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  1. Alexandre Marcos Pereira

    Deixemos que a bruma matinal de qualquer capital do Velho Continente - digamos Bruxelas, onde os sinos de Saint-Gudule marcam um tempo que não passa - nos conduza pelas vielas do passado. Lá atrás estão o cardeal Richelieu, que moveu as peças do tabuleiro continental com a paciência de quem borda tapeçarias; Bismarck, que soldou o império prussiano costurando alianças como quem compõem uma fuga de Bach; e mesmo De Gaulle, que enxergava a grandeza da França onde muitos viam apenas escombros.

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    1. Alexandre Marcos Pereira

      O artigo do Financial Times ganhou manchetes, mas ignorou que, enquanto soava o alarme, o Conselho Europeu já discutia um fundo comum de defesa, interoperabilidade de munições e uma versão robusta do Preparedness Union Strategy - agenda que cobre de hospitais a rede 5G para crises futuras. O Velho Continente pode falar baixo, mas raramente fica inerte. Costumo imaginar a Europa como Tântalo ao contrário: não é ela que se debate atrás de frutas inacessíveis; são as crises que lhe caem no colo.

    2. Alexandre Marcos Pereira

      O Strategic Compass, ao contrário da caricatura de um bloco frouxo, trata-se de um exercício de autocrítica institucional que quase nenhum outro ator internacional publica em praça pública. Ainda assim, em pleno verão de 2025, colunistas britânicos falaram de uma humilhação europeia perante uma Washington beligerante, apontando dedos para Berlim, Paris e Bruxelas como quem descreve um exército de avestruzes.

    3. Alexandre Marcos Pereira

      A coragem estava em trocar batalhões por normas, canhões por aduanas abertas - um salto de fé que nenhum outro continente ousou copiar com tanto ardor. Saltemos para 2022, quando a guerra voltou à Ucrânia e a União aprovou o Strategic Compass - seu plano de quinze anos para tornar-se ator de segurança credível, do ciberespaço ao Atlântico Norte. Não é um documento triunfalista: expõe falhas, define prazos, lista mais de 80 ações mensuráveis.

    4. Alexandre Marcos Pereira

      O cálculo falhou porque a História, esse animal feroz, às vezes dá um bote fulminante antes que a razão termine de somar as colunas. Avancemos ao pós-1945. A OTAN nasceu de um realismo glacial: sem o guarda-chuva americano, a Europa Ocidental continuaria refém da intimidação soviética. Nos anos 1950, o fracasso da Comunidade Europeia de Defesa não resultou em paralisia, mas na lenta engenharia institucional que pariu o Mercado Comum, Schengen e, por fim, o euro.

    5. Alexandre Marcos Pereira

      Nenhum deles caberia no estereótipo de strategos inepto ou medroso. Quando a Europa pareceu hesitar - e o exemplo clássico é Munique 1938 - a leitura apressada carimba covardia onde havia, na verdade, um cálculo cruel: ganhar tempo para rearmar-se enquanto a opinião pública se curava de traumas ainda frescos da Grande Guerra. Não foi prudência que faltou, mas sim a correlação de forças capaz de frear Hitler sem detonar um segundo cataclisma. Se o cálculo falhou não foi por falta de inteligência.

  2. Luciano Napoleão de Souza

    Esquerdismo é uma doença!

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    1. Jose Paschoal Pimenta

      Doença é você, Lulu!!!!

    2. Luiz Gustavo Amorim

      A doença não é de esquerda e nem de direita. Ela é da alma, do espírito, daqueles cuja forma de expressar sua discordância é autoritária, é agressiva, é descontrolada. Tivesse você vivido essa fase da sua vida na Alemanha dos anos trinta e quarenta e não seria difícil imaginar em cima de quem você descarregaria a sua ira fascista.

  3. ARTHUR AUGUSTO DA C CARVALHO

    A União Europeia com essa postura submissa se consolidou como um grande Porto Rico.

