Mirian Goldenberg > Aos 90 anos, Ivo Pitanguy me ensinou que é preciso brincar e não brigar com a velhice Voltar
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A obsessão pela beleza e a transformação do próprio corpo em função de padrões estéticos caracterizam o nosso século. Vivemos uma epidemia estética, pois há uma mania generalizada por intervenções que vão muito além da simples correção, ou aperfeiçoamento, da imagem. Tal público esquece que todo procedimento estético oferece riscos, mas estes são considerados de maneira fútil, como se fosse uma troca de roupa, se não gostou, compra outra.
Infelizmente, a neurose estética, a mercantilização da beleza e a imperÃcia/negligência médicas continuam a ceifar vidas. Cada vÃtima que buscou satisfazer o seu anseio estético parece ter ignorado os relatos de mortes e resultados indesejados noticiados pelos meios de comunicação. Estar entre os paÃses que mais fazem intervenções estéticas levou a uma explosão de mortes e de sequelas para serem corrigidas, com grandes sofrimentos, tratamentos reparatórios caros e extremamente prolongados.
No livro Incógnito, o neurocientista David Eagleman apresenta os mecanismos não conscientes do cérebro, que dirigem diversas ações cotidianas, à revelia da vontade humana. O autor observa que muito do que acontece no cérebro acontece sem percebermos. O livre-arbÃtrio seria condicionado pela neurobiologia do cérebro e, caso esta viesse a mudar, concomitantemente mudaria o comportamento consciente.
Ou seja, a biologia determinaria o comportamento humano: “…se as escolhas e decisões derivam de processos mentais ocultos, então o livre arbÃtrio é uma ilusão, ou está, no mÃnimo, muito mais restrito do que se considerava anteriormente”. Na obra, Eagleman diz: "(..) conhecer a si mesmo pode exigir uma mudança da definição de “conhecer”.
"Autoconhecer-se requer agora entender que o você consciente só ocupa uma salinha na mansão do cérebro, e que ela tem pouco controle sobre a realidade construÃda para você. A invocação conhece-te a ti mesmo precisa ser considerada de novas maneiras".
Nenhum paÃs supera o Brasil em número de realizações de cirurgias plásticas no mundo, ficando em segundo em realização de tratamentos estéticos. Há uma forte pressão para se conformar aos padrões de beleza afirmados pela mÃdia e pela sociedade que pode ser esmagadora. No Brasil, muitas mulheres jovens sofrem de transtorno dismórfico corporal, um foco obsessivo em falhas de aparência percebidas que leva a pessoa a verificar excessivamente a sua aparência no espelho tentando consertá-la.
Infelizmente, triste realidade
Essa pressão cultural não é especÃfica de um gênero, embora os homens ainda estejam muito atrás. Não há nada de errado em querer ter uma boa aparência ou cuidar da saúde e higiene. Mas os padrões sociais de beleza, tendências da moda e preocupação excessiva com a aparência podem deixar muitos jovens doentes e infelizes.
Neste ano, participei de mais um retiro budista onde procuramos fazer tudo em silêncio. Após o encerramento do retiro, lembro de conversar com uma praticante septuagenária, Helena, que disse: "havia muitos jovens presentes". Confirmei movendo a cabeça, mas acrescentei que "a cada retiro há mais mulheres". Depois nós descobrimos que já havÃamos participado de sessões de meditação com a falecida monja Odete Lara.
Estou pensando seriamente em me aprofundar no budismo. Alguma dica de leitura e de locais no Rio?
Certa vez, Helena afirmou a monja Odete Lara que ela fora seu "Ãcone de beleza". Lara disse que havia feito alguns retoques estéticos, mas nada se comparava a plástica interior promovida pela prática espiritual. Lara descobriu o Budismo, isolou-se num sÃtio em Friburgo, passou a meditar, escreveu/traduziu obras budistas. Além de grato a ela por me ensinar a usar o zafu de modos diferentes, observo também que a sua beleza interior podia ser facilmente notada assim como a exterior.
Eu vi duas lições bacana na matéria, a aula da garotinha para a mãe, e do Ivo Pitanguy, justo ele que trabalhou a vida inteira cuidando da vaidade dos outros. Eu brinco com a minha velhice, não faria nada para agradar os olhos dos outro aos meus 67 anos. Sou careca pouco cabelos brancos jamais poria uma peruca para disfarçar. A única coisa que eu me preocupo, é com a prótese dentária, pois preciso mastigar pão com ovo.
