olhares especiais e percepções; não existem prevalecias na arte do viver. Primoroso texto.
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Mirian Goldenberg
Uma amiga de 96 anos diz que é uma flor de outono
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Galdino Formiga
Homens idosos também merecem uma crônica.
* Apenas para assinantes
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