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  4. Giovani Ferreira Vargas

    Falou alguém totalmente desconhecido lá na Europa! Kkkk

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  5. ROBERTO CEZAR BIANCHINI

    "sendo a incerteza inevitável, a Europa deveria optar por escolher a sua própria autonomia estratégica, afastando-se do caos trumpista". Soluções de longo prazo costumam a atrapalhar nas eleições mais próximas. A proposta do colunista é ótima proposta se não fosse a sombra da volta da ultra direita estar tão presente na maioria dos países do bloco

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  6. Vladimir Tzonev

    A Europa continua dependendo e comprando petróleo russo. Só que paga muito mais caro. A Índia triplicou a compra de petróleo russo que reexporta para a Europa.

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  7. jose prado

    Os princípios! Senpre os princípios! Às favas os principios!

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  8. Mauricio Coelho goiato Goiato

    Conselhos de comunistas ..

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  9. José Davi

    Boa análise, os europeus, China, Brasil e outras nações já perceberam que Trump é um bufão de televisão, ele quer se mostra importante e que sabe fazer negócio, como está novo no mandato, mas com perda incrível de popularidade, vai alimentando os magas raivosos, mas uma hora isso vai se esgotar. Máxima capitalista; dinheiro não aceita desaforo.

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  10. Luis Fernando Casimiro

    Enquanto temos no dia anterior um colunista entreguista, lacaio e que vive do prestígio do seu próprio pai, no dia seguinte nos deparamos com uma análise concisa, astuta e correta, baseada em fatos e históricos e que visa soberanias e autonomias. É sempre um prazer em ler o Rui Tavares e outros colunistas por aqui. Mas, senhora Folha, apenas melhore na seleção de seus comentadores, com o alcance do mínimo de decência (ou com o psicotécnico aprovado).

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  11. Florentino Fernandes Junior

    Esse capitulo rui, ja era. Passemos pra outro, mané

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  12. Alexandre Marcos Pereira

    Quando se lê o fact-sheet publicado pela Casa Branca, nota-se um tom de triunfo imperial: a Europa será o maior cliente do shake americano e abrirá mão de tarifas em setores-chave, enquanto conviverá com o imposto de 15% sobre quase tudo o que exporta para o outro lado do Atlântico. O efeito simbólico é devastador: a narrativa de parcerias entre iguais cede lugar a uma coreografia de protetorado, encenada nos campos de golfe de Turnberry sob a ventania do Mar da Irlanda. Adeus, Europa.

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    1. Alexandre Marcos Pereira

      Meu caro Benassi, você tem razão. O medo da Rússia é a única razão plausível para a Europa aceitar um acordo tão desvantajoso. Seja qual for a causa, eu lamento, não pelos eventuais prejuízos econômicos, mas pelo sepultamento dos ideais que presidiram a criação da União Europeia: democracia, direitos humanos, pacifismo, respeito a diversidade cultural, multilateralismo. Trump tem uma visão oposta a isso e render-se a ele é fato para se lamentar.

    2. Luiz Candido Borges

      Marcos, você realmente acha que basta o "tttarado de lá parar de barbarizar a Ucrânia" para que o fluxo de petróleo bom e barato volte para a Europa? O que você acha que os "ttttarados de cá" fariam com a Rússia se esta botasse o galho dentro? Uma "nova era de paz e prosperidade"? Pois sim! Um tanto menos de humanismo simplista e um tanto mais de geopolítica faria bem à sua capacidade de avaliação crítica.

    3. Marcos Benassi

      Bem, meu caro, a gente não sabe o que vai virar com a Rússia, né? Pra comprar gás de xisto estadunidense, dá mó trabalho (numas, né ? Mas o transporte encarece); pra comprar da Rússia, tem gasoduto prontim, é só o tttaarado de lá parar de barbarizar a Ucrânia e resolver faturar de novo. Tudo muito gelatinoso por enquanto...

    4. Alexandre Marcos Pereira

      Leia-se shale americano e não shake americano. Os perigos da correção automática.

  13. Alexandre Marcos Pereira

    Há maus acordos que são maus por razões friamente econômicas; há outros que o são pelo que desnudam do espírito da época. Este pertence à segunda categoria. Os números importam - o compromisso de €715 bilhões em compras de energia e armamentos aos EUA, a promessa nebulosa de €550 bilhões em investimento transatlântico - mas o que verdadeiramente fere é a confissão tácita de exaustão de um ideal europeu que já foi generoso e audaz.