Aprendo muito, sempre
Somos influenciados pelo ambiente em que estamos inseridos. Muitas vezes acreditamos que todas nossas decisões são tomadas de acordo com nosso pensamento consciente, racional. A verdade é que grande parte da forma que pensamos, decidimos e sentimos tem a ver com uma série de processamentos subliminares. Há em nós, então, um cérebro subliminar, que é invisÃvel e influencia nossa experiência consciente do mundo de um modo fundamental.
Estudos chegaram a apontar que 95% de tudo o que fazemos têm influência subliminar, indicando que uma parte muito pequena da atividade mental se pode dizer totalmente consciente. Além disso, algumas ações consideradas “automáticas”, como dirigir, sequer passam pelo consciente. Daà perguntarmos: "Será que somos tão racionais e conscientes como supomos? O nÃvel subliminar do cérebro restringiria a nossa autonomia?".
Tenho a sorte de já ter vivido algumas décadas, mas sempre por qualquer motivo , o assunto é idade, começo a contar a partir do ano em que nasci, e entao sei que idade tenho. Acho que deverÃamos ser gratos a Deus ou ao destino pelo privilégio de cada ano vivido, e nao desejarmos que tal perÃodo fosse mais curto.
Com certeza
Bonito texto, Mirian. Devemos viver as fases da vida com sabedoria e estar preparados p/tdas elas. O tempo nos traz conhecimento, experiência e maturidade e tbm vamos nos desapegando dos sonhos e ilusões. Passamos a focar mais na realidade e nas mudanças que o tempo nos trouxe e que não podemos mudar. O que nos resta é sermos sensatos e vivermos felizes e com mto amor junto a tds que amamos.
Verdade, tem que ter coragem
Mirian, em situação semelhante à sua, em 1991, aos 21 anos, entrevistei Fernanda Montenegro em Paraguaçu Pta/SP., na peça Dona Doida.Tal qual tu com Ivo, ouvi dela que mesmo aos 60+ ela tremia, como eu via, por subir ao palco, e quando o frio na barriga sumisse antes de um compromisso seria hora de parar. Hoje 90+, ela continua com o frio na barriga. Não parou e aparentemente, tal qual você, não cedeu e mostra as marcas naturais do tempo. E vocês são lindas, cada qual com sua arte. Brinque, sim.
Claudio, na minha pesquisa, Fernanda Montenegro é um exemplo unânime de bela velhice. Adoro saber que ela também sente frio na barriga. Imagine eu?
Belo texto, Miriam, mas não é irônico - para não dizer paradoxal - que as ideias tenham partido de um cirurgião reconhecido exatamente pelo trabalho de também tentar eliminar as marcas do envelhecimento?
Todo mundo erra Luiz, o corretor principalmente
A entrevista foi exatamente sobre essa questão Luiz
E me desculpe pela grafia incorreta do seu nome, Mirian.
A independência é uma delusão, pois entendo que "intersomos" que vem de "interser" uma neologia criada pelo monge Thich Nhat Hahn. Através de outros seres "intersomos" e não podemos existir plenamente sozinhos, estando submetidos à condição de interdependência. O princÃpio ubuntu diz “Eu sou, porque nós somos” e lembra o princÃpio interser, que vai além "Eu sou, porque tudo mais é".
Tem que ter coragem
Oi querida Mirian! A nossa cultura é capenga. Ninguém nos orienta sobre a velhice, mesmo sabendo que um dia chegaremos nesta etapa da vida. Então o que temos claro é a manutenção da juventude a qualquer custo. Pitanguy era um sábio. A velhice é uma descoberta e quanto mais avançamos, novas adaptações são necessárias pois é a única vez que vamos passar por essa fase. O que realmente devemos aprender é sobre a finitude desta vida e saber nos desapegar sem medo. Essa é a chave. Abraço.
Tem que ter coragem, coragem
Viver intensamente o momento é essencial.
Ao chegar aos 62 anos, valorizo duas capacidades fundamentais nesta fase da vida: a lucidez e a mobilidade. Entendo a lucidez como aquele estado mental caracterizado pela clareza de pensamento, raciocÃnio lógico, capacidade de compreender a realidade, essencial para tomar decisões e resolver problemas. Quanto a mobilidade, tem a ver com a aptidão para me locomover, caminhar/correr sem depender de dispositivos para locomoção e apoio. Não tenho preocupações estéticas.
Idade jovem e capacidades implÃcitas.
Autonomia é o mais importante, fÃsica e emocional
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