Esse texto me trouxe conforto. Sutilmente trouxe entendimento sobre algumas angústias que me acompanham, como a própria existência da angústia. Ao passo que iluminou a percepção que sempre tive sobre o porquê de a fruição da Arte aliviar-me. Grato!

Observar nossa angústia, diretamente, sem fugir dela, sem nomear lá, sem julgar, sem interpretar-lá. Se apenas a olharmos, como olhamos uma flor, ficando com ela, tocando-a. Se fizermos isso, o que acontece?

Sim, a angústia é o afeto que não engana. Tem como objeto, o objeto a, o objeto causa de desejo. A angústia indica um sujeito afetado por algo que não conhece e nem sabe sua origem. É o estranho, incômodo, sinistro, antes familiar, agora assombroso. É o íntimo exterior, diria Lacan.

Texto potente e transfor6

Belíssimo texto, Vera. A angústia é a sirene da nossa psiquê, o socorro para aquilo que costumamos ignorar. Nada mais é que o grito interno da nossa natureza sendo atacada por agentes que ainda não conhecemos tão bem.

A origem latina da palavra angústia tem relação com aperto, estreiteza. Há todo um lado do sistema nervoso autônomo, o simpático (que de simpático não tem nada), que está ligado à fuga e luta. E à adrenalina, que estreita os vasos sanguíneos e atrapalha o relaxamento e o sono.

Parafraseando o imortal Doctorow sobre a angústia: It was a hateful presence in me.

Esta velha angústia, Esta angústia que trago há séculos em mim, Transbordou da vasilha, Em lágrimas, em grandes imaginações, Em sonhos em estilo de pesadelo sem terror, Em grandes emoções súbitas sem sentido nenhum. Transbordou. Mal sei como conduzir-me na vida Com este mal-estar a fazer-me pregas na alma! Se ao menos endoidecesse deveras! Mas não: é este estar entre, Este quase, Este poder ser que…, Isto. Álvaro de Campos, heterônimo do poeta Fernando Pessoa

Que texto OüOü

Entendo, que a angústia faz parte da natureza humana e talvez a sua grande causa seja a consciência da finitude, seja por um fim trágico/prematuro ou pela degradação do corpo e da mente, nossa e dos entes que amamos. Daí a religião ser tão necessária, tanto é assim que todas elas, pelo menos as que conheço, têm como pressuposto a vida após a morte. Sobre o medo de perda (dinheiro, amores...), escutei o J. Kobori dar uma explicação fascinante: "só se pode tirar de você aquilo que não é seu".

Creio que não seja errado dizer que, para Martin Heidegger, em Ser e Tempo, de 1927, a angústia é uma potência singularizadora

À angústia

Angústia não me faz bem, e eu sofro com isso - graças a Deus, sem apelar para medicamentos a não um Maracugina de vez em quanto. Arte me faz bem, uso sem receita e sem restrições.

O que seria de nós se não houvesse terapia e arte. Como dizia Ferreira Gullar, a arte existe porque a vida não basta.

Ainda bem que existe a arte!