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  14. JOÃ O MUCCI

    A União Europeia preferiu não enfrentar os Estados Unidos. Só o tempo dirá se foi correto esta atitude.

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  15. CHARLES MARTINS

    A meu ver, a UE se deu conta, sim, de que essa sua "autonomia", mais do que necessária, é imprescindível. Contudo, precisa de tempo para construi-la. Nesse meio tempo, esse acordo que parece o que não é, foi o subterfúgio encontrado. Além disso, se não permitisse ao agente laranja que cantasse vitória, talvez não houvesse acordo. Diria que essa "permissão" foi uma estratégia "à mineira". A ver, pois só o tempo dirá. Aqui no Brasil, ao que parece, está faltando a tal "cabeça fria"...

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  16. Peter Janos Wechsler

    A existência da UE foi fruto de uma negociação inédita entre múltiplos parceiros. O sucesso foi estrondoso. Não é um troglodita laranja que vai destruir os estados de bem-estar social. Albion tentou, mas está arrependido.

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  17. Geilson Silva

    Não me entendam mal, mas a expressão da comissária no encontro com o Trump, foi das coisas mais constrangedoras dos tempos recentes.

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  18. Zelis Pereira Furlan

    UE está corretíssima. Livraram se dá Rússia e da China. A China estava inundando o comércio com produtos falsos o que afetou demais a economia.

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    1. Peter Janos Wechsler

      Envio. Do gás por enquanto precisa, mas um novo gasoduto está chegando. Quanto à tecnologia, não me parece que a UE dependa da China.

    2. Ennio Baldur Hammes Schneider

      A UE não se livrou nem da Rússia, pois necessitam do seu gás, e nem da China, pois precisam da sua tecnologia. Preste atenção!

    3. Geilson Silva

      A China é marvadda né? Aqueles zói puxados, sei não.. melhor não arriscar

  19. Edson G P O Silva

    Todos devem se afastar do caos trumpista. Há outros fatores que precisam ser considerados como as guerras contra a Palestina e a Ucrânia, e a disputa entre a economia estadunidense com a chinese. No meio de tudo isso estamos nós, inclusive os apoiadores do "make American great again".

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  20. Wil Leon

    Seu texto foi removido porque infringe as regras de uso do site.

    1. Dalton Matzenbacher Chicon

      Quanta sapiência e poder de argumento. Impressionante.

    2. José Fernando Marques

      Wil, você é bur ro semore ou está descontraído hoje?

  21. Marcos Benassi

    Bingo! Seu Rui, caríssimo, é essa a nova questão hamletiana: "vassalo ou não-vassalo?" Títere ou independente? Acabo de comentar isso em coluna de seu colega Vinícius Freire: vamos adiante, façamos o mundo rodar. O mundo não precisa ser a contraparte dependente do casal enlouquecido, com um marido neurótico e autoritário. Olhemo-nos, conversemos, compreendamo-nos, colaboremos. Claro que não é fácil, a Europa mesma é/foi colonialista, terá de mudar. Mas esse "marido" louco, já deu, chega.

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    1. ANTONIO AUGUSTO GARCIA DE FREITAS

      Boa. As coisas mudam. Quem quiser ver isso - concordo com o longo prazo, até porque o marido louco dos EUA acha que conseguirá barrar isso. Todos sabem da sua insanidade e da impossibilidade ( a longo prazo) de ele ter alguma vitória. A não ser , é claro, os disponibilizadores de B, que são todos os bolsonaristas daqui. Mas aí já eh caso de paixão sexual, eles adoram disponibilzar a B e lamber as botas do marido laranja.

  22. José Cardoso

    Por outro lado, o mercado americano é grande demais, e o Trump é um senhor de 80 anos que pode se tornar um pato manco daqui a pouco mais de um ano. Vale a pena continuar enrolando a coisa enquanto isso.

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    1. Luiz Candido Borges

      Não conte que o Trump pretenda fazer uma carreira política normal, ele nunca se tornará um pato manco: dentro três anos ele será o candidato mais forte para reeleição (não pode mais? Poderá...) ou o autor de um golpe "nos braços do povo". Um Bozo com grandes chances de conseguir seu intuito. A grande Democracia Americana? Se está fosse real, o Trump estaria na cadeia...

    2. Dalton Matzenbacher Chicon

      Concordo.